domingo, 25 de janeiro de 2009

CHAC - Interior de São Paulo apresenta espetáculo com altíssimo rigor técnico e criativo


(foto divulgação)

Numa época onde se fala muito no incentivo e financiamento da arte no Brasil, surge em Bauru, interior de São Paulo, um espetáculo que, mesmo sem financiamento e leis de incentivo, pode ser considerado como um dos grandes representantes da melhor arte contemporânea produzida nas grandes capitais das nossas terras tropicais.Trata-se de Chac, espetáculo de dança criado e ensaiado pelo coreógrafo João César Barbosa que há muito vem se dedicando e se especializando na pesquisa e no desenvolvimento da dança.
A história de Chac é inspirada na lenda mitológica que apresenta o deus da chuva e da agricultura na civilização dos Maias, formado por quatro divindades separadas e representadas pelos quatro pontos cardeais. Foi essa divindade que, segundo a lenda, ofertou a primeira muda de milho ao povo maia.Mesmo seguindo o padrão clássico de criação cênica, ou seja, um espetáculo criado a partir de um roteiro linear e previamente estabelecido, Chac mistura tendências e estilos da dança contemporânea a partir de uma base clássica, principal formação do coreógrafo João César Barbosa. Formações acrobáticas desenham cenas no vazio poético do palco. Linhas bem definidas e composições geométricas criativas fazem de Chac um colírio para os nossos olhos sempre tão críticos e ávidos pelo acabamento estético.


(foto divulgação)

O elenco, formado por quatro jovens bailarinos, mostra em cena um altíssimo nível técnico, fruto de bastante trabalho dedicado entre aulas e ensaios ministrados por João César para uma academia da cidade. Os bailarinos Carlos Posso, Fábio Merlin, Júlio Segato e Vitor Salvadeo, donos de corpos bem treinados e bastante disponíveis dão um show de presença cênica e crescem no palco do teatro municipal da cidade de Bauru.

Como todo profissional que trabalha, anseia e se alimenta com imagens, minha fome estética se satisfez com a poética visual construída por João césar que apostou no corpo todo o potencial criativo para a comunicação visual da coreografia. Mesmo a sensualidade das malhas que compunha o figurino, pintadas artesanalmente pelo estilista Alexandre Granai, não falaram mais alto que o discurso visual do corpo. Chac é lindo e me emocionou.

Fica aqui o registro desse trabalho e a indicação para os investidores que procuram uma arte de qualidade para associarem seus nomes e de suas empresas. Chac é uma promessa bastante promissora para o que há de melhor e mais sensível na arte do Brasil.

Eu aposto.

(foto divulgação)

FICHA TÉCNICA:

Roteiro, preparação corporal e coreografia: JOÃO CESAR BARBOSA

Pintura do figurino: ALEXANDRE GRANAI

Elenco: CARLOS POSSO, FÁBIO MERLIN, JÚLIO SEGATO e VITOR SALVADEO.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

OBRAGEM TEATRO E CIA: Companhia curitibana faz crescer raízes no solo fértil do teatro contemporâneo e faz o meu coração vibrar mais forte.



(Espetáculo SOLO - foto de Roberto Reintenbach)

No final do Mês de Outubro de 2004 eu cheguei a Curitiba. Ainda não conhecia o trabalho das companhias e grupos daqui. Na aventura de conhecer os espaços culturais da cidade e o trabalho dos artistas, caí de pára-quedas no teatro Cleon Jaques no Parque São Lourenço. Ainda na sala de espera do teatro encontrei uma platéia tímida e silenciosa. Tensão e curiosidade. Em cartaz o espetáculo SOLO da Obragem Teatro e Cia. Ao final do espetáculo a platéia parecia a mesma, tímida e silenciosa, porém certo brilho no olhar daquelas pessoas me fazia adivinhar que, por dentro, estavam tão inquietas e incendiadas quanto eu. Eu estava mudo.
Anos se passaram e durante esse tempo eu continuei a acompanhar a pesquisa e o trabalho da Obragem. Nos tornamos amigos. Ano passado fui ver PASSOS, o mais recente espetáculo da companhia. A inquietação e a sensação de parecer estar incendiando por dentro foram as mesmas. A emoção era grande. Dessa vez, depois desses anos de amizade (principalmente pela minha tietagem), não saí mudo e correndo do teatro, fui ao camarim e fiquei falando, apesar da fuga das palavras que não vinham, falando e falando.
O que mais me encanta nos espetáculos da Obragem é a característica autoral dos seus conteúdos. A companhia não segue os “velhos” e conhecidos modismos do teatro contemporâneo, desenvolve uma pesquisa própria, capaz de lhes mostrarem até mesmo quais são as respostas que deveriam ter no início do processo e que não tinham. E eu, que sempre me considerei aventureiro, não podia imaginar que existisse tamanha coragem.



(O QUARTO - foto de Elenize Dezgeniski)


SOBRE O TEMPO.
A companhia foi fundada em 2002, pelos artistas Olga Nenevê e Eduardo Giacomini. O estímulo era romper com a forma que faziam teatro até então. Outros artistas foram convidados para a mesma viagem. O espetáculo de estréia foi ENTRE em 2003, “uma determinada decisão de pensar sobre a precariedade de comunicação no mundo em que estamos vivendo, por meio da perturbação dos sentidos” diziam Olga e Eduardo. A partir de então, os “novos filhos” dessa união, conjugal e profissional, vieram em forma de novos espetáculos: LABIRINTO também em 2003, SOLO em 2004, AMORFOU em 2005, O PONTO IMAGINÁRIO também em 2005, TUÍKE em 2006, O QUARTO – ENSAIO SOBRE A INTIMIDADE DOS CORPOS em 2007, GRUU também em 2007, WOYZECK no mesmo ano e PASSOS em 2008. Em cada espetáculo percebia-se o andamento e a evolução da pesquisa, porém a estética sempre se renovou a cada novo trabalho.
Os temas da Obragem sempre são existenciais. É sobre a tensão e as relações na subjetividade contemporânea que eles querem falar. Solidão, erotismo e morte foram alguns temas abordados pela Companhia.
Muitos artistas, de diversas áreas das artes, fizeram parte desse trajeto. Alguns partiram, outros ficaram. Outros foram, voltaram e ainda voltarão. Outros virão. Mas a alma da Obragem sempre foi alimentada, apaixonadamente, por Olga e Edu.


(WOYZECK - foto de Elenize Dezgeniski)



EU QUERO SER OLGA NENEVÊ.
Ao encerrar os trabalhos com o espetáculo LABIRINTO de 2003, Olga Nenevê assume definitivamente a direção da Companhia e, portanto, deixa a interpretação para melhor observar de fora como estavam se desdobrando as pesquisas. Como disse anteriormente, só cheguei a Curitiba no ano de 2004, portanto só fui vê-la como atriz no espetáculo PASSOS, em 2008, quando ela voltou a interpretar e a dividir o elenco com o marido, ator, figurinista e cenógrafo Eduardo Giacomini (que eu já estava tão acostumado a ver brilhar em cena). Eram apenas os dois, no palco do teatro Novelas Curitibanas. E eu parecia estar sozinho na platéia mesmo com todas as cadeiras ocupadas.
O espetáculo era perfeito, grande, lindo e perturbador. Olga preenchia todos os cantos daquele espaço com sua presença, talento e beleza. Uma das melhores atrizes que já vi em cena. A qualidade técnica do seu trabalho de interpretação, tão exata quanto o de direção, e o poder de emocionar a platéia era tudo o que eu ou qualquer pessoa, grande ou pequena, podia desejar. Um verdadeiro banho de teatro para qualquer artista, ator ou atriz, apaixonado pelo fazer teatral.
Adoro esses dois!



(TUÍKE - foto de Elenize Dezgeniski)


EDUARDO NO TELEFONE.
Eu recebi um telefonema. Foi em meados do segundo semestre do ano passado. Era o Eduardo me surpreendendo com um convite para assinar um figurino de um projeto da Companhia. Gelei de felicidade. Mais do que trabalhar com pessoas que admiro, ter sido surpreendido com esse convite, vindo de outro figurinista tão bom quanto o Edu, foi motivo suficiente para que eu vibrasse de alegria. Certas coisas entendem-se só com o coração. Coisa de gente do bem. De gente grande.
Paralelamente ao seu trabalho de ator, pesquisador e colaborador na Obragem, Eduardo Giacomini sempre atuou como figurinista e cenógrafo. Desenvolveu trabalhos para diversas produções e companhias de Curitiba. Já realizou lindos trabalhos.
Ao telefone, antes de me despedir, aproveitei e convidei-os para uma entrevista que resultaria neste texto que agora publico no Blog.
Nunca esquecerei.


(AMORFOU - foto de Sérgio Vieira)


AS IMAGENS, A CENA TEATRAL E AS TRANSFORMAÇÕES DO REAL.
O último trabalho apresentado pela companhia no final do ano passado foi a mostra do processo criativo, desenvolvido graças ao Fundo Municipal da Lei de Incentivo à Cultura de Curitiba. Tal projeto de pesquisa, além da mostra do processo, promoveu ações de criação, diálogos, oficinas e o registro em livro sobre os procedimentos realizados pela Companhia.
O livro publicado registra os processos criativos da Obragem e, além de descrições da pesquisa, desenvolvida em cada espetáculo, traz relatórios e depoimentos de vários artistas envolvidos com o trabalho da Obragem. Há também o relatório dos atores Fernando de Proença, Ronie Rodrigues, Ana Reimann, Geane Saggioratto e Elenize Dezgeniski. É uma linda publicação.
A artista Monica Infante, uma das colaboradoras já no início da Companhia, lembra no seu comentário, publicado no livro, a definição do Aurélio Buarque de Holanda para o termo Obragem: ato de construir, obra, lavor, trabalho. Essa é a melhor definição para retratar a história da Companhia.
Para quem ainda não conhece, os principais estímulos de trabalho da Companhia vêem da relação com as imagens de alguns artistas plásticos, da dança contemporânea e da forma peculiar e ímpar com que se relacionam com a palavra escrita e falada. Todas essas informações são digeridas na carne, ou seja, no corpo dos artistas que formam a Obragem Teatro e Cia e estão registradas no livro As Imagens, a Cena Teatral e as Transformações do Real.


(O PONTO IMAGINÁRIO - foto de Luana Navarro)



Faça vibrar o seu corpo e deixe que os seus sentidos adivinhem os códigos elaborados pelos espetáculos da Obragem. Permita-se e depois não se esqueça de me contar.


(PASSOS - foto de Elenize Dezgeniski)



Pense alto.

Seja grande também!

Para saber mais sobre a Obragem Teatro e Cia visite: http://www.obragemteatroecia.com.br/

Vídeos com techos dos espetáculos:

http://br.youtube.com/watch?v=oAH4CP6Zeqg - http://br.youtube.com/watch?v=swKXYwOMQvU - http://br.youtube.com/watch?v=HalMmrNsX5o - http://br.youtube.com/watch?v=HNXsUytH9Vs - http://br.youtube.com/watch?v=YIcJTmFVQ9w - http://br.youtube.com/watch?v=wD2bqB-s8Mw - http://br.youtube.com/watch?v=FC9g6PesGKE - http://br.youtube.com/watch?v=FC9g6PesGKE

sábado, 3 de janeiro de 2009

CINEMA: Produção de Curitiba apresenta uma gente boa e competente ao firmar a promessa de muito sucesso e crescimento garantido para 2009.

(foto de Marco Novack)

No início do ano passado fui indicado por uma amiga atriz para integrar, na função de figurinista, uma equipe de cinema que viria a filmar o curta-metragem Eu não sei andar de bicicleta em Setembro do mesmo ano. O filme, com roteiro e direção de Diko Florentino, uma produção da Alumiar Filmes, foi a porta de entrada para conhecer uma nova geração de cineastas e demais profissionais de cinema extremamente competentes e talentosos. Depois desse primeiro trabalho vieram novos convites, novas amizades e novas oportunidades para conhecer bem de perto o talento dessa galerinha que promete muito neste ano que já inicia com inúmeros projetos encaminhados.
Entre diretores, roteiristas, técnicos e demais artistas dessa nova geração destaco o nome dos profissionais que, a partir de então, também passaram a ocupar um lugar de destaque na lista dos criadores/artistas que mais admiro pela competência, talento, profissionalismo e, claro, pela amizade sempre valiosa. Diko Florentino, Fábio Allon, Bruno Oliveira e Adriano Esturilho (velho conhecido das produções teatrais) são importantes representantes entre os diretores que já arrebataram importantes prêmios da área. Antônio Junior, Wellington Sári, Andrea Tristão, Raquel Deliberali e Marisa Merlo são também valiosas referências quando falamos nos técnicos e nos profissionais de arte que trabalharam muitíssimo em 2008 e assinaram excelentes trabalhos.
Entre os principais curtas, destaco Colorado Esporte Clube de Fábio Allon, Os dias cinzas de Bruno de Oliveira (uma produção conjunta entre a Processo e a Alumiar Filmes), Com as próprias mãos de Aly Muritiba (uma produção conjunta entre a Alumiar e a Processo Filmes), Eu não sei andar de bicicleta de Diko Florentino (produção da Alumiar que estreará no primeiro semestre de 2009), Cru de Fábio Allon e Morgue Story – O Filme, longa metragem de Paulo Biscaia Filho (uma produção da Vigor Mortis e produção associada da Processo Filmes).
Para mim, que já vinha de uma antiga e feliz experiência com o teatro, aventurar-me pela linguagem cinematográfica tem sido sempre uma importante oportunidade de conhecer e dialogar com a tão apaixonante e árdua arte das telas, seja pelo viés do figurino, da interpretação ou simplesmente da observação. Aprender com esses gigantes, competentes e generosos profissionais tem sido para mim sempre um grande e inenarrável prazer.
Anote esses nomes, ainda vamos ouvir falar sempre e muito deles.
Sorte e sucesso aos vencedores!

visite: http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?uid=3407740378047589611 (PROCESSO FILMES) e http://www.alumiarfilmes.com/ (ALUMIAR FILMES)

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

"Vertigem" no MON - OS GÊMEOS


(fragmento do mural que abre a exposição Vertigem no MON)


Exposta em várias cidades do mundo, a arte dos artistas visuais brasileiros Gustavo Pandolfo e Otávio Pandolfo, conhecidos como Os Gêmeos, é uma magnífica representação da arte contemporânea na atualidade. Das ruas de São Paulo às ruas e galerias de várias cidades do mundo, a obra desses irmãos tem encantado iniciados e leigos por onde é exibida.
O conteúdo lúdico e onírico das obras, somado à explosão e à composição de cores saturadas, resulta em provocações sociais para repensar a realidade brasileira. A produção é vasta e divide-se em grafites que interferem no cotidiano urbano dos grandes centros e em exposições nas galerias mais importantes do mundo. Gigantes são pintados nos edifícios, telas são confeccionadas e inspiradas nas pessoas simples das cidades do interior. Há também as instalações que provocam os sentidos do público, assim como os objetos que compõem a estética das exibições.



(interior da exposição O Peixe que comia estrelas cadentes na galeria Fortes Vilaça em São Paulo - 2006)

(fragmento da instalação Os Músicos)


A arte dos irmãos Pandolfo é extremamente bem acabada, resultantes de um trabalho minucioso e rico em detalhes. Uma composição sensacional de cores valoriza os temas e personagens que, através da ficção, repensam os seres humanos que habitam o planeta. Interessantes criaturas amarelas, extremamente criativas, tornam-se personagens recorrentes na retrospectiva de todas as obras criadas a partir da década de 80, década onde se inicia a evolução da técnica e do processo criativo d´OS GÊMEOS.
Curitiba recebe até 1º de fevereiro, no museu Oscar Niemeyer, a exposição VERTIGEM, criada exclusivamente para o MON. A riqueza dos detalhes e temas das obras compõem, sobretudo, uma importante fonte de inspiração para os artistas contemporâneos que, como eu, sempre estão ávidos por novas imagens, discursos e provocações. A visitação é imperdível, assim como a apreciação do catálogo da exposição, pois apresenta uma verdadeira explosão de imagens e conceitos através da coletânea e do registro de várias obras desses irmãos.


(Fachada do Kelburn Castle na Escócia - 2007)



(Gigante - Volos - Grécia - 2002)

Se perder, depois não vai dizer que eu não avisei.
Abra bem seus olhos e libere seus sentidos.
Mergulhe nessa realidade inventada.
Seja feliz!


(Maiores informações pelo telefone do MON: (041) 3350-4400)