quarta-feira, 26 de agosto de 2009

OBRAGEM EM DOSE DUPLA

(MMM - A MONTANHA DO MEIO DO MUNDO - foto de Luana Navarro)

A Obragem Teatro e Cia apresenta dois espetáculos no mês de setembro.
O espetáculo para crianças MMM – A MONTANHA DO MEIO DO MUNDO foi selecionado para o 13º. Fenatib (Festival nacional de Teatro Infantil) e fará três apresentações na cidade de Blumenau/ SC. A data de estréia é no dia 12 de Setembro.
MMM teve sua pré-estréia no dia 03 de julho de 2009 no teatro da Caixa em Curitiba e provavelmente ainda voltará em cartaz nos palcos da cidade até o final de 2009. Trata-se de um espetáculo composto por situações da vida de uma menina chamada MMM, uma aventura repleta de descobertas acompanhada por seus amigos MÓ, MI e MU. Juntos, eles encontram no símbolo da montanha uma maneira de vencer os obstáculos. Basicamente, quase todo o roteiro é construído por ações físicas e pouquíssimo texto. Uma narrativa onde a dramaturgia ganha maior expressão a partir da combinação de animações 2D e seqüências coreográficas dos quatro atores que construíram personagens inspirados na linguagem do universo infantil e nas obras do artista Fernando Botero.

(Em cena: Elenize Desgeniski, Fernando de Proença, Eduardo Giacomini e Paulo Vinícius - Foto de Luana Navarro)

No elenco estão Eduardo Giacomini, Elenize Dezgeniski, Fernando de Proença e eu. O texto e a direção são de Olga Nenevê e Eduardo Giacomini. A sonoplastia é de Edith de Camargo. As animações em vídeo são de Marlon de Toledo sobre os desenhos de Olga Nenevê. Quem assina a Luz é Luiz Nobre e quem a opera é Vanessa Vieira. O design gráfico é de Alessandra Nenevê. O cenário e o figurino são também do Eduardo.
Como ator pude acompanhar todo o processo criativo do espetáculo e, além de indicar, posso também dizer que o espetáculo é uma deliciosa aventura recheada de pura poesia visual e sonora.
A animação da abertura do espetáculo pode ser vista no endereço http://www.youtube.com/watch?v=0EgepccEDMs



(O INVENTÁRIO DE NADA BENJAMIN - foto divulgação de Elenize Dezgeniski)
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A segunda novidade é a estreia do espetáculo adulto O INVENTÁRIO DE NADA BENJAMIN no teatro Novelas Curitibanas no dia 17 de Setembro. Não vi nenhum ensaio, preferí a surpresa, mas segundo Fernando de Poença, assessor de imprensa da companhia, é um drama contemporâneo, com influências cinematográficas e das artes visuais. É a história de um tempestuoso triângulo formado por Martíria (Olga Nenevê) e seus dois filhos, Gabriel (Fernando de Proença) e Rafael (Eduardo Giacomini). Os três personagens estão juntos para os trâmites do inventário de Nada Benjamin. A situação de luto é dolorosa para os três personagens, que ao organizarem a distribuição de pequenos objetos experimentam conflitos e estados de grande emoção. As memórias acabam por desencadear pequenas batalhas entre os irmãos que lutam para estabelecer territórios. Ao demarcarem suas fronteiras, os irmãos criam um ambiente de tensão onde os sentimentos se misturam.O texto é resultado de uma pesquisa de dramaturgia textual original, que busca acentuar a relação entre a palavra e a fala, por meio de deslocamentos, movimentos e estudos da estrutura das palavras, com o intuito de revelar novas possibilidades de interpretação. As possibilidades de corporalidade do texto teatral são transformadas em imagens sonoras. A reflexão sobre o Tempo e sobre a mobilidade das coisas é apresentada a partir do processo relacional de uma família desestruturada pela morte da figura paterna. A narrativa do trabalho mistura o presente e o passado, por meio do deslocamento das ações no tempo, o que faz os personagens re-avaliarem suas visões de mundo”.



(Fernando , Olga e Eduardo - Divulgação - foto de Elenize Dezgeniski)


O espetáculo ficará em cartaz até o dia 18 de Outubro com sessões de quinta à sábado às 21h e aos domingos às 19h. Como fã e seguidor da Obragem desde 2004, aguardo ansioso pela estréia e chamo a atenção para todos que também gostam de teatro contemporâneo e apreciam grupos que desenvolvem uma pesquisa séria de linguagem cênica.
A gente se encontra lá.

A EFÊMERA ARTE INDOCUMENTÁVEL *

(Um instante poético de uma cena do espetáculo Recreio Pingue - pongue do diretor curitibano Márcio Mattana que esteve em cartaz no teatro Cleon Jaques em Curitiba - Foto de Ale Haro)



Fico pensando no sentido efêmero de um espetáculo, na sua duração enquanto obra de arte e de qual o melhor registro que dele fazemos para documentar a sua existência. Ao contrário da literatura que é eternizada nos livros e que estará disponível enquanto durar suas edições, de um filme que pode ser exibido milhares de vezes ou de um objeto, escultura ou pintura, que poderá ser visto nas inúmeras galerias e museus, um espetáculo é sempre passageiro e por mais que filmemos, fotografemos ou relatemos todo o seu processo de criação e de construção, nenhuma dessas linguagens dá conta de traduzir o que realmente foi o evento teatral, pois, essencialmente o teatro só existe no aqui e agora, ou seja, enquanto dura um espetáculo.
Uma filmagem não traduz uma pausa dramática, por exemplo, não relata o volume e a atmosfera criados pela luz, não diz quase nada a respeito do som das palavras. Por isso, prefiro a fotografia que, apesar de estática e de captar apenas um instante da cena, a meu ver, reflete mais o tempo e o espaço teatral do que o vídeo.
É verdade também que muitas vezes uma fotografia pode pintar uma cena melhor ou pior do que ela foi - tudo depende da técnica e do olhar treinado do fotógrafo. Por sua vez, os melhores fotógrafos são aqueles já acostumados com o fazer teatral, porque são íntimos do tempo e do espaço da cena, são acostumados com o efeito da luz, com o corpo do ator.
Como artistas, sabemos também que nenhuma apresentação é igual à outra e que sempre há a melhor dentro de uma temporada. Essa só é válida para quem esteve presente nessa sessão. Pensando nisso, é uma pena que a emoção e a vibração sentidas no corpo do espectador ao assistir um espetáculo sejam perecíveis e, por mais duradora que seja nossa memória, a exteriorização dessa emoção também não nos vale de um arquivo.
Ainda assim, vale a pena tanto esforço e paixão. Ainda assim, vale a pena todos os dias e noites de preparação e construção de um espetáculo. Afinal, qual registro documental poderia ser mais significativo que o espaço temporal correspondente entre o terceiro sinal e os aplausos do público?


* Texto especialmente escrito para a revista Luz & Cena - Ano XI - julho de 2009 - No. 120