Estava em São Paulo no último final de semana e foi com muita tristeza que recebi por e-mail a notícia do falecimento do grande artista Waldo Léon. Sempre fui muito fã do seu trabalho, nós trabalharíamos juntos pela primeira vez no espetáculo ELIZAVETA BAM, no último mês de Abril, quando soubemos que ele precisaria se afastar da equipe para tratar de um câncer. Infelizmente não pude ter a satisfação de dividir com ele a criação de um espetáculo. Porém, no final de 2009 ele, atenciosamente, aceitou meu convite para participar de uma postagem sobre a iluminação na cena teatral curitibana aqui no blog. Sua participação me deixou imensamente feliz. Agora, em sua homenagem, eu publico novamente o texto escrito por ele, que naquela ocasião veio acompanhado do depoimento de outros grandes iluminadores. O teatro curitibano perde um grande criador, mas o céu ganha novo brilho com a luz de Waldo Léon.
WALDO LÉON
"Há mais de 20 anos comprei minha primeira máquina fotográfica. Na década de 90 me especializei em fotojornalismo; trabalhei para vários jornais de Montevidéu e para a UNICEF. Neste tipo de fotografia a luz é um fator importante, como a composição, o momento decisivo, mas não é uma iluminação controlada. O documento fotográfico mais puro é aquele que reúne esses fatores em uma tomada única. No ano de 1992 alguns amigos de teatro me pediram para fazer umas fotos de divulgação; foi o início de uma relação que dura até hoje. Controlar a luz para a fotografia e para o teatro é uma idéia que vem de longe. Pintores como Rembrandt e Caravaggio regulavam as janelas de seus ateliês para controlar a entrada da luz do sol. Com o tempo deixei o fotojornalismo e passei a me dedicar ao teatro. Quando assisto aos ensaios das peças, chego desprovido de idéias, de conceitos e preconceitos Sou um iluminador lento. Preciso escutar várias vezes o texto, a música, ou ver várias vezes uma coreografia, para chegar à mesma pergunta de sempre: o que me agradaria ver neste instante? Esta pergunta leva todos os conceitos técnicos da fotografia; composição, ritmo, destaques, figuras, momentos únicos, fundo, clima, ambiente, época. Fotografias que no geral duram uma cena, uma coreografia, uma frase, uma palavra ou um gesto. Depois de imaginar essa possível fotografia, busco nos recursos técnicos disponíveis os elementos necessários. Não me sujeito a nenhuma regra, podendo ser uma vela, a luz da rua em uma janela ou ainda o mais sofisticado dos aparelhos robotizados, o objetivo é o mesmo, estar em sintonia visual com o que acontece na cena. Complementar, colaborar com o espectador a sentir o que quer transmitir o ator, a bailarina ou o músico. A luz é a influência mais importante em nossa percepção visual do mundo; vemos muito mais do que podemos tocar ou cheirar. Iluminar espetáculos é uma tarefa que requer concentração e paciência. Assistir aos ensaios possibilita exercitar a imaginação e discutir possibilidades estéticas.As novas ferramentas virtuais acabaram por derrocar a tirania dos iluminadores. A iluminação nos espetáculos era até pouco tempo a única coisa que não se podia mostrar antes de executada. Hoje, todos os integrantes do grupo tem a possibilidade de vê-la simulada, enriquecendo e afirmando suas idéias. Não tenho regras para iluminar; uma iluminação de balé pode ficar fantástica em uma peça de teatro, e uma luz de cinema pode ser impactante em um monólogo. Entre as milhares de opções que se apresentam não pode haver apenas uma única forma de iluminar. Dificilmente um espectador se lembra de uma frase de uma peça que assistiu, mas é provável que se lembre de uma imagem. Minha tarefa é realizar essa imagem dentro de qualquer espetáculo. Faço iluminação em todo tipo de cenários, circulares, italianos, também nas ruas, nas tendas de circo, em prédios desativados, em estações de trem, museus, todo tipo de espetáculo, teatro, música, circo, balé, ópera, dança. Em todos me guio pelo instinto da excelência da imagem.Algumas fotos de meus trabalhos podem ser vistas em: http://waldocesarleon.blogspot.com/ "
"Há mais de 20 anos comprei minha primeira máquina fotográfica. Na década de 90 me especializei em fotojornalismo; trabalhei para vários jornais de Montevidéu e para a UNICEF. Neste tipo de fotografia a luz é um fator importante, como a composição, o momento decisivo, mas não é uma iluminação controlada. O documento fotográfico mais puro é aquele que reúne esses fatores em uma tomada única. No ano de 1992 alguns amigos de teatro me pediram para fazer umas fotos de divulgação; foi o início de uma relação que dura até hoje. Controlar a luz para a fotografia e para o teatro é uma idéia que vem de longe. Pintores como Rembrandt e Caravaggio regulavam as janelas de seus ateliês para controlar a entrada da luz do sol. Com o tempo deixei o fotojornalismo e passei a me dedicar ao teatro. Quando assisto aos ensaios das peças, chego desprovido de idéias, de conceitos e preconceitos Sou um iluminador lento. Preciso escutar várias vezes o texto, a música, ou ver várias vezes uma coreografia, para chegar à mesma pergunta de sempre: o que me agradaria ver neste instante? Esta pergunta leva todos os conceitos técnicos da fotografia; composição, ritmo, destaques, figuras, momentos únicos, fundo, clima, ambiente, época. Fotografias que no geral duram uma cena, uma coreografia, uma frase, uma palavra ou um gesto. Depois de imaginar essa possível fotografia, busco nos recursos técnicos disponíveis os elementos necessários. Não me sujeito a nenhuma regra, podendo ser uma vela, a luz da rua em uma janela ou ainda o mais sofisticado dos aparelhos robotizados, o objetivo é o mesmo, estar em sintonia visual com o que acontece na cena. Complementar, colaborar com o espectador a sentir o que quer transmitir o ator, a bailarina ou o músico. A luz é a influência mais importante em nossa percepção visual do mundo; vemos muito mais do que podemos tocar ou cheirar. Iluminar espetáculos é uma tarefa que requer concentração e paciência. Assistir aos ensaios possibilita exercitar a imaginação e discutir possibilidades estéticas.As novas ferramentas virtuais acabaram por derrocar a tirania dos iluminadores. A iluminação nos espetáculos era até pouco tempo a única coisa que não se podia mostrar antes de executada. Hoje, todos os integrantes do grupo tem a possibilidade de vê-la simulada, enriquecendo e afirmando suas idéias. Não tenho regras para iluminar; uma iluminação de balé pode ficar fantástica em uma peça de teatro, e uma luz de cinema pode ser impactante em um monólogo. Entre as milhares de opções que se apresentam não pode haver apenas uma única forma de iluminar. Dificilmente um espectador se lembra de uma frase de uma peça que assistiu, mas é provável que se lembre de uma imagem. Minha tarefa é realizar essa imagem dentro de qualquer espetáculo. Faço iluminação em todo tipo de cenários, circulares, italianos, também nas ruas, nas tendas de circo, em prédios desativados, em estações de trem, museus, todo tipo de espetáculo, teatro, música, circo, balé, ópera, dança. Em todos me guio pelo instinto da excelência da imagem.Algumas fotos de meus trabalhos podem ser vistas em: http://waldocesarleon.blogspot.com/ "
3 comentários:
Paulo, só hoje fiquei sabendo da partida deste grande artísta. Triste...
Meus sentimentos a família.
Grande profissional e amigo,com quem tive a oportunidade de trabalhar em algumas produções.
Obrigada amigo Waldo,nós ficamos por aqui ainda impregnados com a tua luz, fica com Deus.
Olá, Paulo!
Adicionei seu blog no meu, que ainda é criança... Te acompanho desde meu projeto final na faculdade.
Um abraço!
Didi, obrigado pela participação!
Luiza, que bom saber que estamos juntos, boa sorte com seu blog também, estarei te visitando!
Beijo para vocês e obrigado!
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