(Espetáculo OXIGÊNIO da Cia Brasileira de Teatro - Foto de Ale Haro)
A característica que mais me interessa no
trabalho dos artistas de teatro na contemporaneidade é a autoria. Um trabalho é
efetivamente interessante quando o artista imprime na obra aquilo que realmente
é seu. Para o espectador, um trabalho é autoral quando conseguimos,
principalmente, distingui-lo de tudo aquilo que já vimos em teatro. Quando isso
acontece o prazer já está garantido, e mesmo quando ainda encontramos um trabalho
em processo, que ainda não está maduro, o prazer de ver o universo específico
de cada coletivo vale a experiência teatral.
Mais vale uma criação
em desenvolvimento do que uma reprodução bem acabada. Enquanto espectador, comigo sempre foi assim.
Não que eu não valorize o acabamento, muito pelo contrário, mas só a técnica
bem aplicada não responde ao desejo do homem contemporâneo, tão acostumado com as
tecnologias do dia a dia e já habituado a ver inúmeras novidades nas artes
contemporâneas.
(Espetáculo CIRCO NEGRO da CiaSenhas de Teatro)
O teatro vai
continuar sendo artesanal, diferentemente do cinema que é estruturalmente
tecnológico, sem problemas. Talvez a principal característica de aproximação do
teatro do público seja realmente o humano que existe na construção artística.
Entenda aqui o termo humano como distanciamento do termo tecnológico. Porém, dentro
das suas especificidades técnicas e artísticas, não nos contentamos mais com
repetições de fórmulas antigas de representação. Nós, públicos e artistas,
queremos mais.
Distinguir
um trabalho e diferenciá-lo de tudo o que já vimos, não implica na ausência de
qualquer reconhecimento de referências presentes nele, não é isso que desejamos
ver, principalmente numa época em que quase tudo já foi inventado. A autoria
está na maneira como cada artista devolve ao mundo todas as referências que ele
se apropriou e na forma como ele apresenta suas questões ou conclui suas
indagações.
(Espetáculo LONGE - SOBRE AMOR, SOBRE DISTÂNCIAS do Grupo Obragem - Foto de Elenize Desgeniski)
Enquanto
artistas, precisamos propor um discurso que não seja necessariamente tão
reconhecível aos olhos do público. É importante estimular o estreitamento da
relação espectador X obra de arte. É importante permitir que o espectador
experimente outras camadas, mais abertas ao entendimento, diferentes das
fórmulas tão massificadas no teatro comercial.
A
autoria talvez tenha sido o elemento de maior peso, identificado no trabalho da
Companhia Brasileira de Teatro, dirigida por Marcio Abreu, que hoje tem seus
trabalhos apresentados em várias cidades do Brasil e outros lugares do mundo.
Sem dúvida, o grande sucesso alcançado pela Cia Brasileira está na forma
autoral e criativa com que os trabalhos sempre foram desenvolvidos.
(Espetáculo A MEIA NOITE LEVAREI TEU CADÁVER da Vigor Mortis - Foto de Marco Novack)
Em
Curitiba, desde 2004, ano que me radiquei na cidade, tenho acompanhado o trabalhos
de vários artistas, grupos e companhias. Dentre eles, identifiquei em alguns o
desenvolvimento de uma linguagem teatral autoral, ímpar e particular. É sobre
essas companhias que agora, depois de 08 anos vivendo aqui, quero falar.
A tentativa será de
propor um olhar analítico e sintético ao mesmo tempo. Para tanto, selecionei
dentre todos os coletivos artísticos em atividade por aqui, 03 companhias
maduras, que já percorreram mais de uma década de desenvolvimento e que hoje
representam com muito estilo o melhor teatro produzido em Curitiba. Claro que, de certa forma, meu olhar é também de dentro para fora, uma
vez que também atuei como colaborador nas 03 companhias selecionadas e que,
portanto, também acompanhei boa parte do desenvolvimento dos seus respectivos
discursos.
As
companhias escolhidas para esta análise foram: CiaSenhas de Teatro, dirigida por Sueli Araujo, Grupo Obragem, dirigido por Olga Nenevê
e Vigor Mortis, dirigida por Paulo
Biscaia Filho. Tenho certeza de que o trabalho produzido por estes três grupos,
aliados ao trabalho produzido por outras companhias e diretores de peso e qualidade,
estimulam o desenvolvimento do teatro local bem como a divulgação nacional do
teatro paranaense e de seu reconhecimento.
CiaSenhas
de Teatro
Dirigida por Sueli
Araujo, a CiaSenhas completou 13 anos de trabalhos consecutivos em 2012. Um dos
focos principais é o trabalho do ator-criador, bem como o desenvolvimento de
uma dramaturgia original. O trabalho em grupo e a comunicação com diferentes
plateias, também são praticas desenvolvidas nos trabalhos dentro da companhia.
A pesquisa da CiaSenhas revelou uma forte preocupação com o
desenvolvimento da narrativa cênica. O jogo teatral, a construção do corpo
expressivo e os espaços de relação com a plateias foram elementos presentes trabalhos.
Os trabalhos mais
recentes da companhia foram DELICADAS EMBALAGENS (2008),
HOMEM PIANO – UMA INSTALAÇÃO PARA A MEMÓRIA (2010), CONCERTO PARA RAMEIRINHAS
(2011) e CIRCO NEGRO (2012).
Além da produção de
espetáculos, a CiaSenhas de Teatro dedica-se também ao intercâmbio teatral,
promovendo ações de diálogos entre diferentes artistas do Paraná e de outros
Estrados brasileiros. Também é uma realização da companhia a Mostra Cena Breve – A Linguagem dos Grupos de Teatro, que em 2012
chegou a sua oitava edição.
Os trabalhos que
desenvolvi dentro da companhia foram os cenários para os espetáculos HOMEM
PIANO, CONCERTO PARA RAMEIRINHAS e CIRCO NEGRO.
Grupo
Obragem
Dirigido
por Olga Nenevê, o Grupo Obragem completou 10 anos. As principais referências
da companhia são as artes visuais e a dança contemporânea, além da Literatura e
do Cinema. A autoria foi o elemento presente em todos os trabalhos que vi do
Grupo Obragem, desde 2004.
A
dramaturgia textual própria é outro elemento de muita importância no trabalho
do grupo. Também desenvolvido por Olga Nenevê, o texto é escrito de forma que a
sua estrutura potencialize a emoção e se relacione com o ponto de partida dos trabalhos: o corpo e seus movimentos.
As
imagens são pensadas como elementos de referência e composição para as cenas,
tanto para o corpo dos atores quanto para a construção visual do espetáculo.
Quem assina os figurinos e os cenários dos espetáculos é Eduardo Giacomini, ator, cenógrafo, figurinista e produtor no grupo.
Os
trabalhos recentes foram PASSOS (2008), O INVENTÁRIO DE NADA BENJAMIM (2009),
ZAQUEU (2010), AS TRAMÓIAS DE JOSÉ NA CIDADE LABIRINTICA (2012) e LONGE – SOBRE
O AMOR SOBRE, DISTÂNCIAS (2012).
Além
de espectador frequente dos trabalhos do grupo, em 2009 participei como ator do
espetáculo infantil MMM – A MONTANHA DO MEIO DO MUNDO, um trabalho que, além de
Curitiba, circulou pelos Estados de Santa Catarina e São Paulo.
O
Grupo Obragem, em 2012, inaugurou o seu próprio Espaço em Curitiba. Maiores
informações sobre eles estão em www.grupoobragemdeteatro.com.br
Companhia
Vigor Mortis
Dirigida
por Paulo Biscaia Filho, a Vigor Mortis tem, basicamente, o Grand Guignol (Teatro de horror de
Paris) como foco principal. A companhia adota um gênero específico, utilizando
a violência e o naturalismo como meios narrativos, explícitos na encenação de
Paulo Biscaia. O trabalho da companhia é extremamente autoral, não apenas como
dramaturgia textual, mas também, e principalmente, pela encenação do Paulo, que
mistura o teatro com outras linguagens de identificação, como os quadrinhos, o
cinema e as artes urbanas.
Em
2012 a Companhia completou 15 anos de atividades. Entre os principais
espetáculos estão MORGUE STORY – SANGUE, BAIACU E QUADRINHOS (2004), HITCHCOCK
BLONDE (2008), NERVO CRANIANO ZERO (2009), MANSON SUPERSTAR (2009), SEANCE – AS
ALGÊMAS DE HOUDINI (2011) e A MEIA NOITE LEVAREI TEU CADÁVER (2012).
No
cinema, os filmes produzidos pela Vigor Mortis foram o longa metragem MORGUE
STORY – SANGUE, BAIACU E QUADRINHOS, uma trilogia de curtas baseados em contos
de Edgar Allan Poe chamada NEVERMORE - TRÊS PESADELOS E UM DELÍRIO e o longa
metragem NERVO CRANIANO ZERO.
Além
do teatro e cinema, a companhia também publica livros como os quadrinhos VIGOR
MORTIS COMICS e a coletânea de textos dramatúrgicos PALCOS DE SANGUE, escritos
por Paulo Biscaia Filho.
Na
Vigor Mortis, criei o cenário do espetáculo NERVO CRANIANO ZERO, cenário e
figurino para MANSON SUPERSTAR, cenário e figurino para SEANCE e para A MEIA
NOITE LEVAREI TEU CADÁVER. Também atuei como diretor de arte no longa metragem
NERVO CRANIANO ZERO.