Marcelino de Miranda - Foto de marco Novack |
Já
conhecia o Marcelino de nome, mas a primeira vez que nos falamos foi quando
trabalhamos juntos na peça NERVO CRANIANO ZERO, da Vígor Mortis, em 2009. De lá
pra cá, já nos encontramos em vários trabalhos, almoços, jantares e até já
viajamos juntos. Claro que passamos longos períodos sem nos vermos; eu correndo
de cá e ele de lá. O nosso encontro mais recente foi num café da manhã na sua
casa quando eu o entrevistava para escrever um texto sobre maquiagem artística
aqui no blog. Sempre bem humorado e esbanjando alegria, todo mundo que o
conhece sabe que ele é do tipo de amigo que todo mundo quer por perto. Não
podia começar meu texto de outra forma, pois o artista de quem eu vou falar
nesta postagem é meu amigo e ponto.
Fora isso, ele é um excelente maquiador, que vai do
social à maquiagem de efeito. E isto,
também, ninguém consegue negar. Foi por isso que eu estava, há pelo menos dois
anos, querendo e tentando entrevistá-lo. Ele já maquiou em mais de 30 peças de
teatro, 10 óperas, 09 longas metragens e em mais de 30 curtas metragens. Sempre
tem também muitas histórias pra contar e muita coisa pra ensinar. Sobre os
ensinamentos, ele nunca se poupou. Ensina tudo o que sabe para qualquer um, sem
medo. Pelo contrário, parece que ele quer se livrar de tudo o que sabe para
liberar espaço e se preencher de novidades. Sempre. Eu já presenciei isso
inúmeras vezes. Com os outros e comigo.
Dito isso, posso tentar registrar, neste texto, uma
pequena edição do muito que conversamos naquela ensolarada manhã do dia 29 de
Janeiro de 2013. E para quem quiser notícias do Marce, ele está cada vez
melhor, sempre esbanjando otimismo e felicidade. Nossos encontros demoram a
acontecer, mas quando acontecem, sempre saio contagiado pelo seu astral e bom
humor.
Marcelino maquiando o ator Luiz Bertazzo para o curta O CORVO Foto de Marco Novack |
A MAQUIAGEM NO CINEMA E NO TEATRO.
AS PRINCIPAIS
DIFERENÇAS DE LINGUAGENS.
Marcelino de Miranda conta
que a primeira preocupação de um maquiador deve ser limpar a pele do ator antes
e depois da maquiagem. Este ensinamento vale para ambas as linguagens, o teatro
e o cinema. Ele diz que o cuidado com os atores é uma tarefa obrigatória para
quem quer trabalhar com maquiagem.
O cinema pede, nestas épocas de grandes tecnologias e
câmeras de grande definição, que a pele do ator seja preparada depois de ser
limpa e antes de receber a maquiagem. Aquela história de que o maquiador está
no set de filmagens só para passar um “pozinho na pele dos atores para tirar o
brilho” já é um discurso completamente ultrapassado. O Marcelino me conta que os
grandes aliados do Maquiador de hoje no cinema são o Underbase e o Primer, dois
produtos para preencher as linhas de expressão e sulcos, evitando também o craquelamento da
pele, após a aplicação da maquiagem. Com eles,
a pele fica melhor preparada para um dia inteiro de set.
Outra preocupação que, segundo ele, deve estar sempre presente na prática do maquiador é com relação à necessidade de produtos dentro do prazo de validade e que não sejam produtos nãocomedogênicos (que causem erupção e obstrução dos poros e acnes) ou hipoalegênicos (formulado para minimizar os riscos de reações alérgicas).
Outra preocupação que, segundo ele, deve estar sempre presente na prática do maquiador é com relação à necessidade de produtos dentro do prazo de validade e que não sejam produtos nãocomedogênicos (que causem erupção e obstrução dos poros e acnes) ou hipoalegênicos (formulado para minimizar os riscos de reações alérgicas).
Sobre
a maquiagem propriamente dita, Marcelino diz que no cinema tudo deve ser
cuidadosamente acabado, porque o menor erro ou a menor sujeira na maquiagem,
podem parecer gigantescos na tela grande, num super close, por exemplo. Para ele,
no teatro tudo é mais vasto e menos “microscópico”. O olhar do espectador no
teatro é de longe, mesmo que a plateia esteja posicionada bem na frente da
cena, a luz é outra, enfim, o teatro permite menos acabamento minucioso, mais não menos cuidado, ainda que seja
uma relação próxima a do ator com o público.
Sobre
a importância do maquiador nas duas linguagens, Marcelino conta que no cinema o
maquiador é muito mais indispensável e valorizado do que no teatro. Ele também
é responsável pela qualidade da imagem dos personagens e pela decupagem destes dentro das especificações do
roteiro. Sua
técnica ajuda a contar a história e está intimamente ligada a linha do tempo. Enquanto que no teatro, são pouquíssimas as
companhias e diretores que ainda colocam maquiadores nos seus projetos. Antes
de entrar em cena, cada ator, normalmente, é quem acaba se resolvendo com a
maquiagem. Só mesmo as grandes produções fazem questão de manter o profissional
da maquiagem nas suas fichas técnicas. Ou, em outra instância, as companhias
que necessitam de um profissional de caracterização ou efeitos, ainda valorizam
o trabalho específico do maquiador.
Marcelino maquiando a atriz Letícia Sabatella no longa CIRCULAR Foto de Rosano Mauro JR |
O
TRATO COM A EQUIPE
O maquiador é responsável pelo astral do camarim, mesmo que o no set
inicie às 5 da manhã. Se ele estiver mal humorado e esquecer que esta ali também para cuidar da imagem dos atores, acabará influenciando a energia da
equipe. No mercado atual, não basta ser um bom maquiador, tem que ser de bons
tratos, cuidadoso e competente paras as relações humanas. É uma profissão de
cuidado; tem que gostar de cuidar das pessoas.
Preparando o molde da cabeça do ator Leandro Daniel Colombo para o longa NERVO CRANIANO ZERO - Fase 01 - Foto de Marco Novack |
A
MAQUIAGEM E O ATOR
A maquiagem é um complemento ao trabalho do ator. Não
pode sobressair ao seu trabalho, pois é isso que tem que aparecer. O maquiador
também é responsável para fazer com que o ator “apareça”, ele diz. Quando a
maquiagem aparece mais do que o ator, é porque o maquiador errou ao colocar o
seu trabalho em primeiro lugar. Deve-se ajustar o ego de artista com a
realidade do cinema ou do teatro, afinal o trabalho deve ser desenvolvido em conjunto. Ele diz que "todos
da equipe devem estar na mesma intenção para que o melhor de cada um fique
visível na tela ou no palco e não na guerra do quem é melhor que quem".
Preparando o molde da cabeça do ator Leandro Daniel Colombo para o longa NERVO CRANIANO ZERO - Fase 02 - Foto de Marco Novack |
A
PESQUISA COMO FONTE DE INFORMAÇÃO
Marcelino aponta uma das principais faltas dos
maquiadores que querem trabalhar com a maquiagem: a falta de
pesquisa. Ele diz que quando começou a maquiar, em 1995, a principal fonte de
pesquisa em maquiagem eram as bibliotecas, onde costumava passar horas
folheando os livros. Hoje tudo está muito mais fácil, a internet favorece a
pesquisa de informação e referências com muito material, sujeito inclusive a um
tradutor imediato. Só não pesquisa quem não quer, ou, como ele diz, quem tem
muita preguiça. Um maquiador nunca sabe de tudo, ele está sempre
aprendendo, inclusive ao aplicar uma técnica que já está bastante habituado. A
cada novo trabalho, uma mesma técnica pode revelar novas descobertas e novas
dificuldades. Sempre se aprende. Desta forma ele conclui:
"Se
o profissional tem o hábito de dizer: mas isso eu já sei! É hora de começar do
zero novamente e reaprender."
Preparando o molde da cabeça do ator Leandro Daniel Colombo para o longa NERVO CRANIANO ZERO - Fase 02 - Foto de Marco Novack |
AULAS
DE MAQUIAGEM
Marcelino dá aulas de maquiagem para cursos de graduação
e também ministra oficinas em vários lugares do Brasil todo; vive recebendo
convites. Nas suas aulas ele ensina tudo o que sabe, passo a passo. Como as
turmas normalmente são formadas não apenas por maquiadores, mas estudantes em
diferentes áreas do cinema, do teatro, da publicidade e da estética, ele
acredita que o fato de os seus alunos aprenderem não significa que irão se
transformar em maquiadores. Os alunos receberão informações suficientes para se
relacionarem com os maquiadores e solicitarem os seus serviços, afinando o
olhar, profissionalizando o pensamento sobre maquiagem.
Cabeça pronta para as filmagens - Foto de Marco Novack |
CARREIRA
A carreira de Marcelino de Miranda começou por acaso, em
1995, quando ele fazia um trabalho de ator e acabou substituindo um maquiador
que faltou. Mesmo sem conhecimento técnico, a sua intuição artística fez com
que o trabalho emplacasse e ele ganhou três vezes mais que o seu cachê de ator.
A partir daí os trabalhos com maquiagem começaram a surgir e ele a buscar
informações e técnicas. A mãe de uma amiga atriz era cabeleireira e o ensinou
por telefone a fazer uma “escova” e um “coque banana” para um trabalho no dia
seguinte. O talento inato era o suficiente para ir administrando as informações
recebidas e realizando os trabalhos que foram aparecendo cada vez mais.
Os trabalhos foram se aprimorando cada vez mais e o
Marcelino se profissionalizando a cada nova experiência. Foi buscar informação,
aprender os termos técnicos, estudar a anatomia do rosto humano, filtrar
referências e fortalecer cada vez mais a sua técnica pessoal. Já em 1997, ele
viajava o Brasil ministrando oficinas de maquiagem a convite de um Studio do
Rio de Janeiro.
Maquiando no longa GOL A GOL - Foto de Rosano Mauro Jr |
Hoje, ele é professor universitário de maquiagem,
maquiador caracterizador para cinema, teatro e TV. Faz e ensina maquiagem
social e ministra várias oficinas pelo Brasil inteiro. Além de Curitiba,
Marcelino é chamado para diversos trabalhos em São Paulo e no Rio de Janeiro,
onde há anos trabalha maquiando até o carnaval na Marquês de Sapucaí.
Mais
fotos e informações sobre o seu trabalhado podem ser encontradas em http://marcelinodemiranda.blogspot.com/ e o
e-mail para contato é marcemirandha@gmail.com