terça-feira, 15 de novembro de 2011

Espaço e Cenografia

(O Paraíso Perdido com o Teatro da Vertigem, encenado na Igreja da Consolação, em São Paulo em 1992)

           Um dos assuntos que mais me interessam na cenografia de hoje é o Espaço. Para criar qualquer trabalho acho necessário pensar na relação do Espaço com o Espectador. Mais do que pensar no Espaço propriamente dito, o assunto de que falo está justamente na Relação entre ele e o espectador. Tal discussão já é bastante antiga na história das artes visuais e também, de certa forma, no teatro.
            Nas artes visuais, Marcel Duchamp instaura o pensamento da obra de arte livre do suporte e propõe a relação com o espectador a partir da observação do objeto. A arte não estaria nem no sujeito e nem no objeto, mas na relação entre ambos. Além disso, Duchamp também tira o objeto de seu lugar tradicional e, dessa forma, questiona também o Espaço físico do museu enquanto Lugar. Outros artistas depois dele se aventuram a pensar sobre o lugar. Entre eles estão os brasileiros Hélio Oiticica e Lygia Clark.


(Obra de Hélio Oiticica, Invenção da cor, Penetrável Magic Square # 5, De Luxe, 1977, foto: Carol Reis)

            Hélio entre tantas coisas cria os Penetráveis e propõe com eles uma relação sensível com o espectador. Entrar na sua obra era entrar na própria cor e se relacionar com ela, por exemplo.
            Lygia também entre outras muitas coisas instaura a Arte Relacional ao se denominar uma propositora ao invés de uma artista. Cria máscaras sensoriais e objetos relacionais. A principal diferença entre o que ela propunha e o que Duchamp propôs estava justamente na relação com o Objeto. O objeto em Lygia Clark era apenas uma forma de se relacionar para criar a arte e não um meio de se chegar à constatação através da observação, como propôs Duchamp. Muito bacana é pensar em como essas relações se desenvolvem no Espaço. Pensar o Espaço no Hélio e na Lygia é pensar num Espaço muito mais interno do que exterior ao corpo do sujeito que apreende a obra.
            Paralelamente a isso, cronologicamente falando, vieram os artistas que propuseram as Land Arts, grandes obras a céu aberto que eram para ser vistas de longa distância pelo espectador. Nestas obras a relação também é a proposição mais importante desses artistas, como foi o caso de Robert Smithon e Michael Heizer nos anos 60.

(Máscara Sensorial, obra de Lygia Clark de 1967)

            Alguns diretores, encenadores e outros artistas de teatro também já pensaram nessa relação com o Espaço. Entre eles está o brasileiro Antonio Araujo do Teatro Vertigem que, através da Trilogia Bíblica dos anos 90, por exemplo, propuseram o espetáculo ocupando os espaços que inicialmente não eram os edifícios teatrais. A relação da cena com o público mudou completamente a partir dessas pesquisas e práticas. Depois dele vieram também vários outros artistas.
            O fato de exercer a cenografia como parte dos meus trabalhos enquanto artista me faz pensar nessas relações do cenário e da platéia dentro de um Espaço Cênico específico e dentro daquilo que o espetáculo propõe enquanto escritura cênica. Trabalhar com diversas companhias, grupos, diretores e artistas, colaborar e propor junto dentro de estéticas e processos diferentes tem me agradado e me instigado muito. Tantas práticas me possibilitam exercer o autoria do meu trabalho como cenógrafo na medida em que ela se relaciona com o trabalho dos outros artistas envolvidos na criação e de como nós juntos oferecemos o nosso trabalho coletivo ao público.
            Enquanto pesquisador e teórico, a busca da cenografia e das artes visuais tem acrescentado muito no desenvolvimento da minha prática de cenógrafo e indicado quais são realmente as ausências e lacunas que ainda deverão ser preenchidas no meu ofício.
            Bem vindo o Tempo que me possibilita conhecer o Espaço.
            Bem vindas as horas que ainda faltam para se chegar à algum Lugar específico.
            Bem vindos os próximos trabalhos e as próximas pesquisas.

2 comentários:

Gabriel Arcanjo disse...

Deve ter sido um erro de digitação, o termo correto é Land art.

Figurino e Cena disse...

Valeu a correção Gabriel, obrigado pela participação! Seja sempre bem vindo! Grande abraço, Paulo.