Conheci o querido Chico nos corredores da FAP – Faculdade de Artes do Paraná, logo no primeiro ano que cheguei. Sempre solicito, ele não nos escondia o jogo, com prazer sempre nos revelou seus truques na arte da representação. Sempre esteve presente.
Além de ator e diretor, Chico desde 1985 cria e desenvolve algumas das trilhas mais interessantes que ouvimos todo ano em alguns dos melhores espetáculos colocados em cartaz nos palcos curitibanos. O prazer pela sonoplastia já lhe rendeu muitos prêmios importantes. A fotografia também o destaca como um dos fotógrafos de espetáculos mais importantes do Paraná. Seu primeiro registro fotográfico de um espetáculo foi em 1978, inspirado pelo trabalho de Jack Pires. Como ator, entre filmes e espetáculos, tem no currículo mais de 40 trabalhos profissionais. Sua mais recente atuação foi na interpretação do cineasta Alfred Hitchcock no espetáculo HITCHCOCK BLONDE, uma realização da Companhia Vigor Mortis, dirigida por Paulo Biscaia Filho. A semelhança física com o cineasta deu um sabor a mais aos olhos dos espectadores.
(cena do espetáculo HITCHCOCK BLODE em 2008 - foto de Lúcia Biscaia)
ESCOLHIDO PELO TEATRO
Francisco Carlos Nogueira nasceu em Curitiba. Se contarmos desde a primeira vez que se apresentou em publico, ele está para completar cinquenta anos de palco. Apesar de sua carreira profissional ter iniciado apenas em 1974, desde os cinco anos de idade ele já se apresentava nos recitais improvisados por seus vizinhos estrangeiros no bairro do Portão, onde vive até hoje. Seus pais, apesar de não serem também artistas, adoravam circo, música, cinema e teatro e sempre carregavam o pequeno Chico para os prazeres culturais.
Além do estímulo proporcionado por seus pais e vizinhos, Chico teve também a sorte de ter uma família de circo morando ao lado de sua casa, que inveja! Era tudo o que um pequeno artista poderia sonhar. Os Irmãos Queirolos, parentes da atriz Bibi Ferreira, quando instalavam seu circo no bairro do Portão, alugavam uma residência na mesma rua onde ele morava, o que lhe proporcionou um contato íntimo com o trabalho e a vida dos artistas circenses. Vem também dessa época o seu interesse pela sonoplastia, pois era muito curioso sobre o que acontecia dentro da cabine de som, onde as trilhas dos espetáculos apresentados eram operadas ainda de forma artesanal e improvisada.
A música também entrou muito cedo na vida de Chico, pois tinha na família e como amigos dos pais alguns músicos. Acostumou-se a ouvir vários estilos, da MPB ao clássico, prática que contribuiu consideravelmente na formação do seu repertório eclético.
(Chico no espetáculo EQUUS em 1995 - foto de Roberto Reitembach)
Com a chegada da televisão em Curitiba, quando ele contava seis anos de idade, em 1960, passou a acompanhar os teleteatros apresentados pela TV Paranaense – Canal 12 e pela TV Paraná Canal 06 - conhecendo então o trabalho dos atores curitibanos que ali se apresentavam, como Ary Fontoura, Édson D´Ávila e Odelair Rodrigues. Era a paixão pela arte da interpretação que pulsava dentro do pequeno escolhido. A mesma paixão com que ele agora se recorda dessas primeiras lembranças que estimulara sua carreira. Aos sete anos já participava dos grupos de jovens que se reuniam para fazer teatro nas igrejas e nas escolas. Na adolescência viu nascer o TCP – Teatro de Comédia do Paraná, projeto criado pelo governador Ney Braga, que possibilitou montagens históricas e a vinda de grandes nomes do teatro nacional para Curitiba, como Paulo Autran, Cláudio Correia e Castro, Ivan de Albuquerque e o casal Paulo Goulart e Nicete Bruno, que chegaram inclusive a residir na capital paranaense por alguns anos.
Em 1985 dirigiu seu primeiro espetáculo, Por telefone, texto de Antônio Fagundes e que tinha no elenco Mário Schoemberger e Regina Bastos. Esse espetáculo marca a inauguração do teatro no SESC da Esquina em Curitiba e também a primeira sonoplastia que ele assinou.
Chico Nogueira graduou-se em Relações Internacionais e em Ciências Contábeis. Foi bancário durante os vários anos em que, paralelamente, trabalhava também como ator. Depois do triste incidente que causou a morte de um dos seus irmãos, em 1986, decidiu, incentivado por seu irmão doze anos mais velho, e aprovado pela mãe, deixar o teatro assumir os rumos da sua carreira e da sua felicidade.
No mesmo dia que se retirou do banco, aceitou o convite do amigo, o ator e diretor Enéas Lour, para integrar o elenco do espetáculo A história de muitos amores dirigido por Fátima Ortiz. Viajaram com o espetáculo durante um ano por todo o Estado do Paraná.
(Um lugar perfeito em 2005 - Foto de Fernando Dias)
As oportunidades foram aparecendo e Chico foi agarrando todas. Foi diretor da Cinemateca de Curitiba de 1991 a 1994, diretor do Museu da Imagem e do Som de 1991 a 2002, e professor da Faculdade de Artes do Paraná a partir de 1988, função que desenvolve até hoje.
Por duas vezes foi ao exterior estudar. Também por duas vezes viu a morte passar bem pertinho, com complicadas cirurgias que teve de enfrentar. Mas, recuperado dos sustos e apesar das dificuldades encontradas na vida e na arte, comum a nossa vida de artista, Chico não se arrepende de permitir que o teatro lhe escolhesse definitivamente. Apesar de falar várias línguas e de dominar muito bem as palavras, nem ele conseguiria me descrever o brilho dos seus olhos, que reluziam quando me contava a sua história.
Salve Chico!