(A CIDADE - espetáculo da Inominável Companhia de Teatro - foto de Anderson Fregolente)
Perguntaram-me qual era a minha definição de cenografia. Antes de responder com aqueles velhos clichês que sempre vem na cabeça, fiquei pensando como eu poderia contribuir para uma definição que realmente dialogasse com o trabalho que venho desenvolvendo e com as questões que realmente me interessam na construção de uma cenografia teatral. Depois de algum tempo pensando, respondi que cenografia era uma RELAÇÃO. Pois bem, relação com o quê? Podemos pensar a cenografia como uma relação espacial que se dá dentro do espetáculo e também entre o espetáculo e a platéia, por exemplo. Cenografia é a relação da cena com a luz, da luz com os objetos de cena. Cenografia é toda a relação iconográfica ou puramente plástica que se dá entre o corpo do ator e todos os outros elementos cênicos diante do público. Portanto, cenografia é o resultado da relação entre o espaço cênico, a iluminação, o desenho da cena, o movimento do ator e a assinatura do diretor diante dos olhos do espectador. Grosso modo, entretanto, podemos pensar numa cenografia sem cenário, mas nunca num espetáculo sem cenografia, pois, mesmo sem ser elaborada, a cenografia sempre existirá.
A partir daí, fiquei bastante curioso para saber como os outros artistas ou teóricos, que também pensaram a cenografia em algum momento das suas respectivas trajetórias, definiram a arte do cenário. Entre os registros disponíveis, com grifos meus, encontrei as seguintes definições:
LUIZ PAULO VASCONCELLOS:
“É a arte e a ciência da criação do cenário. Cenário é o arranjo dado à cena através da linguagem visual, pictórica e arquitetural. O conceito de cenário tem variado de acordo com a estrutura do palco e as convenções do espetáculo de diferentes épocas.”
J. C. SERRONI:
“Arte e técnica de criar, projetar e dirigir a execução de cenários. O cenário é o conjunto dos diversos materiais e efeitos cênicos (telões, bambolinas, bastidores, móveis, adereços, efeitos luminosos, projeções etc.) que serve para criar a realidade visual ou a atmosfera dos espaços onde decorre a ação dramática; a cena.”
ANNA MANTOVANI:
“Falamos que a cenografia é uma composição visual em um espaço tridimensional – no lugar teatral. Chamamos de lugar teatral o lugar onde é apresentado o espetáculo e onde se estabelece a relação cena/público. No teatro, o lugar cênico é o palco, que, como edifício, muda de uma época para outra e de um país para o outro.”
PATRICE PAVIS:
“No sentido moderno, é a ciência e a arte da organização do espaço teatral. Hoje a palavra impõe-se cada vez mais em lugar de decoração, para ultrapassar a noção de ornamentação e de embalagem que ainda se prende, muitas vezes, à concepção obsoleta do teatro como decoração. A cenografia marca bem o seu espaço tridimensional e não mais uma arte pictórica da tela pintada, como o teatro se contentou até o naturalismo.”
CYRO DEL NERO:
“É o desenho da cena. O cenário é composto por elementos plásticos que dão espaço à ação cênica. Há cenários estáveis e únicos; cenários móveis; projetados; feitos por iluminação; simbólicos e mutáveis. O cenário deve atender às exigências dramáticas e físicas da obra teatral. É um conjunto de signos plásticos, a concepção que define o espaço cênico no edifício teatral.”
MIRIAM ABY COHEN:
“A idéia contemporânea de Cenografia exige do profissional uma ação abrangente, que inclui todos os aspectos visuais da realização teatral, amplia sua responsabilidade sobre o todo do espaço cênico e por vezes, sobre o espaço teatral, demandando afinidade entre criadores que possuem, por sua vez, processos, responsabilidades e talentos individuais. O cenógrafo é assim levado a refletir sobre sua própria capacidade em responder à estas atribuições”.
JAROSLAV MALINA:
“Cenografia é a solução dramática do espaço; se a arquitetura é uma gigantesca escultura tridimensional ao ar livre, então a cenografia é para mim, uma forma de transformar do avesso o interior de uma escultura em qualquer espaço concreto”.
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