domingo, 5 de abril de 2009

PAPO CHATO: Quem foi ao teatro hoje? Não me diga o que achou do espetáculo, prefiro não ouvir.



Às vezes, a ficha demora a cair. Caiu.
Durante a edição 2009 do Festival de Curitiba constatei um fenômeno que não gostei. O teatro em Curitiba passa por uma crise de ordem ideológica e moral. Acho ainda que essa crise sempre existiu, eu que demorei a perceber.
Enquanto um movimento de grupo tenta fincar raízes em nome de um coletivo ideológico, muitos representantes da classe teatral curitibana demoram a entender o que isso realmente significa. Há também entre os participantes do Movimento algumas pessoas que infelizmente agem de acordo com minha constatação.
O que quero dizer, na verdade, é que existe uma engrenagem que, inconscientemente, tenta impedir que o teatro curitibano voe sempre mais alto. Mais claramente, quero dizer que, sem generalizações, cada artista ou grupo fecha-se na sua linguagem artística eleita e, impetuosamente, critica tudo aquilo que não se encaixa dentro do seu ideal artístico.
Já falei muitas vezes que, apesar das minhas preferências de estética e linguagem cênica, não tenho preconceito com trabalhos diferentes aos que eu elejo como os mais interessantes do momento segundo o meu próprio gosto. Quero dizer com isso que, como público, consigo admirar um trabalho totalmente diferente daquilo que eu estou disposto a fazer. Portanto, consigo gostar tanto de um espetáculo fincado no trabalho de pesquisa teatral contínua, ditos contemporâneos, como de um espetáculo construído segundo os princípios clássicos, que partem de um texto dramático pronto, com construção de personagem, etc. Mais do que gostar de estilos diferentes, consigo recomendar esses trabalhos para outras pessoas, valorizar as diferenças e entender que elas são extremamente importantes para o desenvolvimento e divulgação da arte teatral. O que elejo como condição necessária para que eu possa apreciar um determinado trabalho é a qualidade. E qualidade pode-se encontrar em qualquer um dos trabalhos descritos acima. Tanto posso admirar um ator que constrói maravilhosamente bem um personagem e o representa melhor ainda que sua construção, como posso também admirar o trabalho de um ator que se esforça para estar no palco apenas sob a manifestação de um estado espetacular seu ou de uma persona escolhida. São coisas bem diferentes e tanto uma quanto a outra podem ser extremamente interessantes.



Indo direto ao assunto, depois de voltas e cuidados, não suporto mais o papo chato dos profissionais que criticam um trabalho que foge ao que eles escolheram para fazer. Mais especificamente, ouvi tantas críticas no Festival a trabalhos alheios que me pareceram mais como despeito do que avaliação. Principalmente os que vieram de pessoas cujos trabalhos eu já estou cansado de conhecer e sei que não são superiores as críticas que fizeram. Não vou citar nomes, claro, não sou tão desbocado assim.
Contudo, fico pensando o que a classe realmente quer? Incentivar a divulgação e a permanência do teatro na nossa sociedade ou travar disputas ridículas que só enfraquecem a arte que todos nós escolhemos para viver? Alguém arrisca a responder?
Não vou mais ficar perguntando o que essas pessoas acharam dos espetáculos que vimos. Não quero me aborrecer. Nem eu e nem ninguém é tão bom e importante assim para menosprezar um trabalho que, muitas vezes, já foi mais do que provado pela opinião pública que é bom. O melhor teatro é aquele que é feito para o público, entendendo o público como um coletivo formado por pessoas provenientes das mais diferentes áreas, repertórios e atuações. Vamos nos colocar nos nossos limitados lugares do singular. Cada um de nós é apenas um. Isolados, não temos tanta importância assim.
Reclama-se também da falta de um público disposto a ir ao teatro. Alto lá! Todos nós sabemos que as comédias feitas na cidade, os espetáculos comerciais, estão cada vez com as salas mais cheias. Daí, concluí-se que o teatro que é feito para o público leigo, público-público, sempre teve seu lugar garantido, agora os espetáculos realizados para platéias menores, formadas principalmente pelos próprios artistas, são sempre apresentados para uma platéia menor ainda do que a desejada na sua idealização.


Conclusão da conclusão: os próprios artistas que reclamam a falta de público não são também público dos espetáculos de outras companhias. A classe teatral curitibana não vê os espetáculos que são produzidos aqui, não pagam para ver as produções locais, só vêem aqueles espetáculos em que estão na lista de convidados ou aqueles que ganharam convite para ver e, que muitas vezes, nem assim vêem. É um comportamento contraditório ao nosso próprio discurso. Disso, pelo menos, ninguém poderá me acusar, vejo quase tudo. Tanto que decidi também escrever, a partir de agora, sobre os que me agradam. Não vou falar sobre aqueles que não gosto, não quero enfileirar inimigos e também não estou disposto a destilar o meu veneno gratuitamente. Quero, única e exclusivamente, promover o teatro. Se precisamos e queremos ter platéia, temos, antes de tudo, que engrossar também nossas filas.
Aos antenados de plantão, justifico-me que as críticas sempre foram bem quistas na produção teatral, mas que elas existam com fundamento e não apenas como uma opinião banal sobre um determinado trabalho. Não me apresentei no Festival 2009, não estou defendendo nenhum trabalho desenvolvido por mim, que isso fique claro, estou defendendo o trabalho de profissionais sérios e competentes, que tem tanto o direito de se mostrar, quanto a necessidade de promover a permanência do teatro na contemporaneidade.
Curitiba tem inúmeras produções bem realizadas e de qualidade, eu vou ao teatro, eu vejo o trabalho dos diretores, atores e companhias. Eu posso dizer isso. Não tentem me convencer do contrário. É por isso que escolhi Curitiba para a minha vida, adoro a cidade, adoro as pessoas daqui e adoro assistir o teatro sério e bem feito que é produzido aqui.
O teatro, apesar de ter sempre querido muito pouco, pode e deve fazer com que as pessoas escolham que sair de casa para ir ao teatro, pode ser tão prazeroso quanto um bom filme acompanhado de pipoca embaixo do edredom.
Estou ácido.
Porém, sou artista.
E você?

3 comentários:

MaxReinert disse...

Olá Paulo....
Cheguei a Curitiba há pouquíssimo tempo e já começo a perceber algo disso que falas.
Concordo em gênero, número e grau.
De qualquer forma, acho também acertadíssimo escreveres sobre o que te agrada e ajudar a divulgar as produções que, por diferentes caminhos, estão aí buscando "um" público.
Abraço e obrigado pelas palavras sobre Fotomaton!

Figurino e Cena disse...

Olá Max,seja bem vindo e apareça sempre. Sou eu quem agradeçe a participação aqui, muito obrigado.
Parabéns pelo trabalho e boa sorte sempre!
Grande abraço e até!

Eduardo Simões disse...
Este comentário foi removido pelo autor.