quinta-feira, 29 de outubro de 2009

CHICLETE & SOM


Conforme prometido, mais notícias de CHICLETE & SOM que estreia nesta quarta feira, dia 04 de Novembro no Tuc. O espetáculo, dirigido por Nina Rosa Sá teve seu roteiro construído a partir da obra de Caio Fernando Abreu e traz os atores Pablito Kucarz, Rúbia Romani, Uyara Torrente e Eu reverberando o universo da obra do escritor gaucho falecido na década de 90.

Entre encontros e desencontros, CHICLETE & SOM fala da incomunicabilidade humana, do amor não correspondido e das coisas que poderiam ter sido mas que não foram. Fruto do processo colaborativo entre uma equipe afinada para o trabalho, o que estará em cena é o resultado do diálogo entre textos e imagens, movimentos e suspensões presentes na vida real que, segundo Caio, não existiria sem a esfera da ficção, necessária para preencher a vida de poesia.



POR NINA ROSA (Diretora):

"Engraçado. Quando fui incumbida de escrever um texto para o programa da peça, várias coisas se passaram pela minha cabeça. A primeira delas foi escrever um textinho sobre o Caio Fernando Abreu e a relevância de sua obra. E até comecei este texto. Mas achei tudo tão impessoal. O tempo todo Caio utiliza uma pessoalidade lancinante para sua literatura. E me parece impossível escrever qualquer coisa que seja sem ser extremamente pessoal também. Como parece impossível referir-me ao autor chamando-o pelo sobrenome. Não dá para escrever coisas como “Abreu fala o tempo todo sobre amor não realizado.” Não mesmo. É preciso falar no Caio. E Caio fala sim, o tempo todo, sobre amor. Oras realizado, oras não realizado. E todos os desdobramentos que a palavra amor pode ter. Amor romântico, amor materno, amizade, amor às coisas e à vida.
Apesar de escrever muito de modo trágico – especialmente na fase pós-anos 80, quando já sabia que estava com AIDS, e naquela época isso era uma sentença de morte – toda sua tragicidade possui uma certa leveza. Pois, como diz o personagem-narrador de Os Dragões não Conhecem o Paraíso, “que seja doce”. É preciso ser doce, mesmo quando se está sofrendo. É preciso acreditar no amor, mesmo no amor não dado. É preciso continuar todas as manhãs, seja apoiado no I-Ching, na Bíblia ou na vodka. É preciso se reerguer, ainda que doa.
E para nós, que nos propusemos à realização deste espetáculo a que você agora assiste, foi necessária uma boa dose de paciência para controlar a ansiedade. É difícil ler a obra quase completa do Caio e não querer colocar tudo na mistura. Foi extremamente árduo cortar os textos. E acabamos centrando num tema, a incomunicabilidade.
A incomunicabilidade de falar com Deus e não ouvir resposta. De revelar todas as maneiras como uma pessoa nos machuca e ela não ouvir. Revelar o amor maior que se poderia imaginar e ser deixado no vácuo. De ser abandonado e a única justificativa ser um bilhete. De estar em um país distante e não falar a língua. Assim, nós também optamos por às vezes não deixar fácil o entendimento. Alternando imagens e narrativas que nem sempre se complementam. Mas esta foi a maneira mais honesta que encontramos de representar o Caio. Ou de nem representá-lo, mas só apresentá-lo.
Porque às vezes o entendimento se encontra na ausência. Então guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo." (NR)


POR PABLITO KUCARZ (Produtor e ator):
"O teatro de breque nasceu do interesse comum de seus colaboradores em experimentar processos de criação colaborativos e autorais. Deste encontro, que mistura profissionais de diversas áreas além de artistas de diversas companhias da cidade, chegamos à nossa terceira realização, o espetáculo Chiclete&Som. Encaramos este espetáculo como conseqüência natural dos projetos anteriores, por seguir a mesma lógica colaborativa e por apostar na interação entre diversos profissionais. O Beijo, espetáculo de curta duração com texto do americano Mark Harvey Levine, marca o início desta trajetória, iniciada em 2008. O Coletivo de Pequenos Conteúdos é nossa segunda realização em parceria com a Companhia Transitória. Trata-se de uma mostra de cenas de curta duração, contando com 4 companhias da cidade, e que obteve lugar de destaque dentro da programação do Festival de Teatro de Curitiba em 2009. Chegamos enfim ao Chiclete&Som, que é a retomada de um projeto baseado na obra de Caio Fernando Abreu e que teve início em 2005 (porém naquela época sem a estrutura do Teatro de Breque). O projeto foi contemplado com o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2008 e nos permitiu voltar à sala de ensaio para repensar Caio Fernando Abreu.Por várias vezes tentei elaborar respostas inteligentes quando me perguntavam “porque Caio Fernando Abreu ?”... durante muito tempo não fui honesto, pensado que minha resposta sincera pareceria rasa, sem conteúdo. Porém cada vez mais ela faz sentido pra mim e sim, agora minha única explicação pra essa escolha é por que foi preciso. Gosto do que ele escreve, acho importante compartilhar um pouco de seu universo com o público de teatro. Assim como gosto de fazer teatro e não consigo me sentir uma pessoa melhor sem o fazer.
Deste modo, compartilhamos com você algumas de nossas dúvidas e esperanças (palavras caras ao próprio Caio) e não posso deixar de agradecer a todos os envolvidos neste projeto. Profissionais que dedicaram seu tempo e seu talento; e amigos e parceiros que acreditaram em nosso trabalho. Obrigado à Nina pela paciência e pela calma nos momentos tempestuosos do processo, sempre confiante de que chegaríamos lá (seja lá onde quer se seja). Obrigado Uy por sempre duvidar de nossas idéias idiotas, mas sempre disponível pra chafurdar conosco. Rúbia sempre com muita energia e topando qualquer parada e Paulo, nossa escolha mais acertada, obrigado pela dedicação e pelas sobremesas deliciosas!
A vocês que decidiram partilhar um pouco de seu tempo que seja doce!" (PK)
SERVIÇO:
CHICLETE & SOM
De 04 a 27 de Novembro no TUC ( Galeria julio Moreira - Largo da Ordem s/n).
Quartas, quintas e sextas as 20h. R$ 10,00 (inteira) - R$ 5,00 (meia)

FICHA TÉCNICA:

Direção: Nina Rosa Sá - Elenco: Rubia Romani, Uyara Torrente, Pablito Kucarz e Paulo Vinícius - Iluminação: Nadia Náira - Figurino: Maureen Miranda - Cenário: Adriana Madeira - Pesquisa Musical: Moa Leal - Composição Musical: Rodrigo Lemos - Vídeomaker: Fábio Allon - Preparação corporal: Mariana Gómes - Preparação Vocal: Márcia Kaiser - Assoria de imprensa: Thiago Inácio - Direção de produção: Rodrigo Ferrarini

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A LUZ NA CENA: Os iluminadores do teatro curitibano.


(Cena de NERVO CRANIANO ZERO, espetáculo da companhia curitibana Vigor Mortis, com iluminação de Wagner Correa - foto de Denis Lello)

Como qualquer outro elemento cênico a iluminação é um importante signo dentro do espetáculo. Grande aliada do figurino e, principalmente, da cenografia, a luz é também fundamental na definição da estética ou plasticidade teatral. É texto, discurso visual, que comunica e que transmite informações sobre a própria encenação. Por isso, o iluminador deve trabalhar sempre em parceria com o diretor, o cenógrafo e o figurinista. Ambos se utilizam dos elementos da linguagem visual para comporem o seu trabalho.
A luz no teatro é imagem. Tem forma, corpo, volume, cor e intensidade. Muitas vezes é utilizada como a própria cenografia. Na contemporaneidade um iluminador também pode ser chamado de designer, ele é um programador visual, tanto quanto o cenógrafo e o figurinista.
Desde o advento da luz elétrica, no século XIX, os espetáculos, que anteriormente eram iluminados a lamparinas a gás e que permaneciam com a platéia acessa durante as apresentações, foram favorecidos com ilusionismos e climatizações artificiais por conta dos efeitos criados com a iluminação. O primeiro profissional do teatro a utilizar a luz como um fator que favorecesse a tridimensionalidade da cena em comunhão com o corpo do ator e com a cenografia foi Adolphe Appia (1861 -1928). Appia profetizou o palco moderno. Depois dele veio Gordon Craig (1872 – 1966).
São inúmeras as possibilidades de se trabalhar com a iluminação nas diversas estéticas teatrais da cena contemporânea. Para falar um pouco sobre a iluminação cênica, convidei alguns dos melhores profissionais que vêem atuando no teatro curitibano. São iluminadores cujo trabalho eu admiro muito. Entre a nova geração e os veteranos, convidei amigos queridos para contar um pouco sobre a maneira como trabalham e se relacionam com a luz no teatro. Abaixo vocês poderão ler os depoimentos dos que realmente entendem desta linguagem. São participações mais que especiais aqui no blog Figurino e Cena. Profissionais que, mesmo com tantos compromissos, puderam contribuir com a deliciosa função de pensar o teatro que é feito hoje em Curitiba e também contar um pouco sobre a trajetória de cada um. À todos os que estão aqui, também à Beto Bruel e a Luiz Nobre que por motivos específicos não estão presentes agora, muitíssimo obrigado e que estes nossos encontros prazerosos se repitam sempre. Um beijo grande para todos vocês.


NADIA LUCIANI
(fotografada por Daio Hofmann)

"Nestes quase 20 anos como iluminadora o que mais aprendi a respeitar são aqueles que fazem do seu trabalho paixão e do seu prazer profissão... Trabalhar com teatro é uma das poucas coisas que se tem certeza fazer por paixão e prazer, pois não se sustenta enquanto atividade se os únicos parâmetros forem econômicos, profissionais ou sociais, apesar de alcançá-los, se assim for... Tudo é meio adverso, incerto e apaixonante. Isso é fazer teatro!
Fazer luz, então, é mais ainda... O que dizer de paixão, de prazer, de satisfação profissional quando o que fazemos é emocionar, transformar e engrandecer as pessoas e coisas com nossa arte... A luz apaixona, encanta, metamorfoseia os espaços e todos que estão nele, público, cena, vida real ou fictícia. A luz é magia e sonho e nós somos responsáveis por ela, até onde podemos, até onde nos permite a tecnologia e a criatividade, em iguais proporções. Iluminar é isso, é atender as demandas do espetáculo sem jamais se esquecer do espectador (aquele que devemos emocionar), do ator (aquele que iluminamos) e do encenador (aquele cujas idéias materializamos). Estes três elementos humanos compõem a matéria prima de nossa criação e através de ferramentas materiais e subjetivas construímos nossa obra cênica, tão efêmera e real quanto possível... ...e necessário.
Eu venho descobrindo que meu trabalho como iluminadora tem, hoje, duas vertentes de igual importância para minha atuação: a produção artística (os projetos, a luz, os espetáculos) e a produção intelectual (as pesquisas, teorias, estudos, cursos, palestras e aulas). Falar sobre luz tem sido tão prazeroso quanto fazer luz, pois as trocas com outros profissionais, com alunos, aprendizes e apaixonados são estimulantes, proveitosas e extremamente ricas... A atuação na ABrIC/OISTATBr e a possibilidade, através dela, de promover e participar de encontros, fomentando o ensino e o aprimoramento nas áreas de iluminação e tecnologia teatral tem se revelado também, assim como foi descobrir a luz na minha vida, um grande prazer e fonte de realização pessoal e profissional. "

O site da Associação Brasileira de iluminação cênica é: http://www.abric.org.br



NADJA NAIRA
(fotografada por Elenize Dezgeniski)

"A luz no teatro pra mim sempre foi mais que um efeito, um desenho bonito pra uma cena ou o sublinhar de um estado emocional de um personagem, de um clima tenso ou cômico na trama da peça. Iluminar é conduzir a visão do espectador, é ajudá-lo a descobrir os detalhes e as sutilezas da peça e da encenação. Muitas vezes não revelar tudo, trabalhar com reflexos e sombras, com ângulos não naturais, podem ajudar a desvendar as camadas de complexidade de um texto teatral. Este sempre foi o meu maior desafio, trabalhar com este recurso de forma a colaborar na construção da dramaturgia do espetáculo. Nosso grande mestre, Beto Bruel, sempre diz duas coisas muito importantes: cada diretor/encenador requerer uma luz diferente, isto é, cada um tem seu estilo, sua forma de arquitetar uma peça, um escolha estética; e também que luz correta, boa e eficiente é aquela que não se percebe, que não quer dizer mais que o texto, que não quer aparecer mais que os atores e a encenação. Foi ouvindo estes exemplos que foi entendendo a função verdadeira de um artista criador, colaborador, que ajuda na elaboração de uma obra de arte.
Hoje, a cena contemporânea caminha ou para os trabalhos de grande impacto visual ou para aqueles onde há o privilégio do texto, das palavras na boca do ator. É preciso entender os diversos objetivos e funções de cada trabalho/criação e buscar sempre contribuir através de um diálogo de olhos bem abertos e atentos. Não é preciso buscar o diferente, o novo, mas o que está vivo e pulsa. A velocidade do nosso mundo nos devora, mas a fragilidade de uma presença viva na cena ainda nos faz querer ver e ouvir o ser humano, seus dilemas ou delírios."


WAGNER CORREA
(fotografado por Marco Novack)

"Minha primeira operação de luz aconteceu no ano de 1998 para o Espetáculo Onde Estivestes a Noite, escrito e dirigido por Edson Bueno e Iluminado por Nadja Naira. Foi logo após ter participado de um curso técnico de iluminação cênica ministrado por Nadia Luciani. Essa experiência foi simplismente apavorante, a peça tinha cerca de duas horas e meia e muitos movimentos de luz, com direito a várias replugagens no rack (dimmers). Usavamos uma mesa de luz manual ditel com 48 canais e mais uma mesa caseira, que chamamos de pianinho, foi importantíssimo começar dessa maneira, aprendi muito com isso. Muitas montagens e operações se seguiram até que em 2004 concebi minha primeira luz, o espetáculo era Gravidade Zero, de Mario Bortoloto dirigido por Emilia Hardy, também no mesmo ano fui chamado novamente por Nadja Naira para operar sua luz na peça Morgue Story realizada pela Cia. Vigor Mortis, dirigida por Paulo Biscaia Filho. Tenho um carinho muito especial por essa diretora e iluminadora, a Nadja. Ela apostou em meu trabalho desde o inicio, me apresentou a Vigor Mortis e graças a ela e ao Biscaia, outro grande amigo, estou com a Vigor desde o Morgue Story até hoje, foram várias criações, viagens, temporadas... No momento, estamos ensaiando o espetáculo Manson Superstar, com estreia marcada para novembro. Pela segunda vez tenho a oportunidade de ao mesmo tempo iluminar e atuar em uma peça, a primeira foi em Jesus vem de Hannover, espetáculo produzido pela Cia. Silenciosa e dirigido por Henrique Saidel.
Embora esse acumulo de funções seja bem desgastante, gosto disso. Normalmente, o iluminador entra no processo de ensaios de uma peça pouco tempo antes da estreia e poder acompanhar o processo desde o inicio é muito interessante.
Hoje além de ser integrante da Cia. Vigor Mortis e colaborador assiduo da Cia. Silenciosa, desenvolvo trabalhos para várias outras cias. de Curitiba, dentre elas a Cia. Ator Comico, Cia Portátil e Pip Pesquisa em Dança.
Iluminar antes de qualquer coisa é uma imensa responsabilidade. Mas, o prazer que se sente ao exercer essa função é tão ou mais imenso. Iluminar é mostrar, esconder, disfarçar, derreter, distanciar, sensibilizar, endurecer, emocionar, colorir, trovejar, distorcer, sombrear, siluetar, contar, iludir, preencher, acender, apagar, movimentar, intensificar...
O prazer que sinto ao acender um refletor e ver a luz produzida por ele cortar o espaço até chegar ao seu destino, com a intensidade, o desenho e a cor que imagino é indescritivel.
Vivo um processo constante de busca pelo novo e isso é ao mesmo tempo penoso e instigante. Além de sempre buscar o dialogo com o diretor e demais criadores de uma obra e do estudo de referências, sinto a necessidade de pesquisar fontes alternativas de luz, novos angulos e temperaturas.
Comecei a trabalhar nessa area num momento em que elaborávamos os mapas a mão e operavamos manualmente a luz, hoje temos a disposição sistemas completamente digitais, podemos gravar a luz de cenas para um espetáculo e, se quisermos, operar apertando um único botão. Não consigo me adaptar a isso, gosto de gravar as cenas em submasters, gosto de sentir que a luz está em minhas mãos, opero em sintonia com os atores e bailarinos, isso faz com que me sinta dentro do espetáculo. A tecnologia é muito importante para a iluminação cênica e aprender a se utilizar dela também é. Mas, confesso que sinto dificuldade em utilizar certos softwares de visualização em 3D, por exemplo. Normalmente, só consigo desenhar meus mapas após a estreia dos trabalhos, a luz está em minha cabeça.
Na medida em que o tempo vai passando e vão se acumulando as experiências na criação, adaptação e resoluções técnicas chega a ser angustiante criar. Creio que por vezes sou detalhista e perfeccionista, isso é bom e ruim. Bom porque prezo pela qualidade e ruim porque nem sempre tenho a disposição estrutura fisica e financeira pra chegar onde quero, então sofro.Mas, de qualquer forma, tal sofrimento vale a pena. Pretendo continuar iluminando por muitos e muitos anos. Tenho orgulho de fazer o que faço e de pertencer a este grupo de profissionais da luz, somos unidos, admiramos o trabalho uns dos outros, ajudamo-nos muito e compartilhamos do mesmo prazer, o de pintar com a luz e direcionar o olhar dos apreciadores / espectadores. "



WALDO LÉON
"Há mais de 20 anos comprei minha primeira máquina fotográfica.
Na década de 90 me especializei em fotojornalismo; trabalhei para vários jornais de Montevideo e para a Unicef.
Neste tipo de fotografia a luz é um fator importante, como a composição, o momento decisivo, mas não é uma iluminação controlada. O documento fotográfico mais puro é aquele que reúne esses fatores em uma tomada única.
No ano de 1992 alguns amigos de teatro me pediram para fazer umas fotos de divulgação; foi o início de uma relação que dura até hoje.
Controlar a luz para a fotografia e para o teatro é uma ideia que vem de longe. Pintores como Rembrandt e Caravaggio regulavam as janelas de seus ateliês para controlar a entrada da luz do sol.
Com o tempo deixei o fotojornalismo e passei a me dedicar ao teatro.
Quando assisto aos ensaios das peças, chego desprovido de ideias, de conceitos e preconceitos Sou um iluminador lento. Preciso escutar várias vezes o texto, a música, ou ver várias vezes uma coreografia, para chegar à mesma pergunta de sempre: o que me agradaria ver neste instante? Esta pergunta leva todos os conceitos técnicos da fotografia; composição, ritmo, destaques, figuras, momentos únicos, fundo, clima, ambiente, época. Fotografias que no geral duram uma cena, uma coreografia, uma frase, uma palavra ou um gesto.
Depois de imaginar essa possível fotografia, busco nos recursos técnicos disponiveis os elementos necessarios. Não me sujeito a nenhuma regra, podendo ser uma vela, a luz da rua em uma janela ou ainda o mais sofisticado dos aparelhos robotizados, o objetivo é o mesmo, estar em sintonia visual com o que acontece na cena.
Complementar, colaborar com o espectador a sentir o que quer transmitir o ator, a bailarina ou o músico.
A luz é a influência mais importante em nossa percepção visual do mundo; vemos muito mais do que podemos tocar ou cheirar.
Iluminar espetáculos é uma tarefa que requer concentração e paciência. Assistir aos ensaios possibilita exercitar a imaginação e discutir possibilidades estéticas.
As novas ferramentas virtuais acabaram por derrocar a tirania dos iluminadores. A iluminação nos espetáculos era até pouco tempo a única coisa que não se podia mostrar antes de executada. Hoje, todos os integrantes do grupo tem a possibilidade de vê-la simulada, enriquecendo e afirmando suas ideias.
Não tenho regras para iluminar; uma iluminação de balé pode ficar fantástica em uma peça de teatro, e uma luz de cinema pode ser impactante em um monólogo. Entre as milhares de opções que se apresentam não pode haver apenas uma única forma de iluminar.
Dificilmente um espectador se lembra de uma frase de uma peça que assistiu, mas é provável que se lembre de uma imagem. Minha tarefa é realizar essa imagem dentro de qualquer espetáculo.
Faço iluminação em todo tipo de cenários, circulares, italianos, também nas ruas, nas tendas de circo, em prédios desativados, em estações de trem, museus, todo tipo de espetáculo, teatro, música, circo, balé, ópera, dança. Em todos me guio pelo instinto da excelência da imagem.
Algumas fotos de meus trabalhos podem ser vistas em: http://waldocesarleon.blogspot.com/ "

sábado, 3 de outubro de 2009

UM NÓ NA GARGANTA


Aponta um novo momento no novo espetáculo do Grupo Obragem, dirigido por Olga Nenevê. Quem acompanha o trabalho do grupo e viu os espetáculos anteriores saberá do que eu estou falando.
É impossível deixar a sala de espetáculos do teatro Novelas Curitibanas sem carregar por muitos minutos uma sensação de que tudo aquilo ainda não terminou. E não termina mesmo. É poesia em movimento, estupefaciente, desconcertante.
A peça é a segunda parte de uma trilogia sobre o luto escrita pela Olga. A primeira foi PASSOS. No INVENTÁRIO DE NADA BENJAMIN, uma mãe e dois filhos se encontram, após o falecimento do Pai para dividir os bens não materiais, tudo o que Nada, o pai, deixou para ser herdado pela família. Os três se encontram para depois partirem. É um drama contemporâneo, onde a narrativa mistura o presente e o passado, por meio do deslocamento das ações no tempo, o que faz os personagens re-avaliarem suas visões de mundo. Uma relação conflituosa que me gerou um nó na garganta e que só se desatou depois dos muitos minutos que carreguei comigo aquela sensação de que tudo não terminava assim tão facilmente.
Falar mais sobre o trabalho é tentar justificar com palavras o que só é compreendido através das sensações. Não pretendo domesticar minha porção mais indomável daquilo que percebo e que, como público, sempre me faz muito bem.
Sempre me faz muito bem ver o resultado do árduo trabalho do Grupo Obragem. Sempre me faz muito bem ver os queridos amigos Eduardo, Fernando e Olga em cena. Sempre me faz muito bem indicar o que gosto para os leitores do meu blog. Sempre.
O espetáculo fica em cartaz até o dia 18 deste mês de Outubro no Novelas Curitibanas. As sessões são de quarta a sábado as 21h e aos domingos as 19h. A entrada é uma lata de leite em pó. Vale a pena!

FICHA TÉCNICA: Elenco: Eduardo Giacomini, Fernando de Proença e Olga Nenevê. Texto e direção: Olga Nenevê. Assistência de direção: Elenize Dezgeniski. Cenário e figurino: Eduardo Giacomini. Iluminação: Waldo Léon. Música original e sonoplastia: Vadeco.