domingo, 29 de novembro de 2009

MANSON SUPERSTAR


A companhia curitibana Vigor Mortis encerra as atividades em 2009 com mais uma grande produção. Trata-se da estréia de MANSON SUPERSTAR, resultado do edital de ocupação do Teatro Novelas Curitibanas, uma iniciativa da Fundação Cultural de Curitiba. A companhia, liderada por Paulo Biscaia Filho, mostra no palco do Novelas o resultado de como a boa organização e administração de um projeto pode valer o dinheiro público investido na arte. MANSON é um espetáculo musical formado por oito atores no elenco e mais uma equipe de dez pessoas revelando ao público como o teatro pode se apropriar da linguagem documentária de forma rica e brilhante. Tudo é preciso e bem executado. Como causa, só posso identificar o encontro de uma equipe muito competente, dirigida por alguém que sabe muito o que quer.



O ESPETÁCULO E O PROCESSO
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MANSON SUPERSTAR é um espetáculo diferente de tudo o que já foi produzido pela Vigor Mortis. O fato de ser um espetáculo teatral que seria também, ao mesmo tempo, documentário e musical, impulsionou o diretor, desde a concepção do projeto, a se aventurar por um terreno desconhecido até então do seu processo de criação. Paulo Biscaia queria buscar uma nova fórmula para este espetáculo e acordou com toda equipe que andaríamos por lugares desconfortáveis até que um solo seguro fosse encontrado. Biscaia sabia o que queria, mas, no começo de tudo, nem ele sabia ao certo onde e quando pararíamos para respirar tranqüilos.
Depois de muitas reuniões, muitas pesquisas e acesso à um grande material que documentou a história dos crimes de assassinatos liderados por Charles Manson no final da década de 60, o elenco, sempre acompanhado pela equipe de criação, foi para a sala de ensaios diários apenas com um roteiro de cenas e uma sugestão de canção para cada cena que seria desenvolvida. Ao final da segunda semana uma nova estética já tinha sido apontada e guiaria também a concepção final do cenário, do figurino, da luz e da direção musical.
Entre achados e perdidos, várias propostas foram substituídas, abandonadas, invertidas, superadas e reencontradas ao longo do processo. A preocupação com o público, característica fundamental no trabalho da companhia, mais uma vez esteve presente durante todo o percurso desenvolvido.
É um novo espetáculo, com uma nova pegada na concepção, na dramaturgia, na direção e no acabamento estético, porém a qualidade e a criatividade, características básicas da Vigor Mortis, continuam impressas na encenação de MANSON SUPERSTAR por Paulo Biscaia.
Para mim, foi novamente um grande prazer estar na companhia, participar de todo o processo, assinar o cenário e os figurinos, conviver com uma equipe e um elenco sempre tão competente, queridos, disponíveis e generosos. Obrigado a todos. Obrigado a fada madrinha Tânia Araujo. Obrigado ao querido mestre Paulo Biscaia.
MANSON SUPERSTAR é um espetáculo lindo e forte. Tenso e pesado. Mesmo depois de ver vários ensaios e apresentações continuo me arrepiando e me emocionando com as cenas. Falar mais sobre ele seria censurar o público do prazer ao se surprender com as novidades.
Não percam!

MANSON SUPERSTAR fica em cartaz até o dia 20 de Dezembro no teatro Novelas Curitibanas -De quinta a Sexta as 21h e Domingos as 19h – Apropriado para maiores de 18 anos – Ingresso: Uma lata de leite em pó.

FICHA TÉCNICA:
Direção, roteiro e sonoplastia:
Paulo Biscaia Filho / Elenco: Andrew knoll, Leandro Daniel Colombo, Carolina Fauquemont, Wagner Correa, Michelle Pucci, Marco Novack, Rafaela marques e Ana Clara Fischer. / Cenografia e Figurino: Paulo Vinícius / Direção Musical: Gilson Fukushima / Iluminação: Wagner Correa / Produção: Tânia Araujo / Operação de som e adereços: Thiago Di Giovanni / Operação de luz: Erica Mityco e Viviane Mortean / Cenotécnico: Alfredo Gomes / Projeto gráfico e ilustração: José Aguiar


FATOS HISTÓRICOS QUE COSTURAM O ESPETÁCULO



1966
- Charles Manson é transferido para a prisão de Terminal Island. Ele já tinha passado mais da metade de seus 32 anos na cadeia.
- Susan Atkins era uma garota que saiu de casa e foi trabalhar como dançarina topless em uma revista musical satânica conduzida por Anton Lavey, o Papa do satanismo.
- Roman Polanski inicia uma relação com Sharon Tate durante as filmagens de "Dança dos Vampiros". Depois de ter iniciado o romance, Sharon termina com seu namorado, Jay Sebring, um famoso cabeleireiro de Hollywood.
-Leslie Van Houten é eleita Rainha da Escola em Altadena na Califórnia.
- Patrícia Krenwinkel abandona o Colégio Jesuíta no Albama e foge para a Califórnia.
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1967
-Charles Manson é liberado da prisão contra a sua vontade.
-Roman Polanski começa as filmagens de "O bebê de Rosemary" após casar com Sharon Tate.
- Manson chega a São Francisco e, no auge do Verão do Amor, começa a fazer amigos em Haight-Ashbury. Seu carisma começa a reunir dezenas de jovens, entre eles Susan, Leslie, Patrícia e Tax Watson, um ex aluno modelo e ex jogador de futebol americano amador.
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1968
- O bebê de Rosemary é lançado nos cinemas.
- Jay Sebring se aproxima como amigo da família de Polanski, apenas para poder ficar próximo a Sharon.
- Manson estabelece sua "família" no Rancho Spahn, um antigo cenário de filmes de faroeste no Vale da Morte.
- O White Álbum dos Beatles é lançado.
- Manson faz amizade com um integrante dos Beach Boys e através dele faz uma gravação e contatos com produtores musicais.
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1969
- Sharon Tate conta a Polanski sobre sua gravidez. Ele não queria ter filhos, mas com o tempo aceitou.
- Manson não recebe resposta do produtor musical Terry Melcher. Com o constante assédio de Manson, Melcher decide se mudar e aluga sua casa no endereço 10050 Cielo Drive para a família de Polanski.
- Manson ouve o White álbum dos Beatles e acredita que a faixa Helter Skelter é uma profecia apocalíptica sobre a guerra racial e que a "família" será a governante após as batalhas.
- No dia 9 de Agosto de 1969, Roman estava em Londres preparando seu próximo filme. Sharon estava em casa com Jay e outros amigos que lhe faziam companhia. Tex, Susan e Patrícia invadem a casa dos Polanski no meio da noite e matam todos ali. Sharon estava grávida de oito meses e meio. Susan usa o sangue de Sharon para escrever na porta da casa "Pig".
- Dois dias depois, Patrícia, Leslie e Tex invadem a casa do empresário Leno La Bianca e matam ele e a mulher com mais de 100 facadas. Na parede, Patrícia usa o sangue das vítimas para escrever "Helter Skelter".
- Manson declarou assim o início do Helter Skelter.
- Meses depois, a família é presa por roubo de carros e na cadeia Susan confessa a uma colega de cela sobre a morte de Sharon.
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1970
- O julgamento de Manson, Susan, Patrícia, Leslie e Tex se transforma em circo de mídia. Ao final do julgamento, todos são condenados a morte, mas antes de sua execução, a Lei na Califórnia muda e suas sentenças são alteradas para prisão perpétua.
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2009
- Roman Polanski é detido na Suíça por um crime cometido em 1978 nos EUA. Ele havia mantido relações sexuais com uma garota de 13 anos. Antes da decisão do Juiz, Polanski foge para a França onde passa a morar por mais de 30 anos. neste momento, Polanski aguarda decisão sobre a extradição e prisão.
- Em 24 de Setembro, Susan Atkins morre na prisão em consequência de um tumor no cérebro.
- Manson, Krenwinkel, Watson e Houten ainda estão detidos.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O DISCURSO DA CENOGRAFIA

(Projeto de Adolph Appia para cenário - foto divulgação)

O discurso da cenografia se impõe hoje, cada vez mais, ao negar a idéia de decoração, ou seja, a cenografia ao ultrapassar a função simplista de ornamentação cênica, têm se apresentado muito mais próxima à idéia de necessidade, prática ou plástica, para a composição da cena teatral.
Esta abordagem não é uma invenção da cena contemporânea, ao contrário, já foi anunciada desde os tempos de Adolph Appia (1862- 1928) e Edward Gorgon Craig (1872-1966) que valorizaram a tridimensionalidade da cena e se afastaram dos painéis bidimensionais criados pelos pintores que, na maioria das encenações, desenvolviam os cenários até então. Appia foi um divisor de águas na história da cenografia. Ele profetizou o palco moderno. Para ele, a organização do espaço fechado do palco é sempre tridimensional. Craig também se opôs ao cenário bidimensional. Ele compartilhava das idéias de Appia e, por ter realizado vários trabalhos, suas idéias foram mais difundidas.
A cenografia é um dos elementos cênicos que compõem o espetáculo. Não é uma arte independente, como tudo no teatro, deve estar de acordo, dialogar, com todos os outros elementos: o ator, a dramaturgia, a direção, a luz, a sonoplastia, o figurino, a maquiagem, etc. A cenografia, junto com o figurino e a iluminação, são os elementos que, principalmente, definem a estética do espetáculo, ou seja, a plasticidade da cena.
O teatro é uma arte, essencialmente, desenvolvida em grupo, portanto, o cenário também deve ser criado e desenvolvido pelo cenógrafo em total parceria com a equipe de criação, formada principalmente pelo diretor, iluminador e o figurinista. É o principal recurso cênico responsável para definir o ONDE do espetáculo, ou seja, é o cenário quem materializa o lugar da ação. Ele deve estar em total acordo com a linguagem do espetáculo, seja ela realista, simbólica, impressionista, surrealista ou contemporânea.

(Projeto de Gorgon Craig para cenário - foto divulgação)

O cenário está muito mais para a escultura e para a arquitetura do que para a pintura. A pintura é, por sua vez, apenas uma das artes utilizadas pelo cenógrafo na tentativa de criar o espaço tridimensional onde se dará o jogo dos atores que também são tridimensionais e estão em constante movimento.
A iluminação é uma das principais aliadas da cenografia. Pode ser inclusive o principal elemento que dará corpo e volume para a plasticidade do espetáculo. Na contemporaneidade existem inúmeras criações onde os efeitos causados pela luz constituem a própria cenografia.
A cenografia, como qualquer outro elemento cênico, é signo, ou seja, é informação visual, capaz de provocar uma leitura ao espectador antes mesmo de qualquer palavra ser pronunciada. Dessa forma, a cenografia deve ser criada levando em consideração que ela deverá “falar” a mesma língua que o texto, o figurino, a direção, etc.
Hoje também trabalhamos com outros conceitos aplicados á cenografia. O de Ambientação cênica é um exemplo. A cenografia é a composição resultante de um conjunto de cores, luz, forma, linhas e volumes, equilibrados e harmônicos em seu todo, e que criam movimentos, lugares e contrastes. Desta forma, o cenógrafo, como qualquer outro programador visual, deve dominar os elementos da linguagem visual para estabelecer a qualidade do seu discurso.