(O Paraíso Perdido com o Teatro da Vertigem, encenado na Igreja da Consolação, em São Paulo em 1992)
Um dos assuntos que mais me interessam na cenografia de hoje é o Espaço. Para criar qualquer trabalho acho necessário pensar na relação do Espaço com o Espectador. Mais do que pensar no Espaço propriamente dito, o assunto de que falo está justamente na Relação entre ele e o espectador. Tal discussão já é bastante antiga na história das artes visuais e também, de certa forma, no teatro.
Nas artes visuais, Marcel Duchamp instaura o pensamento da obra de arte livre do suporte e propõe a relação com o espectador a partir da observação do objeto. A arte não estaria nem no sujeito e nem no objeto, mas na relação entre ambos. Além disso, Duchamp também tira o objeto de seu lugar tradicional e, dessa forma, questiona também o Espaço físico do museu enquanto Lugar. Outros artistas depois dele se aventuram a pensar sobre o lugar. Entre eles estão os brasileiros Hélio Oiticica e Lygia Clark.
(Obra de Hélio Oiticica, Invenção da cor, Penetrável Magic Square # 5, De Luxe, 1977, foto: Carol Reis)
Lygia também entre outras muitas coisas instaura a Arte Relacional ao se denominar uma propositora ao invés de uma artista. Cria máscaras sensoriais e objetos relacionais. A principal diferença entre o que ela propunha e o que Duchamp propôs estava justamente na relação com o Objeto. O objeto em Lygia Clark era apenas uma forma de se relacionar para criar a arte e não um meio de se chegar à constatação através da observação, como propôs Duchamp. Muito bacana é pensar em como essas relações se desenvolvem no Espaço. Pensar o Espaço no Hélio e na Lygia é pensar num Espaço muito mais interno do que exterior ao corpo do sujeito que apreende a obra.
Paralelamente a isso, cronologicamente falando, vieram os artistas que propuseram as Land Arts, grandes obras a céu aberto que eram para ser vistas de longa distância pelo espectador. Nestas obras a relação também é a proposição mais importante desses artistas, como foi o caso de Robert Smithon e Michael Heizer nos anos 60.
(Máscara Sensorial, obra de Lygia Clark de 1967)
Alguns diretores, encenadores e outros artistas de teatro também já pensaram nessa relação com o Espaço. Entre eles está o brasileiro Antonio Araujo do Teatro Vertigem que, através da Trilogia Bíblica dos anos 90, por exemplo, propuseram o espetáculo ocupando os espaços que inicialmente não eram os edifícios teatrais. A relação da cena com o público mudou completamente a partir dessas pesquisas e práticas. Depois dele vieram também vários outros artistas.
O fato de exercer a cenografia como parte dos meus trabalhos enquanto artista me faz pensar nessas relações do cenário e da platéia dentro de um Espaço Cênico específico e dentro daquilo que o espetáculo propõe enquanto escritura cênica. Trabalhar com diversas companhias, grupos, diretores e artistas, colaborar e propor junto dentro de estéticas e processos diferentes tem me agradado e me instigado muito. Tantas práticas me possibilitam exercer o autoria do meu trabalho como cenógrafo na medida em que ela se relaciona com o trabalho dos outros artistas envolvidos na criação e de como nós juntos oferecemos o nosso trabalho coletivo ao público.
Enquanto pesquisador e teórico, a busca da cenografia e das artes visuais tem acrescentado muito no desenvolvimento da minha prática de cenógrafo e indicado quais são realmente as ausências e lacunas que ainda deverão ser preenchidas no meu ofício.
Bem vindo o Tempo que me possibilita conhecer o Espaço.
Bem vindas as horas que ainda faltam para se chegar à algum Lugar específico.
Bem vindos os próximos trabalhos e as próximas pesquisas.
2 comentários:
Deve ter sido um erro de digitação, o termo correto é Land art.
Valeu a correção Gabriel, obrigado pela participação! Seja sempre bem vindo! Grande abraço, Paulo.
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