Conforme prometido, mais notícias de CHICLETE & SOM que estreia nesta quarta feira, dia 04 de Novembro no Tuc. O espetáculo, dirigido por Nina Rosa Sá teve seu roteiro construído a partir da obra de Caio Fernando Abreu e traz os atores Pablito Kucarz, Rúbia Romani, Uyara Torrente e Eu reverberando o universo da obra do escritor gaucho falecido na década de 90.
Entre encontros e desencontros, CHICLETE & SOM fala da incomunicabilidade humana, do amor não correspondido e das coisas que poderiam ter sido mas que não foram. Fruto do processo colaborativo entre uma equipe afinada para o trabalho, o que estará em cena é o resultado do diálogo entre textos e imagens, movimentos e suspensões presentes na vida real que, segundo Caio, não existiria sem a esfera da ficção, necessária para preencher a vida de poesia.
POR NINA ROSA (Diretora):
"Engraçado. Quando fui incumbida de escrever um texto para o programa da peça, várias coisas se passaram pela minha cabeça. A primeira delas foi escrever um textinho sobre o Caio Fernando Abreu e a relevância de sua obra. E até comecei este texto. Mas achei tudo tão impessoal. O tempo todo Caio utiliza uma pessoalidade lancinante para sua literatura. E me parece impossível escrever qualquer coisa que seja sem ser extremamente pessoal também. Como parece impossível referir-me ao autor chamando-o pelo sobrenome. Não dá para escrever coisas como “Abreu fala o tempo todo sobre amor não realizado.” Não mesmo. É preciso falar no Caio. E Caio fala sim, o tempo todo, sobre amor. Oras realizado, oras não realizado. E todos os desdobramentos que a palavra amor pode ter. Amor romântico, amor materno, amizade, amor às coisas e à vida.
Apesar de escrever muito de modo trágico – especialmente na fase pós-anos 80, quando já sabia que estava com AIDS, e naquela época isso era uma sentença de morte – toda sua tragicidade possui uma certa leveza. Pois, como diz o personagem-narrador de Os Dragões não Conhecem o Paraíso, “que seja doce”. É preciso ser doce, mesmo quando se está sofrendo. É preciso acreditar no amor, mesmo no amor não dado. É preciso continuar todas as manhãs, seja apoiado no I-Ching, na Bíblia ou na vodka. É preciso se reerguer, ainda que doa.
E para nós, que nos propusemos à realização deste espetáculo a que você agora assiste, foi necessária uma boa dose de paciência para controlar a ansiedade. É difícil ler a obra quase completa do Caio e não querer colocar tudo na mistura. Foi extremamente árduo cortar os textos. E acabamos centrando num tema, a incomunicabilidade.
A incomunicabilidade de falar com Deus e não ouvir resposta. De revelar todas as maneiras como uma pessoa nos machuca e ela não ouvir. Revelar o amor maior que se poderia imaginar e ser deixado no vácuo. De ser abandonado e a única justificativa ser um bilhete. De estar em um país distante e não falar a língua. Assim, nós também optamos por às vezes não deixar fácil o entendimento. Alternando imagens e narrativas que nem sempre se complementam. Mas esta foi a maneira mais honesta que encontramos de representar o Caio. Ou de nem representá-lo, mas só apresentá-lo.
Porque às vezes o entendimento se encontra na ausência. Então guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo." (NR)
Apesar de escrever muito de modo trágico – especialmente na fase pós-anos 80, quando já sabia que estava com AIDS, e naquela época isso era uma sentença de morte – toda sua tragicidade possui uma certa leveza. Pois, como diz o personagem-narrador de Os Dragões não Conhecem o Paraíso, “que seja doce”. É preciso ser doce, mesmo quando se está sofrendo. É preciso acreditar no amor, mesmo no amor não dado. É preciso continuar todas as manhãs, seja apoiado no I-Ching, na Bíblia ou na vodka. É preciso se reerguer, ainda que doa.
E para nós, que nos propusemos à realização deste espetáculo a que você agora assiste, foi necessária uma boa dose de paciência para controlar a ansiedade. É difícil ler a obra quase completa do Caio e não querer colocar tudo na mistura. Foi extremamente árduo cortar os textos. E acabamos centrando num tema, a incomunicabilidade.
A incomunicabilidade de falar com Deus e não ouvir resposta. De revelar todas as maneiras como uma pessoa nos machuca e ela não ouvir. Revelar o amor maior que se poderia imaginar e ser deixado no vácuo. De ser abandonado e a única justificativa ser um bilhete. De estar em um país distante e não falar a língua. Assim, nós também optamos por às vezes não deixar fácil o entendimento. Alternando imagens e narrativas que nem sempre se complementam. Mas esta foi a maneira mais honesta que encontramos de representar o Caio. Ou de nem representá-lo, mas só apresentá-lo.
Porque às vezes o entendimento se encontra na ausência. Então guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo." (NR)
POR PABLITO KUCARZ (Produtor e ator):
"O teatro de breque nasceu do interesse comum de seus colaboradores em experimentar processos de criação colaborativos e autorais. Deste encontro, que mistura profissionais de diversas áreas além de artistas de diversas companhias da cidade, chegamos à nossa terceira realização, o espetáculo Chiclete&Som. Encaramos este espetáculo como conseqüência natural dos projetos anteriores, por seguir a mesma lógica colaborativa e por apostar na interação entre diversos profissionais. O Beijo, espetáculo de curta duração com texto do americano Mark Harvey Levine, marca o início desta trajetória, iniciada em 2008. O Coletivo de Pequenos Conteúdos é nossa segunda realização em parceria com a Companhia Transitória. Trata-se de uma mostra de cenas de curta duração, contando com 4 companhias da cidade, e que obteve lugar de destaque dentro da programação do Festival de Teatro de Curitiba em 2009. Chegamos enfim ao Chiclete&Som, que é a retomada de um projeto baseado na obra de Caio Fernando Abreu e que teve início em 2005 (porém naquela época sem a estrutura do Teatro de Breque). O projeto foi contemplado com o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2008 e nos permitiu voltar à sala de ensaio para repensar Caio Fernando Abreu.Por várias vezes tentei elaborar respostas inteligentes quando me perguntavam “porque Caio Fernando Abreu ?”... durante muito tempo não fui honesto, pensado que minha resposta sincera pareceria rasa, sem conteúdo. Porém cada vez mais ela faz sentido pra mim e sim, agora minha única explicação pra essa escolha é por que foi preciso. Gosto do que ele escreve, acho importante compartilhar um pouco de seu universo com o público de teatro. Assim como gosto de fazer teatro e não consigo me sentir uma pessoa melhor sem o fazer.
Deste modo, compartilhamos com você algumas de nossas dúvidas e esperanças (palavras caras ao próprio Caio) e não posso deixar de agradecer a todos os envolvidos neste projeto. Profissionais que dedicaram seu tempo e seu talento; e amigos e parceiros que acreditaram em nosso trabalho. Obrigado à Nina pela paciência e pela calma nos momentos tempestuosos do processo, sempre confiante de que chegaríamos lá (seja lá onde quer se seja). Obrigado Uy por sempre duvidar de nossas idéias idiotas, mas sempre disponível pra chafurdar conosco. Rúbia sempre com muita energia e topando qualquer parada e Paulo, nossa escolha mais acertada, obrigado pela dedicação e pelas sobremesas deliciosas!
A vocês que decidiram partilhar um pouco de seu tempo que seja doce!" (PK)
SERVIÇO:"O teatro de breque nasceu do interesse comum de seus colaboradores em experimentar processos de criação colaborativos e autorais. Deste encontro, que mistura profissionais de diversas áreas além de artistas de diversas companhias da cidade, chegamos à nossa terceira realização, o espetáculo Chiclete&Som. Encaramos este espetáculo como conseqüência natural dos projetos anteriores, por seguir a mesma lógica colaborativa e por apostar na interação entre diversos profissionais. O Beijo, espetáculo de curta duração com texto do americano Mark Harvey Levine, marca o início desta trajetória, iniciada em 2008. O Coletivo de Pequenos Conteúdos é nossa segunda realização em parceria com a Companhia Transitória. Trata-se de uma mostra de cenas de curta duração, contando com 4 companhias da cidade, e que obteve lugar de destaque dentro da programação do Festival de Teatro de Curitiba em 2009. Chegamos enfim ao Chiclete&Som, que é a retomada de um projeto baseado na obra de Caio Fernando Abreu e que teve início em 2005 (porém naquela época sem a estrutura do Teatro de Breque). O projeto foi contemplado com o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2008 e nos permitiu voltar à sala de ensaio para repensar Caio Fernando Abreu.Por várias vezes tentei elaborar respostas inteligentes quando me perguntavam “porque Caio Fernando Abreu ?”... durante muito tempo não fui honesto, pensado que minha resposta sincera pareceria rasa, sem conteúdo. Porém cada vez mais ela faz sentido pra mim e sim, agora minha única explicação pra essa escolha é por que foi preciso. Gosto do que ele escreve, acho importante compartilhar um pouco de seu universo com o público de teatro. Assim como gosto de fazer teatro e não consigo me sentir uma pessoa melhor sem o fazer.
Deste modo, compartilhamos com você algumas de nossas dúvidas e esperanças (palavras caras ao próprio Caio) e não posso deixar de agradecer a todos os envolvidos neste projeto. Profissionais que dedicaram seu tempo e seu talento; e amigos e parceiros que acreditaram em nosso trabalho. Obrigado à Nina pela paciência e pela calma nos momentos tempestuosos do processo, sempre confiante de que chegaríamos lá (seja lá onde quer se seja). Obrigado Uy por sempre duvidar de nossas idéias idiotas, mas sempre disponível pra chafurdar conosco. Rúbia sempre com muita energia e topando qualquer parada e Paulo, nossa escolha mais acertada, obrigado pela dedicação e pelas sobremesas deliciosas!
A vocês que decidiram partilhar um pouco de seu tempo que seja doce!" (PK)
CHICLETE & SOM
De 04 a 27 de Novembro no TUC ( Galeria julio Moreira - Largo da Ordem s/n).
Quartas, quintas e sextas as 20h. R$ 10,00 (inteira) - R$ 5,00 (meia)
FICHA TÉCNICA:
Direção: Nina Rosa Sá - Elenco: Rubia Romani, Uyara Torrente, Pablito Kucarz e Paulo Vinícius - Iluminação: Nadia Náira - Figurino: Maureen Miranda - Cenário: Adriana Madeira - Pesquisa Musical: Moa Leal - Composição Musical: Rodrigo Lemos - Vídeomaker: Fábio Allon - Preparação corporal: Mariana Gómes - Preparação Vocal: Márcia Kaiser - Assoria de imprensa: Thiago Inácio - Direção de produção: Rodrigo Ferrarini
Nenhum comentário:
Postar um comentário