Abaixo transcrevo a minha entrevista feita pelo jornalista Diogo Woiczack sobre o espetáculo MENTIRA! para o site Curitiba Cultura. Para ver a postagem original é só clicar no link: http://www.curitibacultura.com.br/noticias/entrevista-com-o-diretor-paulo-vinicius
"Esta semana é a última da temporada do espetáculo Mentira! , no Teatro Cena Hum. A peça é dirigida por Paulo Vinícius, que também fez o figurino e o cenário, além da adptação do texto homônimo de Alexandre França. Para saber mais sobre essa personalidade de múltiplas funções – e também para saber mais sobre as multi-linguagens de Mentira! - entrevistamos Paulo Vinícius:
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CuritibaCultura: Quando vc chegou em Curitiba (Paulo Vinícius é de Bauru-SP)?
Paulo Vinícius: Cheguei no final de 2004.
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CC: E qual era o teu envolvimento com o teatro?
Paulo: Com a cena daqui nenhum. Eu tinha duas vontades: uma era morar em Curitiba e fazer uma graduação em artes cênicas (eu só tinha graduação em filosofia). Sempre trabalhei com Teatro, mas minha formação era autodidata , intuitiva – não tinha uma formação acadêmica. Então vim pro vestibular e já fiquei. Antes da prova fui conhecer o trabalho das pessoas e os espaços. Fui conhecendo o trabalho de todo mundo, observando, classificando, vendo os aspectos que admirava ou que passei a admirar... Trabalho com muitos desses diretores hoje, o que para mim é muito gratificante...
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CC: Eu gostaria de saber: Vc começou como ator e depois foi desenvolvendo essas outras funções?
Paulo: Quando comecei no teatro não era profissional apesar de encarar como, em 1990, em Bauru. Dirigi meu primeiro espetáculo em 1990. Só que aí eu comecei a fazer tudo junto, porque como tava surgindo eu quis fazer o figurino e tive que fazer o cenário, por necessidade... mas também por vontade, porque eu gostava e sentia que aquilo eu podia fazer. Daí segui trabalhando com filosofia, com moda, com carnaval e o teatro junto. Eu não sobrevivia de teatro, mas nunca deixei de fazer teatro. Na faculdade eu fiz curso de interpretação - na FAP (Faculdade de Artes do Paraná) - e todo o trabalho eu sempre me preocupava com a encenação, com estética, figurino, cenário, com o trabalho de uma forma geral. Como eu já tinha outros trabalhos como figurinista, fui trabalhando e formatando meu portfólio. O pessoal foi gostando e me chamando. Mas assim como eu faço figurino e cenário, eu também atuo, eu também dirijo. Tudo no teatro me interessa. Algumas coisas eu não faço porque não sei fazer, como iluminação, que tenho noção, mas não conhecimento técnico.
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CC: O que entendi é que você acumula todas essa funções por uma questão de que pra vc é natural, pois desde o início trabalhou assim. Então em decorrência desses convites, para fazer cenário e figurino, que surgiu a Figurino e Cena?
Paulo: Na verdade a Figurino e Cena começou antes mesmo de eu vir para Curitiba. Eu pensei: preciso arranjar uma forma de organizar meu portfólio. Foi aí que surgiu a proposta de uma marca, que é a Figurino e Cena. Que, sobretudo, remete a essa coisa de figurinista, mas que também abrange todas os âmbitos do teatro.
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CC: E como foi com Mentira!?
Paulo: O figurino de Mentira! tinha espaço para uma linguagem que foge do cotidiano, uma coisa mais teatral mesmo. O figurino do Mentira! tem referências da França mas também do Kitsch, do carnavalesco. O Mentira! partiu dessa vontade de trabalhar com a estética pop, com a estética kitsch.
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CC: O que te levou a eleger essas estéticas?
Paulo: Mentira! é um trabalho que parte de um lugar que é plástico, estético. O meu trabalho no teatro é muito ligado a estética. Então surgiu primeiro dessa necessidade. Eu repensei os trabalhos que fiz na intenção de fazer algo diferente – vontade de mudar. Minha primeira ideia era fazer um espetáculo colorido. Pensei com que poderia trabalhar, e eram tantas linguagens que eu queria por... e isso dialogava com algo mais teatral mesmo, entende? Então eu lembrei do Mentira!, texto do (Alexandre) França que eu já conhecia. Então o texto entrou em um segundo momento. E como eu já o conhecia,sabia que, para montar este trabalho, teria que adaptá-lo – a idéia original não caberia. Daí eu falei com o França, pedi autorização, ele topou, autorizou. Eu disse que adaptaria e mandaria para ele, e que quando tivesse algo concreto de cena chamaria ele para ver o ensaio. O texto ele aprovou, só ficou o final em aberto que decidiríamos juntos. Já fui pensando no elenco – essa coisa de fazer tudo – e já fui convidando o pessoal. Quando começamos a trabalhar eu percebi que na estrutura dramatúrgica do texto caberia uma pegada mambembe para o espetáculo – essa coisa de um grupo de atores compondo e interpretando aquela estória.
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CC: E como foi esse processo de montagem?
Paulo: Fui mostrando tudo o que dialogava com o trabalho que íamos fazer: mostrei cores, texturas, estampas, imagens de roupas, sapatos, perucas... A gente foi criando referências comuns para a equipe. Na parte musical fui dando a entender que o espetáculo tinha mais a ver com jingle do que com canção. O cenário tinha necessidade de projeções, porque a dramaturgia tinha um gancho pra isso – ela dizia: ao fundo é projetado um quadro de Jacques Louis David. Então eu teria que ter mais uma parceria, com artistas dessa área. Daí eu lembrei da Paraphernália Produções Artísticas, que estavam trabalhando com curta metragem, animação, e achei que eles iriam contribuir muito com o espetáculo. Com todas essas informações fui observando que o espetáculo era a soma dessas diversas linguagens. E como eu poderia classificar isso? Então pensei no conceito do barroco. Barroco no sentido de que é uma junção de vários elementos, excessivo.
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CC: Ouvindo isso percebo que tudo isso se encaixa na coisa da farsa...
Paulo: Sim, que é uma coisa que o texto trouxe.
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CC: ...por exemplo essa releituras (ex: como acontece nos figurinos), de customizar...
Paulo: isso, uma re-significação. O texto traz isso para a interpretação: Atores interpretando personagens. Queria que a platéia entendesse que aquilo que está acontecendo no palco é uma mentira. Uma coisa meio Brecht , com o ator se dirigindo diretamente para a platéia, fazendo com que essa platéia sinta que aquilo é teatro, uma mentirinha, não uma verdade. Então os atores contam uma estória e interpretam personagens, mas personagens construídos.
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CC: Eles estão interpretando atores?
Paulo: Eles estão interpretando atores e esses atores estão interpretando personagens. O ator num estado performático. E outra coisa que o texto traz é o jogo entre atores, numa relação triádica com a platéia.
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CC: E nesse jogo existe uma improvisação, uma criação por parte do ator?
Paulo: Existe. Mas tentei direcionar essas improvisações para que elas respeitem a dramaturgia. Mas existe sim, o que faz com que cada espetáculo seja diferente do outro, o que está na própria natureza efêmera do teatro. "