(Um instante poético de uma cena do espetáculo Recreio Pingue - pongue do diretor curitibano Márcio Mattana que esteve em cartaz no teatro Cleon Jaques em Curitiba - Foto de Ale Haro)
Fico pensando no sentido efêmero de um espetáculo, na sua duração enquanto obra de arte e de qual o melhor registro que dele fazemos para documentar a sua existência. Ao contrário da literatura que é eternizada nos livros e que estará disponível enquanto durar suas edições, de um filme que pode ser exibido milhares de vezes ou de um objeto, escultura ou pintura, que poderá ser visto nas inúmeras galerias e museus, um espetáculo é sempre passageiro e por mais que filmemos, fotografemos ou relatemos todo o seu processo de criação e de construção, nenhuma dessas linguagens dá conta de traduzir o que realmente foi o evento teatral, pois, essencialmente o teatro só existe no aqui e agora, ou seja, enquanto dura um espetáculo.
Uma filmagem não traduz uma pausa dramática, por exemplo, não relata o volume e a atmosfera criados pela luz, não diz quase nada a respeito do som das palavras. Por isso, prefiro a fotografia que, apesar de estática e de captar apenas um instante da cena, a meu ver, reflete mais o tempo e o espaço teatral do que o vídeo.
É verdade também que muitas vezes uma fotografia pode pintar uma cena melhor ou pior do que ela foi - tudo depende da técnica e do olhar treinado do fotógrafo. Por sua vez, os melhores fotógrafos são aqueles já acostumados com o fazer teatral, porque são íntimos do tempo e do espaço da cena, são acostumados com o efeito da luz, com o corpo do ator.
Como artistas, sabemos também que nenhuma apresentação é igual à outra e que sempre há a melhor dentro de uma temporada. Essa só é válida para quem esteve presente nessa sessão. Pensando nisso, é uma pena que a emoção e a vibração sentidas no corpo do espectador ao assistir um espetáculo sejam perecíveis e, por mais duradora que seja nossa memória, a exteriorização dessa emoção também não nos vale de um arquivo.
Ainda assim, vale a pena tanto esforço e paixão. Ainda assim, vale a pena todos os dias e noites de preparação e construção de um espetáculo. Afinal, qual registro documental poderia ser mais significativo que o espaço temporal correspondente entre o terceiro sinal e os aplausos do público?
* Texto especialmente escrito para a revista Luz & Cena - Ano XI - julho de 2009 - No. 120
2 comentários:
paulinho,
acompanho e fico muito feliz com este espaço ao qual vc vem se dedicando...
fico muito feliz tbm pelas suas conquistas!!!!
sobre este texto estava pensando sobre as atmosferas do espetáculo que quando mais ligada às percepções visuais são mais ligadas à fotografia, mas e quando o sonoro é o foco da criação? seria legal pensar numa fita cassete como documentação de uma obra teatral... mas percepções fugaz são sempre mais ricas... essa fisicalidade da cena, esse real... ai meu coração! vamos conversar sobre isso? além de tudo, tenho saudades!
beijo beijo
li
Oi queridona, que bom receber sua visita aqui! Saiba que fico muito feliz com sua participação e que também estou com saudade. Obrigado sempre pelo carinho.
Então, sobre a indocumentabilidade do teatro, acredito que essa relação se estabeleça com todas as linguagens e também com o registro sonoro de um espetáculo. Todo espetáculo de teatro, pela própria essência, só existe durante sua apresentação. A partir daí, qualquer outro registro dele fica estabelecido como uma outra linguagem que pode ser o vídeo, a fotografia ou mesmo uma gravação em áudio, mas teatro mesmo só existiu para aquelas pessoas presentes naquela sessão, fora disso serão apenas impressões. Nossa arte é efêmera e passageira,não é?
Super beijo!
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