segunda-feira, 27 de abril de 2009

FOTOMATON

(Cristóvão em Fotomaton - foto de Chico Nogueira)


Fotomaton tem direção cênica bem desenhada e alguns recursos visuais que dão acabamento à interpretação de Cristóvão de Oliveira. O ator representa o personagem título e mais algumas pessoas da sua família como a mãe, o pai, um tio Gay e uma prima que vive fora do país. No conjunto, é uma boa interpretação, porém os personagens femininos têm força maior quanto à interpretação. Atribuo esse critério de valor pelo fato de terem sido construídos como caricaturas. São cômicos e mesmo nas entrelinhas do texto eles instauram pausas dramáticas que ganham a platéia e contrastam com o tom sério e mais linear dos personagens masculinos.
A plasticidade é garantida pelo cenário bem executado que, somado á iluminação bem desenhada e também bem operada, dá ao espetáculo o movimento que rompe com qualquer possibilidade de monotonia.
A direção é assinada por Max Reinert, o cenário e os adereços por Alfredo Gomes, a iluminação por Bruno Girello, o figurino pelo próprio Cristóvão de Oliveira e a trilha sonora por Chico Nogueira que faz sempre boas escolhas e sempre acerta no tom.
O texto é do autor venezuelano Gustavo Ott e é inédito no Brasil. O monólogo apresenta um conflito familiar e caótico, sob o ponto de vista de um homem que morreu vítima da indiferença e insensibilidade de seus parentes.
Fotomaton foi um dos projetos contemplados pelo edital de ocupação do Teatro Novelas Curitibanas da Fundação Cultural de Curitiba neste ano de 2009 e é uma boa opção que pode ser vista até o dia 17 de maio. Maiores informações em
http://www.fotomatoncuritiba.blogspot.com/

segunda-feira, 20 de abril de 2009

MENOS EMERGÊNCIAS


(foto divulgação)

A Pausa Companhia surgiu no cenário curitibano em 2004 e é formada pelos atores Andrea Obrecht, Gabriel Gorosito, Pablito Kucarz, Renata Hardy e Rodrigo Ferrarini. Tem como proposta montar diferentes espetáculos com diretores convidados.
Menos Emergências tem texto de Martin Crimp e direção de Márcio Mattana.
Fui conferir, no último dia da temporada. Já tinha visto a primeira montagem e acabei gostando mais agora. O elenco está mais afinado, talvez mais acostumado, pois, se não me engano, essa foi a terceira temporada de apresentações. A atriz Cristiane de Macedo foi convidada para fazer uma substituição e, como sempre, estava muito bem em cena. Andréa Obrecht e Renata Hardy estão viajando.
O espetáculo mais visto da Pausa foi Aperitivos (2005), também dirigido por Márcio Mattana, porém vejo Menos Emergências como o trabalho mais consistente da companhia. Sua estréia aconteceu em 2007 no Teatro Novelas Curitibanas. Foi construído com pouquíssimos recursos cênicos. O elemento principal do espetáculo é o jogo dos atores com as palavras. Os atores contam três histórias e trazem no desenrolar dos acontecimentos um subtexto na interpretação que os acusa a uma proximidade com as personagens descritas. Sejam como contadores de histórias, personagens ou autores do texto que se desenrola diante da platéia, o que fica para nós é o jogo da cena. É bacana de ver porque é bem feito e nos prende a atenção.
Enfim, a temporada acabou, mas fica o registro de um trabalho sério e bem feito que, entre erros e acertos, faz da Pausa Companhia um grupo que a cada ano vem firmando na cena contemporânea.
Sucesso e vida longa ao trabalho da Pausa.

domingo, 5 de abril de 2009

PAPO CHATO: Quem foi ao teatro hoje? Não me diga o que achou do espetáculo, prefiro não ouvir.



Às vezes, a ficha demora a cair. Caiu.
Durante a edição 2009 do Festival de Curitiba constatei um fenômeno que não gostei. O teatro em Curitiba passa por uma crise de ordem ideológica e moral. Acho ainda que essa crise sempre existiu, eu que demorei a perceber.
Enquanto um movimento de grupo tenta fincar raízes em nome de um coletivo ideológico, muitos representantes da classe teatral curitibana demoram a entender o que isso realmente significa. Há também entre os participantes do Movimento algumas pessoas que infelizmente agem de acordo com minha constatação.
O que quero dizer, na verdade, é que existe uma engrenagem que, inconscientemente, tenta impedir que o teatro curitibano voe sempre mais alto. Mais claramente, quero dizer que, sem generalizações, cada artista ou grupo fecha-se na sua linguagem artística eleita e, impetuosamente, critica tudo aquilo que não se encaixa dentro do seu ideal artístico.
Já falei muitas vezes que, apesar das minhas preferências de estética e linguagem cênica, não tenho preconceito com trabalhos diferentes aos que eu elejo como os mais interessantes do momento segundo o meu próprio gosto. Quero dizer com isso que, como público, consigo admirar um trabalho totalmente diferente daquilo que eu estou disposto a fazer. Portanto, consigo gostar tanto de um espetáculo fincado no trabalho de pesquisa teatral contínua, ditos contemporâneos, como de um espetáculo construído segundo os princípios clássicos, que partem de um texto dramático pronto, com construção de personagem, etc. Mais do que gostar de estilos diferentes, consigo recomendar esses trabalhos para outras pessoas, valorizar as diferenças e entender que elas são extremamente importantes para o desenvolvimento e divulgação da arte teatral. O que elejo como condição necessária para que eu possa apreciar um determinado trabalho é a qualidade. E qualidade pode-se encontrar em qualquer um dos trabalhos descritos acima. Tanto posso admirar um ator que constrói maravilhosamente bem um personagem e o representa melhor ainda que sua construção, como posso também admirar o trabalho de um ator que se esforça para estar no palco apenas sob a manifestação de um estado espetacular seu ou de uma persona escolhida. São coisas bem diferentes e tanto uma quanto a outra podem ser extremamente interessantes.



Indo direto ao assunto, depois de voltas e cuidados, não suporto mais o papo chato dos profissionais que criticam um trabalho que foge ao que eles escolheram para fazer. Mais especificamente, ouvi tantas críticas no Festival a trabalhos alheios que me pareceram mais como despeito do que avaliação. Principalmente os que vieram de pessoas cujos trabalhos eu já estou cansado de conhecer e sei que não são superiores as críticas que fizeram. Não vou citar nomes, claro, não sou tão desbocado assim.
Contudo, fico pensando o que a classe realmente quer? Incentivar a divulgação e a permanência do teatro na nossa sociedade ou travar disputas ridículas que só enfraquecem a arte que todos nós escolhemos para viver? Alguém arrisca a responder?
Não vou mais ficar perguntando o que essas pessoas acharam dos espetáculos que vimos. Não quero me aborrecer. Nem eu e nem ninguém é tão bom e importante assim para menosprezar um trabalho que, muitas vezes, já foi mais do que provado pela opinião pública que é bom. O melhor teatro é aquele que é feito para o público, entendendo o público como um coletivo formado por pessoas provenientes das mais diferentes áreas, repertórios e atuações. Vamos nos colocar nos nossos limitados lugares do singular. Cada um de nós é apenas um. Isolados, não temos tanta importância assim.
Reclama-se também da falta de um público disposto a ir ao teatro. Alto lá! Todos nós sabemos que as comédias feitas na cidade, os espetáculos comerciais, estão cada vez com as salas mais cheias. Daí, concluí-se que o teatro que é feito para o público leigo, público-público, sempre teve seu lugar garantido, agora os espetáculos realizados para platéias menores, formadas principalmente pelos próprios artistas, são sempre apresentados para uma platéia menor ainda do que a desejada na sua idealização.


Conclusão da conclusão: os próprios artistas que reclamam a falta de público não são também público dos espetáculos de outras companhias. A classe teatral curitibana não vê os espetáculos que são produzidos aqui, não pagam para ver as produções locais, só vêem aqueles espetáculos em que estão na lista de convidados ou aqueles que ganharam convite para ver e, que muitas vezes, nem assim vêem. É um comportamento contraditório ao nosso próprio discurso. Disso, pelo menos, ninguém poderá me acusar, vejo quase tudo. Tanto que decidi também escrever, a partir de agora, sobre os que me agradam. Não vou falar sobre aqueles que não gosto, não quero enfileirar inimigos e também não estou disposto a destilar o meu veneno gratuitamente. Quero, única e exclusivamente, promover o teatro. Se precisamos e queremos ter platéia, temos, antes de tudo, que engrossar também nossas filas.
Aos antenados de plantão, justifico-me que as críticas sempre foram bem quistas na produção teatral, mas que elas existam com fundamento e não apenas como uma opinião banal sobre um determinado trabalho. Não me apresentei no Festival 2009, não estou defendendo nenhum trabalho desenvolvido por mim, que isso fique claro, estou defendendo o trabalho de profissionais sérios e competentes, que tem tanto o direito de se mostrar, quanto a necessidade de promover a permanência do teatro na contemporaneidade.
Curitiba tem inúmeras produções bem realizadas e de qualidade, eu vou ao teatro, eu vejo o trabalho dos diretores, atores e companhias. Eu posso dizer isso. Não tentem me convencer do contrário. É por isso que escolhi Curitiba para a minha vida, adoro a cidade, adoro as pessoas daqui e adoro assistir o teatro sério e bem feito que é produzido aqui.
O teatro, apesar de ter sempre querido muito pouco, pode e deve fazer com que as pessoas escolham que sair de casa para ir ao teatro, pode ser tão prazeroso quanto um bom filme acompanhado de pipoca embaixo do edredom.
Estou ácido.
Porém, sou artista.
E você?

quarta-feira, 1 de abril de 2009

PAÇO DA LIBERDADE



(O Palácio da Liberdade no centro da praça Generoso Marques - foto divulgação)

Permita-se um momento de contemplação. Surpreenda-se. Suba a rua Barão do Rio Branco em direção a Rua Riachuelo. Permita que seu coração bata mais forte ao, durante a noite, avistar do seu lado direito, na praça Generoso Marques, a grandiosidade e beleza do Palácio da Liberdade, recém inaugurado no último domingo, dia 29 de Março.
Não há quem passe impune a tamanho prazer estético. O prédio, iluminado, se impõe aos nossos olhares acostumados com a paisagem central curitibana. É relamente lindo. Vale a pena!
Estive presente na noite de inauguração e pude emocionar-me ao entrar no prédio restaurado depois de tanto tempo fechado em obras.


(A torre principal no período final de restauração - foto divulgação)

SOBRE OS TEMPOS

Inaugurado em fevereiro de 1916, na atual Praça Generoso Marques, o antigo Paço Municipal foi construído para ser a primeira sede própria da prefeitura. Projetado pelo então prefeito Cândido de Abreu, com colaboração do escultor Roberto Lacombe, o Paço substituiu o mercado que havia ali.
A prefeitura permaneceu no prédio até 1969. Cinco anos mais tarde, um convênio firmado entre o Estado e o Município permitiu que ele se tornasse sede do Museu Paranaense, até 2002.
O prédio é um dos mais importantes monumentos da cidade, com linhas arquitetônicas que se enquadram no ecletismo – mistura de tendências arquitetônicas de períodos diversos da história e que começou a se disseminar em Curitiba no final do século XIX –, com predominância do Art Nouveau, estilo marcado pela decoração elaborada e formas curvilíneas ou sinuosas, presentes nos portões de ferro da entrada principal, na marquise voltada para a Praça Tiradentes e nas esquadrias de madeira.


(detalhe da arquitetura exterior do prédio - foto divulgação)


Decorando seu interior, foram colocadas portas de imbuia, uma bela escadaria e um elevador vindo da Europa, o primeiro de Curitiba. Na fachada, estátuas, armas e brasão do município traduzem o poder político de que foi sede.
O antigo prédio abrigou o gabinete de 42 prefeitos de Curitiba e historiadores atestam que o edifício já passou por pelo menos três reformas.
Os restauradores revelam, por meio do trabalho de prospecção – pela decapagem de pequenas janelas nas paredes –, que algumas já foram pintadas pelo menos onze vezes.
A construção é um marco histórico referendado por entidades que colaboraram com o projeto Arqueologia da Memória, iniciativa da Fundação Cultural de Curitiba com apoio do Ministério da Cultura, do Instituto de Preservação da Memória, do Programa Monumenta e da UNESCO que proporcionou estratégias de revitalização urbana por meio da mobilização, colaboração e participação criativa dos habitantes, tendo como ponto de convergência o Centro Histórico e suas articulações reais e simbólicas com o imaginário social.
Construído de 1914 a 1916, o Paço é o único prédio curitibano com tombamento nas três instâncias: municipal, estadual e federal. Ao ser tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional, ganhou o nome de Paço da Liberdade. Cerca de 80 restauradores, operários e técnicos trabalham para colocar em prática as duas etapas do projeto: o restauro (seguindo as mesmas técnicas da época em que foi construído) e a reciclagem (reformas de construção civil) do prédio.
São 2.205,70 metros quadrados de área construída. A restauração começou em junho de 2008 e a finalização das obras ocorreu no final do mês de março de 2009.


(escultura ao lado da entrada principal - foto divulgação)



Renovado, porém sem perder o aspecto de prédio antigo, o Paço da Liberdade foi minuciosamente restaurado com o cuidado de manter-se fiel à sua aparência original. Foram reutilizados todos os materiais originais que ainda estavam em boas condições e apenas o que realmente não tinha condições de ser reaproveitado foi substituído.
O prédio dividirá seus espaços em salas para leitura, que disponibilizará aos visitantes, livraria, biblioteca e um espaço de internet livre; um espaço para música com um estúdio de gravação para bandas paranaenses pelo projeto Inventário Cultural, café com piano, uma sala de atos para apresentações musicais e teatrais que sejam adaptáveis a um palco pequeno; salas e audiovisual com um estúdio de arte eletrônica para criação
e edição de som e vídeo, além de instalações, sala de exibição de vídeos não-comerciais, para mostras paralelas e produções paranaenses. Haverá também salas de exposições ocupando todo o primeiro andar, disposta a abrigar manifestações convencionais e novas mídias. Além de uma sala de atos, que poderá ser ocupada por monólogos e pequenas montagens, o espaço atrairá, por meio de editais, peças de rua para a praça em frente. A intenção é também concentrar no Paço, cursos nas áreas de artes e comunicação.





(detalhes dos relevos arquitetônicos - foto divulgação)


Maiores informações: http://www.sescpr.com.br/eventos/pacodaliberdade/index.html