A obra de Caio Fernando Abreu, escritor gaucho falecido em 1996, é o objeto de estudo no processo criativo e colaborativo do novo espetáculo do Teatro de breque. Trata-se de CHICLETE & SOM, espetáculo produzido por Pablito Kucarz e dirigido por Nina Rosa Sá. No elenco estão Pablito Kucarz, Rúbia Romani, Uyara Torrente e eu. O espetáculo estreará no início do mês de Novembro no TUK, um teatro pequeno e charmoso no Largo da Ordem de Curitiba.
O texto abaixo fala um pouco sobre o nosso encontro e o nosso contato mais profundo com a obra de Caio.
O texto abaixo fala um pouco sobre o nosso encontro e o nosso contato mais profundo com a obra de Caio.
(O elenco em sala de ensaio - foto de Nina Rosa Sá)
MERGULHO NA SUBJETIVIDADE REINVENTADA
Certa vez falávamos sobre a vontade de que o elemento do contraste pudesse estar presente como um possível fio condutor na criação de algumas das cenas do espetáculo. Começamos a desenvolver algumas possibilidades de criação cênica, contaminados pelas referências selecionadas na obra de Caio Fernando Abreu. Percebemos então, que a própria literatura produzida pelo escritor era um específico exemplo do contraste. Confesso que, ao mesmo tempo em que Caio escreveu textos profundamente ricos e ímpares, por outro lado, ele também escreveu alguns textos que consideramos como menos importantes e por isso não entraram na lista dos preferidos. Entre cartas, contos, crônicas, novelas, poesias, dramaturgias e romances pesquisamos muito da importante obra produzida nas décadas de 70, 80 e 90 pelo escritor.
Caio lutou muito para que a sua obra fosse reconhecida.
O escritor foi profundamente influenciado pela obra de Clarice Lispector, escritora que ele admirava muito e que chegou a conhecer e a se relacionar em vida.
De todo o material pesquisado, selecionamos contos, cartas, fragmentos, diálogos e citações para servir de roteiro na dramaturgia de CHICLETE & SOM. Além da obra deixada pelo autor, nos debruçamos também sobre dissertações e teses escritas por pesquisadores que se dedicaram ao estudo de Caio.
No processo de criação, outros artistas são responsáveis pelo desenvolvimento dos demais signos do espetáculo. Maureem Miranda assinará os figurinos, Fábio Allon as interferências em vídeo, Adriana Madeira o cenário e Nadia Naira a luz. No treinamento físico dos atores temos a preparadora corporal Mariana Gomes e o treinamento vocal de Márcia Kaiser. A programação visual está a cargo do também designer Pablito Kucarz.
Antes da estréia publicarei aqui novas informações sobre o andamento de CHICLETE & SOM, contando também como estamos conseguindo nos reinventar a partir do mergulho no universo de Caio Fernando Abreu, sua produção biográfica, ficcional e o quanto dele está em nós. E, como o próprio Caio nos ensinou, "que seja doce! "
“Sua obra parece falar de mim, para mim e de dentro de mim, como se traduzisse não só os momentos que passei, mas também coisas profundas e íntimas que eu sequer tenha verbalizado. Chega a ser meu amigo, ser próximo, falando de solidão, amor, impossibilidade do amor e ainda criando o universo em que escolhi viver na minha profissão, ser artista, do obscuro à beleza desse cotidiano. Pra mim sua obra chega no olho no olho e me arrepia.” (Rúbia Romani - Atriz)
“Conheci a obra de Caio Fernando Abreu há 3 anos, quando ganhei de presente de aniversário o livro Pequenas Epifanias. Não preciso dizer que a partir dali não desgrudei mais de sua obra, afinal de contas este trabalho é resultado de nossa imersão no universo deste autor gaúcho, jornalista por necessidade, homossexual, portador de HIV, solitário e extremamente apaixonado pela vida e pela esperança da felicidade. Foi impossível pra mim, desde meus primeiros contos lidos, não me identificar com as ausências presentes em sua obra – ausência do amor e das pessoas, mesmo quando presentes, ausência da felicidade e sua procura interminável. Apesar deste terreno inóspito que o autor visita frequentemente salta aos olhos o seu humor cínico, sutil e o seu incrível senso de humanidade e de realidade, tendo participado ativamente da vida cultural do Brasil entre as décadas de 70 à 90. Por tudo isso, por também gostar da sua literatura, é que me dediquei a pensar cenicamente sua obra por quase 2 anos.” (Pablito Kucarz - Ator e produtor)
“Conhecer a obra do Caio me faz perceber como ele vai de um extremo ao outro sem perder a força. Ele fala do homossexualismo com a mesma beleza que fala de religião, fala da podridão com a mesma beleza de quando fala do amor. Parece que ele fala pra cada uma das “Uyarainhas” que existem aqui dentro. É lindo. É poderoso. E as vezes até dói de tão bonito.” (Uyara Torrente - Atriz)
Um comentário:
adoro os livros do Caio, com certeza assistirei a peça de voces, boa sorte, beijos - Melissa
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