terça-feira, 23 de junho de 2009

O SENTIDO DA CRÍTICA


Qual o papel fundamental da critica na cena cultural contemporânea? Qual a importância do critico enquanto autor desse gênero tão polêmico entre os artistas da contemporaneidade? Qual o verdadeiro sentido da critica? Essas e outras questões são imediatamente levantadas em qualquer roda de discussão quando o assunto em pauta é a crítica artística.
Este texto tem como finalidade apresentar uma reflexão sobre o lugar da critica literária no cenário atual.


O CRITICO COMO PROTAGONISTA DO DISCURSO

A critica é produto de uma visão particular. Isso é indiscutível. O critico é o grande responsável pelas informações alí contidas, uma vez que tais considerações foram resultantes das referências e interpretações daquele que a escreveu.
O conteúdo da critica foi contaminado pelo olhar do seu autor e, não nos enganemos, outra fórmula não nos seria possível, pois a imparcialidade e a neutralidade são características que podem pertencer a qualquer outro gênero literário que não à critica. O próprio termo que batiza esse gênero já nos diz que o texto virá acompanhado das impressões pessoas daquele que o publicou.
Uma grande questão que tange o papel do critico é, possivelmente, referida à questão ética. Ser ético implica, nesse caso, em ser sincero, pois o leitor exigirá e reconhecerá isso. Por outro lado, ser ético também significa reconhecer que o seu ponto de vista não é, nem nunca será, uma verdade absoluta. É apenas o seu ponto de vista, mas que poderá influenciar o sucesso ou o fracasso do objeto criticado. Em última instância, ser ético também é se utilizar de uma linguagem cordial e bem focada ou colocada.
O fato de levar o título de critico não confere ao jornalista nenhum critério de valor. Existem ótimos críticos enquanto também existem péssimos críticos, cabe ao leitor atribuir e efetivar esse critério.


O LEITOR COMO MEDIADOR DA RELAÇÃO CRÍTICA X OBRA DE ARTE

Se pudéssemos atribuir a alguém a função de dar um sentido realmente concreto às críticas, esse alguém seria apenas o leitor. Potencialmente o leitor, como possível espectador, leitor ou observador da obra de arte é quem realmente determinará o sentido da crítica. Cabe a ele o papel de concordar ou discordar da argumentação do crítico. Ele, por ter também suas impressões pessoais, é quem determinará a qualidade do texto publicado.
Em contrapartida, ainda não temos no Brasil uma prática efetiva de discussão entre público e críticos. Muitos centros ainda não deram a importância necessária para o papel da crítica como formadora de opiniões entre espectadores e artistas. Muitos críticos ainda não são especializados e muitos dos espectadores nunca leram sequer uma única crítica artística na vida.
Apesar da constituição brasileira, no artigo V, garantir ao artista o seu direito de resposta, no final das apurações, é somente o leitor/espectador que funcionará como o juiz dessa relação onde, por um lado trabalhos são extremamente elogiados e valorizados e, por outro, muitas obras são prejudicadas pelo inconseqüente poder atribuído a críticos menores. Como artista, publico e, numa outra instância, crítico, devo afirmar que, independente das polêmicas comumente instauradas, a produção crítica depende da existência dos artistas, suas obras e a divulgação, assim como a valorização da produção cultural necessita também da existências dos críticos que retornam ao artista e que efetivam suas interpretações por meio das suas publicações. Uma relação bipolar. De ida e volta.

terça-feira, 2 de junho de 2009

REGISTROS POÉTICOS: A fotografia de espetáculos

A fotografia, melhor do que qualquer outra linguagem tem sido, ao longo da história, a principal responsável pela divulgação e documentação dos espetáculos. Por sorte, hoje já temos vários fotógrafos que se especializaram na arte de fotografar espetáculos.
O que é captado pode ser um instante poético, um olhar peculiar do fotógrafo sobre a cena. Quando aberto, nos conta muito sobre a atmosfera do espetáculo. Quando fechado pode nos revelar muito sobre a interpretação do ator, sua intenção secreta, seu mistério e sua sedução.
Além da função documental, a fotografia é também uma obra de arte independente. Ao mesmo tempo em que ela depende do objeto fotografado para existir, do fenômeno, depois de revelada e exibida, ela se torna algo além da cena e do ator. É uma outra estética, fruto da técnica e arte do fotógrafo. Dessa maneira, cada profissional tem suas próprias ferramentas que também independem da técnica. É pura poesia visual.
Nesse sentido uma fotografia pode dizer muito mais sobre um espetáculo do que ele realmente foi, pode inclusive valorizá-lo ou o contrário, pode limitar o seu entendimento pelo observador. De qualquer forma, nós, operários dessa arte efêmera que é o teatro, temos muito a agradecer o talento e a dedicação desses maravilhosos artistas que vem se dedicando à arte de fotografar espetáculos. Graças a eles, podemos guardar para sempre, mesmo que na memória, o prazer e a emoção que vivenciamos durante a cena, e que somente quem esteve presente pode compartilhar.
Convidei alguns dos melhores profissionais que tem desenvolvido um maravilhoso trabalho de documentação e poesia sobre as companhias e os artistas de Curitiba. A cada um foi dado o direito de depor sobre o que bem entendessem da relação da fotografia com o teatro. São
excelentes artistas, amigos queridos, que pretendo tê-los por aqui para sempre.


Alessandra Haro
"A fotografia de espetáculos é um trabalho documental. Carrega um sentido utilitário que se sobrepõe a criação do fotógrafo. Mesmo assim, é preciso atentar para o significado das palavras: sobrepor não significa excluir. O fotógrafo que se lança nessa tarefa deve ter em mente que o objetivo principal é documentar, sendo assim, está condicionado a uma série de exigências e restrições que limitam mas não privam da criação.
Luz, tonalidade de cenário e figurino, movimentação cênica... diversas podem ser as adversidades que impedem a liberdade completa de escolhas fotográficas. O fotógrafo precisa se adequar. Para mim, a decisão do clique é o ponto de maior liberdade.
A compreensão e o grau de envolvimento com o que está diante da lente é o que determina a escolha do instante certo para clicar. Compreender o conceito e o clima do espetáculo é de fundamental importância. Do ponto de vista do fotógrafo, as cenas do espetáculo estão em constante mudança plástica. Tudo se organiza, se desorganiza e se reorganiza, de forma diferente e cíclica.
Bresson chamou de instante decisivo o momento exato em que todos os elementos se alinham perfeitamente para dar significado fotográfico à situação. A exata fração de segundo, o ápice do movimento corporal do ator, a intenção que não está explícita, são alguns dos elementos que fazem diferença e tornam esse tipo de fotografia autoral. Outros aspectos, a serem considerados, são a escolha e a composição do quadro. A escolha do enquadramento e da composição da imagem acontece de acordo com as referências e subjetividades de cada um. Como trabalho com fotografia e cinema há 13 anos, a influência da estética audiovisual em minhas fotos é clara: procuro mostrar a dinâmica de movimento da peça. Meu objetivo não é registrar cenas paradas, o movimento de todos os elementos cênicos é importante. O auge do movimento do ator é o instante que busco. Assim, consigo registrar o movimento por meio de uma representação estática."




(Jesus vem de Hannouver, espetáculo da Companhia Silênciosa - Foto de Ale Haro)


Chico Nogueira


"DIÁRIO DE BORDO - Fotografo teatro - quase que exclusivamente - há 31 anos! Fiz curso de fotografia em 1974, lá no SENAC, mas, na verdade, só consegui comprar uma câmera em 78.
Bem, nunca tive dúvida que iria me dedicar à fotografia de espetáculo paralelamente à carreira de ator. Sempre apreciei o trabalho de Jack Pires, o cara que fez a maioria
daquelas fotos que estão expostas lá no Teatro Paiol, e de Orlando Kissner, na época trabalhando no jornal O Estado do Paraná e que se tornou um grande amigo e mentor.
Pois foi Orlando, profissional de primeira, que me sanou muitas dúvidas técnicas e que chamei para me acompanhar à loja quando consegui juntar uma graninha para a primeira câmera.
Nessa época, também, manjava um pouco de laboratório de PB, pois meu irmão mais velho, entusiasta da fotografia, já tinha me ensinado alguma coisa sobre o assunto.
Pois bem, naquele longínquo 1978, eu começava a ensaiar um espetáculo chamado URUBU, texto do Manoel Carlos Karam e com um elenco supimpa.
Foi aí mesmo, então, que comecei a dar os primeiros cliques. Muitos filmes depois, muitos espetáculos depois, eis que, um dia, sem mais nem menos, Dedé Urban, que trabalhava no MIS,
viajou com nosso grupo teatral a Jacarezinho (se não estou enganado!) e viu algumas imagens que eu carregava pra cima e pra baixo. Perguntou-me, assim, de chofre, se eu nunca tinha pensado
em expor o meu trabalho... Isso foi em 1986. Muitas exposições se seguiram a essa do Museu da Imagem e do Som (Livrarias Curitiba, Casa Romário Martins, Solar do Barão, Goethe-Institut, etc.),
além de participações em alguns livros de memórias teatrais (AdemarGuerra, Paulo Autran, Sutil Cia de Teatro).
Embora muita gente me cobre um livro só meu e coisa e tal, acho que já não tenho muito saco pra isso. Prefiro que minhas fotos estejam rolando pela internet (orkut e facebook).
Não sei se dá pra entender isso, mas é uma espécie de agrado que faço a todos aqueles que, de uma forma ou de outra, acabaram fazendo parte da minha carreira e, por extensão, da minha vida!!! Evoé!!!!!!"



(A vida de Galileu - Espetáculo de Paulo Autran - Foto de Chico Nogueira)




Elenize Dezgeniski

"A câmera fotográfica é uma máquina de congelar instantes, às vezes instantes com movimentos. Enquanto miro pelo visor sinto também o meu coração bater no ritmo do movimento do artista, no meu ritmo, atenta sempre às coisas do mundo “real” do qual fazem parte os bastidores; o som, a luz e as disciplinas.
Mas não posso acreditar que uma fotografia seja somente congelamento, ela é muito mais que isso, é “Start” para novas possibilidades da arte que a ela se apresenta.
Sinto meu coração bater enquanto aguardo o momento que estou buscando. Prendo minha respiração, apoio bem os cotovelos nos braços da poltrona e disparo, e às vezes o disparo volta “brilhando” no visor da câmera. Faço com carinho, com inspiração. Acho que o estudo mais aprofundado da fotografia no âmbito da arte tem influenciado o meu trabalho, não posso esquecer de citar aqui a querida Milla Jung que me deu aulas incríveis no ano passado e Luana Navarro, que sem palavras, problematiza o meu trabalho sempre que parece haver nenhum e pessoas assim são fundamentais em nossas vidas. Também sou atriz e faço parte da Obragem teatro e Cia., lugar onde costumamos refletir bastante sobre o teatro no hoje. Minha primeira formação artística foi na música, minha segunda e paralela na fotografia, sou filha de fotógrafo e meu pai também me ensinou muitas coisas.
Hoje vivo e trabalho neste lugar do “dar a ver” essa coisa a qual às vezes chamamos de arte."

(Espetáculo Um dia fora do Tempo da Cia G2 de Dança - foto de Elenize Dezgeniski)



Marco Novack


Eu entro no espetáculo como seu fizesse parte dele , me imagino ali e tento expressar minha emoção na imagem.
Eu gosto da expressão, do close-up, do bastidor e do movimento. Eu gosto de pessoas na minha lente.




(Melan&Colia, espetáculo da Emcompanhiade2 - foto de Marco Novack)



Rosano Mauro

"Sempre fico na expectativa antes de fotografar um espetáculo, pois é um conjunto de fatores (luz.espaço.ator.cenário.figurino) pelo qual o olhar do fotógrafo está submetido... e que vai influenciar nas escolhas de composições.enquadramentos. enfim, o meu olhar sobre aquele espetáculo.
É... é um trabalho que não depende só do fotógrafo e de sua criatividade. Procuro sempre saber o mínimo sobre cada espetáculo, se possível assistir a uma apresentação antes de ir fotografar.... pra usar uma linguagem que ajude o clima criado pelo espetáculo.. que passa a usar o suporte da fotografia que dispõe de outras ferramentas para mostrar uma imagem e.. por isso não me preocupo muito em querer contar a história.
Acredito nessa intervenção ao documentar as atitudes e linguagem das produções, e cada fotógrafo tem uma forma de recortar o espetáculo, de sentir as vibrações da cena.
Presto muita atenção nos detalhes e quando é uma montagem muito ágil, tenho que ser sagaz pra conseguir o click que contraia expressão do ator, composição do quadro, tempo de exposição e abertura correta para a iluminação ditada na cena(ufa!). Cada espetáculo tem um viés que me leva a pensar e enquadrar de uma forma, o conteúdo estético da cena é de extrema importância, suas cores e elementos (me delicio com muitos objetos e muita mise-en-scène) enaltecem o meu quadro.
Outro fator que colabora para o resultado final é o trabalho de “pós” com as imagens, “cropo” umas fotos, corrijo temperatura de cor, também uns ajustes de pele... para conseguir o melhor resultado visual de acordo com cada espetáculo. A fotografia digital dinamiza o uso dessas ferramentas.
Consigo encontrar semelhanças de linguagem estética e conceitual nos meus trabalhos, descobertas pelas possibilidades que cada produção oferece."


(Espetáculo Instantâneos de Tempo em Tempo da Cia provisória - foto de Rosano Mauro)