terça-feira, 22 de setembro de 2009

CIASENHAS faz 10 anos e comemora com a nova temporada do espetáculo BICHO CORRE HOJE

(BICHO - foto de Elenize Dezgeniski)
Ainda dá tempo para quem quiser ver ou rever BICHO CORRE HOJE, espetáculo estreado em 2004, que fará sua última semana de apresentações no Teatro José Maria Santos em Curitiba.
Fiquei ensaiando durante o mês todo e só consegui rever o espetáculo neste último domingo.
O que já era bom está muito melhor.
Durante os anos que se seguiram desde a sua estréia, a companhia, dirigida por Sueli Araujo, mergulhou profundamente na realização de vários espetáculos, o que solidificou a pesquisa de criação cênica e fez amadurecer muito o trabalho do elenco e de toda a equipe.
Em BICHO CORRE HOJE vemos Greice Barros e Patrícia Saravy super donas da cena, inteiras. O espetáculo, além do lindo desenho de luz criado pela iluminadora Fábia Regina, tem pouquíssimos recursos visuais. Tudo acontece grandiosamente apenas pelo jogo das duas atrizes sobre a dramaturgia genial de Sueli Araujo.
Acompanho o trabalho da companhia desde 2004 e estar na platéia, curtindo e admirando o rico e autoral trabalho, sempre foi para mim um prazeroso compromisso com uma das mais importantes companhias da cena contemporânea. O prazer ainda é dobrado ao me encontrar com os amigos queridos da equipe CIASENHAS.
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BICHO CORRE HOJE está na última semana da temporada. De quarta a Sábado ás 20h e Domingo às 19h – Teatro José Maria Santos. Quartas e quintas leve um acompanhante e só pague uma entrada.
Vale a pena.



(DELICADAS EMBALAGENS, espetáculo de 2008 - foto Elenize Dezgeniski)



SOBRE A COMPANHIA

A Ciasenhas de teatro foi fundada em 1999 e, de lá para cá, vem desenvolvendo um contínuo trabalho de investigação cênica. O foco principal do trabalho da companhia é o trabalho do ator-criador no desenvolvimento da dramaturgia.
Nesses dez anos de trabalho foram realizados dez espetáculos: ALENCAR (1999), A FARÇA DE MARY HELP (2000), DEVORATEME (2001), TARTUFO (2002), JOÃO AND MARIA (2003), BICHO CORRE HOJE (2004), VÁCUO (2005), NÃO ME DEIXE MENTIR (2005), ANTÍGONA – REDUZIDA E AMPLIADA (2006) e DELICADAS EMBALAGENS (2008).
Desde 2005 a companhia realiza também, anualmente, a mostra CENAS BREVES em parceria com a Caixa Cultural. O objetivo da mostra é divulgar e fortalecer o trabalhos dos grupos que desenvolvem uma pesquisa continuada.
A dramaturgia e a direção artística da Ciasenhas é de Sueli Araujo e a produtora responsável é a Márcia Moraes. Maiores informações sobre a companhia no site: http://www.ciasenhas.art.br/

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

TEATRO DE BREQUE: A obra de Caio Fernando Abreu é o ponto de partida para a construção de CHICLETE & SOM

A obra de Caio Fernando Abreu, escritor gaucho falecido em 1996, é o objeto de estudo no processo criativo e colaborativo do novo espetáculo do Teatro de breque. Trata-se de CHICLETE & SOM, espetáculo produzido por Pablito Kucarz e dirigido por Nina Rosa Sá. No elenco estão Pablito Kucarz, Rúbia Romani, Uyara Torrente e eu. O espetáculo estreará no início do mês de Novembro no TUK, um teatro pequeno e charmoso no Largo da Ordem de Curitiba.
O texto abaixo fala um pouco sobre o nosso encontro e o nosso contato mais profundo com a obra de Caio.

(O elenco em sala de ensaio - foto de Nina Rosa Sá)


MERGULHO NA SUBJETIVIDADE REINVENTADA

Certa vez falávamos sobre a vontade de que o elemento do contraste pudesse estar presente como um possível fio condutor na criação de algumas das cenas do espetáculo. Começamos a desenvolver algumas possibilidades de criação cênica, contaminados pelas referências selecionadas na obra de Caio Fernando Abreu. Percebemos então, que a própria literatura produzida pelo escritor era um específico exemplo do contraste. Confesso que, ao mesmo tempo em que Caio escreveu textos profundamente ricos e ímpares, por outro lado, ele também escreveu alguns textos que consideramos como menos importantes e por isso não entraram na lista dos preferidos. Entre cartas, contos, crônicas, novelas, poesias, dramaturgias e romances pesquisamos muito da importante obra produzida nas décadas de 70, 80 e 90 pelo escritor.
Caio lutou muito para que a sua obra fosse reconhecida.
O escritor foi profundamente influenciado pela obra de Clarice Lispector, escritora que ele admirava muito e que chegou a conhecer e a se relacionar em vida.
De todo o material pesquisado, selecionamos contos, cartas, fragmentos, diálogos e citações para servir de roteiro na dramaturgia de CHICLETE & SOM. Além da obra deixada pelo autor, nos debruçamos também sobre dissertações e teses escritas por pesquisadores que se dedicaram ao estudo de Caio.
No processo de criação, outros artistas são responsáveis pelo desenvolvimento dos demais signos do espetáculo. Maureem Miranda assinará os figurinos, Fábio Allon as interferências em vídeo, Adriana Madeira o cenário e Nadia Naira a luz. No treinamento físico dos atores temos a preparadora corporal Mariana Gomes e o treinamento vocal de Márcia Kaiser. A programação visual está a cargo do também designer Pablito Kucarz.
Antes da estréia publicarei aqui novas informações sobre o andamento de CHICLETE & SOM, contando também como estamos conseguindo nos reinventar a partir do mergulho no universo de Caio Fernando Abreu, sua produção biográfica, ficcional e o quanto dele está em nós. E, como o próprio Caio nos ensinou, "que seja doce! "



“Sua obra parece falar de mim, para mim e de dentro de mim, como se traduzisse não só os momentos que passei, mas também coisas profundas e íntimas que eu sequer tenha verbalizado. Chega a ser meu amigo, ser próximo, falando de solidão, amor, impossibilidade do amor e ainda criando o universo em que escolhi viver na minha profissão, ser artista, do obscuro à beleza desse cotidiano. Pra mim sua obra chega no olho no olho e me arrepia.” (Rúbia Romani - Atriz)




“Conheci a obra de Caio Fernando Abreu há 3 anos, quando ganhei de presente de aniversário o livro Pequenas Epifanias. Não preciso dizer que a partir dali não desgrudei mais de sua obra, afinal de contas este trabalho é resultado de nossa imersão no universo deste autor gaúcho, jornalista por necessidade, homossexual, portador de HIV, solitário e extremamente apaixonado pela vida e pela esperança da felicidade. Foi impossível pra mim, desde meus primeiros contos lidos, não me identificar com as ausências presentes em sua obra – ausência do amor e das pessoas, mesmo quando presentes, ausência da felicidade e sua procura interminável. Apesar deste terreno inóspito que o autor visita frequentemente salta aos olhos o seu humor cínico, sutil e o seu incrível senso de humanidade e de realidade, tendo participado ativamente da vida cultural do Brasil entre as décadas de 70 à 90. Por tudo isso, por também gostar da sua literatura, é que me dediquei a pensar cenicamente sua obra por quase 2 anos.” (Pablito Kucarz - Ator e produtor)




“Conhecer a obra do Caio me faz perceber como ele vai de um extremo ao outro sem perder a força. Ele fala do homossexualismo com a mesma beleza que fala de religião, fala da podridão com a mesma beleza de quando fala do amor. Parece que ele fala pra cada uma das “Uyarainhas” que existem aqui dentro. É lindo. É poderoso. E as vezes até dói de tão bonito.” (Uyara Torrente - Atriz)