terça-feira, 12 de abril de 2011

DRAMATURGIA VISUAL

(Cena do espetáculo Hamlet, dirigido por mim para os alunos do quinto período do
curso de formação de atores da Academia de Artes Cênicas Cena Hum em 2010)

O hibridismo alcançado pela mistura de diferentes linguagens artísticas na construção da cena teatral tem contribuído muito para desenvolver no meu trabalho de criador teatral um discurso indireto que eu tenho chamado de dramaturgia visual. Por uma linguagem teatral híbrida entendo a poética que tenho buscado através da utilização de diferentes elementos para a construção de um espetáculo. Tais elementos são provenientes de outras expressões artísticas como as artes visuais, o vídeo, a dança e a música, mas que reunidos completam o discurso visual do evento teatral. Dessa forma, não atribuo à dramaturgia verbal o principal elemento para que o espetáculo se realize. Na história do teatro, essa prática já vem sendo pesquisada desde as teorias de Adolphe Appia (1862 – 1928) e Gordon Craig (1872 – 1966) e tem se desenvolvido cada vez mais, principalmente a partir do teatro Pós Brecht, período que o pesquisador Hans-Thies Lehmann chama de pós dramático na sua obra O Teatro Pós-Dramático.

A autonomia da linguagem cênica pretende que uma cena, célula do teatro, articule seus elementos, devidamente selecionados, para refletir sobre suas próprias capacidades expressivas e que são independentes do texto articulado e previamente estabelecido. A experimentação no teatro é impulsionada pelo nascimento do cinema, que representa a realidade com mais eficácia, “é a partir daí que a teatralidade começa a ser trabalhada, ainda que timidamente, como dimensão artística independente do texto dramático, em um processo de autonomia que se completa apenas no final do século XX” (FERNANDES, Pág. 15).

Em outras palavras, entendo que escrevo uma dramaturgia visual na medida em que articulo um vocabulário de diferentes signos teatrais, associados ou não ao texto, buscando a criação de imagens, signos visuais, que se comunicam com o público e ampliam o conteúdo do discurso, uma vez que o sentido da cena só é completado com o entendimento subjetivo da platéia, seja ele racional ou sensível. Penso através de imagens e quero me comunicar efetivamente através delas. Para isso, os principais signos que considero de extrema importância para estarem associados às palavras articuladas são a iluminação, a sonoplastia, a cenografia, o figurino e, sobretudo, a presença forte e expressiva do ator.
Segundo Lehmann, a dramaturgia visual em geral acompanha a sonora no teatro pós- dramático. Ela não precisa ser organizada exclusivamente de modo imagético, pois se comporta,  na verdade, como uma espécie de cenografia expandida que se desenvolve numa lógica própria de sequências e correspondências espaciais, sem subordinar-se ao texto, mas projetando no palco uma trama visual complexa como um poema cênico. Até a frieza formalista de certas imagens dessa dramaturgia pode funcionar, segundo Lehmann, como provocação, e é compensada pela corporeidade intensiva do ator, que se torna absoluta quando a substância física dos corpos e seu potencial gestual são o centro de gravidade da cena. (FERNANDES, pág. 26)
 
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA:

GUINSBURG, J. e FERNANDES, Silvia. O pós-dramático. Perspectiva: São Paulo, 2009.



Um comentário:

Jana Coelho disse...

OI, Paulo. Lindo o seu blog! Adorei os figurinos...

Parece que vai rolar um evento para aspirantes à dramaturgia, não sei se você se interessa ou conhece alguém que se interesse.

http://www.sesipr.org.br/sesicultural/FreeComponent14094content155353.shtml

Abs,

Jana