segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
DEZEMBRO
domingo, 29 de novembro de 2009
MANSON SUPERSTAR
Depois de muitas reuniões, muitas pesquisas e acesso à um grande material que documentou a história dos crimes de assassinatos liderados por Charles Manson no final da década de 60, o elenco, sempre acompanhado pela equipe de criação, foi para a sala de ensaios diários apenas com um roteiro de cenas e uma sugestão de canção para cada cena que seria desenvolvida. Ao final da segunda semana uma nova estética já tinha sido apontada e guiaria também a concepção final do cenário, do figurino, da luz e da direção musical.
Entre achados e perdidos, várias propostas foram substituídas, abandonadas, invertidas, superadas e reencontradas ao longo do processo. A preocupação com o público, característica fundamental no trabalho da companhia, mais uma vez esteve presente durante todo o percurso desenvolvido.
É um novo espetáculo, com uma nova pegada na concepção, na dramaturgia, na direção e no acabamento estético, porém a qualidade e a criatividade, características básicas da Vigor Mortis, continuam impressas na encenação de MANSON SUPERSTAR por Paulo Biscaia.
MANSON SUPERSTAR é um espetáculo lindo e forte. Tenso e pesado. Mesmo depois de ver vários ensaios e apresentações continuo me arrepiando e me emocionando com as cenas. Falar mais sobre ele seria censurar o público do prazer ao se surprender com as novidades.
MANSON SUPERSTAR fica em cartaz até o dia 20 de Dezembro no teatro Novelas Curitibanas -De quinta a Sexta as 21h e Domingos as 19h – Apropriado para maiores de 18 anos – Ingresso: Uma lata de leite em pó.
FICHA TÉCNICA:
Direção, roteiro e sonoplastia: Paulo Biscaia Filho / Elenco: Andrew knoll, Leandro Daniel Colombo, Carolina Fauquemont, Wagner Correa, Michelle Pucci, Marco Novack, Rafaela marques e Ana Clara Fischer. / Cenografia e Figurino: Paulo Vinícius / Direção Musical: Gilson Fukushima / Iluminação: Wagner Correa / Produção: Tânia Araujo / Operação de som e adereços: Thiago Di Giovanni / Operação de luz: Erica Mityco e Viviane Mortean / Cenotécnico: Alfredo Gomes / Projeto gráfico e ilustração: José Aguiar
1966
- Charles Manson é transferido para a prisão de Terminal Island. Ele já tinha passado mais da metade de seus 32 anos na cadeia.
- Susan Atkins era uma garota que saiu de casa e foi trabalhar como dançarina topless em uma revista musical satânica conduzida por Anton Lavey, o Papa do satanismo.
- Roman Polanski inicia uma relação com Sharon Tate durante as filmagens de "Dança dos Vampiros". Depois de ter iniciado o romance, Sharon termina com seu namorado, Jay Sebring, um famoso cabeleireiro de Hollywood.
-Leslie Van Houten é eleita Rainha da Escola em Altadena na Califórnia.
- Patrícia Krenwinkel abandona o Colégio Jesuíta no Albama e foge para a Califórnia.
.
1967
-Charles Manson é liberado da prisão contra a sua vontade.
-Roman Polanski começa as filmagens de "O bebê de Rosemary" após casar com Sharon Tate.
- Manson chega a São Francisco e, no auge do Verão do Amor, começa a fazer amigos em Haight-Ashbury. Seu carisma começa a reunir dezenas de jovens, entre eles Susan, Leslie, Patrícia e Tax Watson, um ex aluno modelo e ex jogador de futebol americano amador.
.
1968
- O bebê de Rosemary é lançado nos cinemas.
- Jay Sebring se aproxima como amigo da família de Polanski, apenas para poder ficar próximo a Sharon.
- Manson estabelece sua "família" no Rancho Spahn, um antigo cenário de filmes de faroeste no Vale da Morte.
- O White Álbum dos Beatles é lançado.
- Manson faz amizade com um integrante dos Beach Boys e através dele faz uma gravação e contatos com produtores musicais.
.
1969
- Sharon Tate conta a Polanski sobre sua gravidez. Ele não queria ter filhos, mas com o tempo aceitou.
- Manson não recebe resposta do produtor musical Terry Melcher. Com o constante assédio de Manson, Melcher decide se mudar e aluga sua casa no endereço 10050 Cielo Drive para a família de Polanski.
- Manson ouve o White álbum dos Beatles e acredita que a faixa Helter Skelter é uma profecia apocalíptica sobre a guerra racial e que a "família" será a governante após as batalhas.
- No dia 9 de Agosto de 1969, Roman estava em Londres preparando seu próximo filme. Sharon estava em casa com Jay e outros amigos que lhe faziam companhia. Tex, Susan e Patrícia invadem a casa dos Polanski no meio da noite e matam todos ali. Sharon estava grávida de oito meses e meio. Susan usa o sangue de Sharon para escrever na porta da casa "Pig".
- Dois dias depois, Patrícia, Leslie e Tex invadem a casa do empresário Leno La Bianca e matam ele e a mulher com mais de 100 facadas. Na parede, Patrícia usa o sangue das vítimas para escrever "Helter Skelter".
- Manson declarou assim o início do Helter Skelter.
- Meses depois, a família é presa por roubo de carros e na cadeia Susan confessa a uma colega de cela sobre a morte de Sharon.
.
1970
- O julgamento de Manson, Susan, Patrícia, Leslie e Tex se transforma em circo de mídia. Ao final do julgamento, todos são condenados a morte, mas antes de sua execução, a Lei na Califórnia muda e suas sentenças são alteradas para prisão perpétua.
.
2009
- Roman Polanski é detido na Suíça por um crime cometido em 1978 nos EUA. Ele havia mantido relações sexuais com uma garota de 13 anos. Antes da decisão do Juiz, Polanski foge para a França onde passa a morar por mais de 30 anos. neste momento, Polanski aguarda decisão sobre a extradição e prisão.
- Em 24 de Setembro, Susan Atkins morre na prisão em consequência de um tumor no cérebro.
- Manson, Krenwinkel, Watson e Houten ainda estão detidos.
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
O DISCURSO DA CENOGRAFIA
O discurso da cenografia se impõe hoje, cada vez mais, ao negar a idéia de decoração, ou seja, a cenografia ao ultrapassar a função simplista de ornamentação cênica, têm se apresentado muito mais próxima à idéia de necessidade, prática ou plástica, para a composição da cena teatral.
Esta abordagem não é uma invenção da cena contemporânea, ao contrário, já foi anunciada desde os tempos de Adolph Appia (1862- 1928) e Edward Gorgon Craig (1872-1966) que valorizaram a tridimensionalidade da cena e se afastaram dos painéis bidimensionais criados pelos pintores que, na maioria das encenações, desenvolviam os cenários até então. Appia foi um divisor de águas na história da cenografia. Ele profetizou o palco moderno. Para ele, a organização do espaço fechado do palco é sempre tridimensional. Craig também se opôs ao cenário bidimensional. Ele compartilhava das idéias de Appia e, por ter realizado vários trabalhos, suas idéias foram mais difundidas.
A cenografia é um dos elementos cênicos que compõem o espetáculo. Não é uma arte independente, como tudo no teatro, deve estar de acordo, dialogar, com todos os outros elementos: o ator, a dramaturgia, a direção, a luz, a sonoplastia, o figurino, a maquiagem, etc. A cenografia, junto com o figurino e a iluminação, são os elementos que, principalmente, definem a estética do espetáculo, ou seja, a plasticidade da cena.
O teatro é uma arte, essencialmente, desenvolvida em grupo, portanto, o cenário também deve ser criado e desenvolvido pelo cenógrafo em total parceria com a equipe de criação, formada principalmente pelo diretor, iluminador e o figurinista. É o principal recurso cênico responsável para definir o ONDE do espetáculo, ou seja, é o cenário quem materializa o lugar da ação. Ele deve estar em total acordo com a linguagem do espetáculo, seja ela realista, simbólica, impressionista, surrealista ou contemporânea.
O cenário está muito mais para a escultura e para a arquitetura do que para a pintura. A pintura é, por sua vez, apenas uma das artes utilizadas pelo cenógrafo na tentativa de criar o espaço tridimensional onde se dará o jogo dos atores que também são tridimensionais e estão em constante movimento.
A iluminação é uma das principais aliadas da cenografia. Pode ser inclusive o principal elemento que dará corpo e volume para a plasticidade do espetáculo. Na contemporaneidade existem inúmeras criações onde os efeitos causados pela luz constituem a própria cenografia.
A cenografia, como qualquer outro elemento cênico, é signo, ou seja, é informação visual, capaz de provocar uma leitura ao espectador antes mesmo de qualquer palavra ser pronunciada. Dessa forma, a cenografia deve ser criada levando em consideração que ela deverá “falar” a mesma língua que o texto, o figurino, a direção, etc.
Hoje também trabalhamos com outros conceitos aplicados á cenografia. O de Ambientação cênica é um exemplo. A cenografia é a composição resultante de um conjunto de cores, luz, forma, linhas e volumes, equilibrados e harmônicos em seu todo, e que criam movimentos, lugares e contrastes. Desta forma, o cenógrafo, como qualquer outro programador visual, deve dominar os elementos da linguagem visual para estabelecer a qualidade do seu discurso.
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
CHICLETE & SOM
POR NINA ROSA (Diretora):
Apesar de escrever muito de modo trágico – especialmente na fase pós-anos 80, quando já sabia que estava com AIDS, e naquela época isso era uma sentença de morte – toda sua tragicidade possui uma certa leveza. Pois, como diz o personagem-narrador de Os Dragões não Conhecem o Paraíso, “que seja doce”. É preciso ser doce, mesmo quando se está sofrendo. É preciso acreditar no amor, mesmo no amor não dado. É preciso continuar todas as manhãs, seja apoiado no I-Ching, na Bíblia ou na vodka. É preciso se reerguer, ainda que doa.
E para nós, que nos propusemos à realização deste espetáculo a que você agora assiste, foi necessária uma boa dose de paciência para controlar a ansiedade. É difícil ler a obra quase completa do Caio e não querer colocar tudo na mistura. Foi extremamente árduo cortar os textos. E acabamos centrando num tema, a incomunicabilidade.
A incomunicabilidade de falar com Deus e não ouvir resposta. De revelar todas as maneiras como uma pessoa nos machuca e ela não ouvir. Revelar o amor maior que se poderia imaginar e ser deixado no vácuo. De ser abandonado e a única justificativa ser um bilhete. De estar em um país distante e não falar a língua. Assim, nós também optamos por às vezes não deixar fácil o entendimento. Alternando imagens e narrativas que nem sempre se complementam. Mas esta foi a maneira mais honesta que encontramos de representar o Caio. Ou de nem representá-lo, mas só apresentá-lo.
Porque às vezes o entendimento se encontra na ausência. Então guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo." (NR)
"O teatro de breque nasceu do interesse comum de seus colaboradores em experimentar processos de criação colaborativos e autorais. Deste encontro, que mistura profissionais de diversas áreas além de artistas de diversas companhias da cidade, chegamos à nossa terceira realização, o espetáculo Chiclete&Som. Encaramos este espetáculo como conseqüência natural dos projetos anteriores, por seguir a mesma lógica colaborativa e por apostar na interação entre diversos profissionais. O Beijo, espetáculo de curta duração com texto do americano Mark Harvey Levine, marca o início desta trajetória, iniciada em 2008. O Coletivo de Pequenos Conteúdos é nossa segunda realização em parceria com a Companhia Transitória. Trata-se de uma mostra de cenas de curta duração, contando com 4 companhias da cidade, e que obteve lugar de destaque dentro da programação do Festival de Teatro de Curitiba em 2009. Chegamos enfim ao Chiclete&Som, que é a retomada de um projeto baseado na obra de Caio Fernando Abreu e que teve início em 2005 (porém naquela época sem a estrutura do Teatro de Breque). O projeto foi contemplado com o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2008 e nos permitiu voltar à sala de ensaio para repensar Caio Fernando Abreu.Por várias vezes tentei elaborar respostas inteligentes quando me perguntavam “porque Caio Fernando Abreu ?”... durante muito tempo não fui honesto, pensado que minha resposta sincera pareceria rasa, sem conteúdo. Porém cada vez mais ela faz sentido pra mim e sim, agora minha única explicação pra essa escolha é por que foi preciso. Gosto do que ele escreve, acho importante compartilhar um pouco de seu universo com o público de teatro. Assim como gosto de fazer teatro e não consigo me sentir uma pessoa melhor sem o fazer.
Deste modo, compartilhamos com você algumas de nossas dúvidas e esperanças (palavras caras ao próprio Caio) e não posso deixar de agradecer a todos os envolvidos neste projeto. Profissionais que dedicaram seu tempo e seu talento; e amigos e parceiros que acreditaram em nosso trabalho. Obrigado à Nina pela paciência e pela calma nos momentos tempestuosos do processo, sempre confiante de que chegaríamos lá (seja lá onde quer se seja). Obrigado Uy por sempre duvidar de nossas idéias idiotas, mas sempre disponível pra chafurdar conosco. Rúbia sempre com muita energia e topando qualquer parada e Paulo, nossa escolha mais acertada, obrigado pela dedicação e pelas sobremesas deliciosas!
A vocês que decidiram partilhar um pouco de seu tempo que seja doce!" (PK)
CHICLETE & SOM
De 04 a 27 de Novembro no TUC ( Galeria julio Moreira - Largo da Ordem s/n).
Quartas, quintas e sextas as 20h. R$ 10,00 (inteira) - R$ 5,00 (meia)
FICHA TÉCNICA:
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
A LUZ NA CENA: Os iluminadores do teatro curitibano.
A luz no teatro é imagem. Tem forma, corpo, volume, cor e intensidade. Muitas vezes é utilizada como a própria cenografia. Na contemporaneidade um iluminador também pode ser chamado de designer, ele é um programador visual, tanto quanto o cenógrafo e o figurinista.
Desde o advento da luz elétrica, no século XIX, os espetáculos, que anteriormente eram iluminados a lamparinas a gás e que permaneciam com a platéia acessa durante as apresentações, foram favorecidos com ilusionismos e climatizações artificiais por conta dos efeitos criados com a iluminação. O primeiro profissional do teatro a utilizar a luz como um fator que favorecesse a tridimensionalidade da cena em comunhão com o corpo do ator e com a cenografia foi Adolphe Appia (1861 -1928). Appia profetizou o palco moderno. Depois dele veio Gordon Craig (1872 – 1966).
São inúmeras as possibilidades de se trabalhar com a iluminação nas diversas estéticas teatrais da cena contemporânea. Para falar um pouco sobre a iluminação cênica, convidei alguns dos melhores profissionais que vêem atuando no teatro curitibano. São iluminadores cujo trabalho eu admiro muito. Entre a nova geração e os veteranos, convidei amigos queridos para contar um pouco sobre a maneira como trabalham e se relacionam com a luz no teatro. Abaixo vocês poderão ler os depoimentos dos que realmente entendem desta linguagem. São participações mais que especiais aqui no blog Figurino e Cena. Profissionais que, mesmo com tantos compromissos, puderam contribuir com a deliciosa função de pensar o teatro que é feito hoje em Curitiba e também contar um pouco sobre a trajetória de cada um. À todos os que estão aqui, também à Beto Bruel e a Luiz Nobre que por motivos específicos não estão presentes agora, muitíssimo obrigado e que estes nossos encontros prazerosos se repitam sempre. Um beijo grande para todos vocês.
Fazer luz, então, é mais ainda... O que dizer de paixão, de prazer, de satisfação profissional quando o que fazemos é emocionar, transformar e engrandecer as pessoas e coisas com nossa arte... A luz apaixona, encanta, metamorfoseia os espaços e todos que estão nele, público, cena, vida real ou fictícia. A luz é magia e sonho e nós somos responsáveis por ela, até onde podemos, até onde nos permite a tecnologia e a criatividade, em iguais proporções. Iluminar é isso, é atender as demandas do espetáculo sem jamais se esquecer do espectador (aquele que devemos emocionar), do ator (aquele que iluminamos) e do encenador (aquele cujas idéias materializamos). Estes três elementos humanos compõem a matéria prima de nossa criação e através de ferramentas materiais e subjetivas construímos nossa obra cênica, tão efêmera e real quanto possível... ...e necessário.
Eu venho descobrindo que meu trabalho como iluminadora tem, hoje, duas vertentes de igual importância para minha atuação: a produção artística (os projetos, a luz, os espetáculos) e a produção intelectual (as pesquisas, teorias, estudos, cursos, palestras e aulas). Falar sobre luz tem sido tão prazeroso quanto fazer luz, pois as trocas com outros profissionais, com alunos, aprendizes e apaixonados são estimulantes, proveitosas e extremamente ricas... A atuação na ABrIC/OISTATBr e a possibilidade, através dela, de promover e participar de encontros, fomentando o ensino e o aprimoramento nas áreas de iluminação e tecnologia teatral tem se revelado também, assim como foi descobrir a luz na minha vida, um grande prazer e fonte de realização pessoal e profissional. "
Hoje, a cena contemporânea caminha ou para os trabalhos de grande impacto visual ou para aqueles onde há o privilégio do texto, das palavras na boca do ator. É preciso entender os diversos objetivos e funções de cada trabalho/criação e buscar sempre contribuir através de um diálogo de olhos bem abertos e atentos. Não é preciso buscar o diferente, o novo, mas o que está vivo e pulsa. A velocidade do nosso mundo nos devora, mas a fragilidade de uma presença viva na cena ainda nos faz querer ver e ouvir o ser humano, seus dilemas ou delírios."
Embora esse acumulo de funções seja bem desgastante, gosto disso. Normalmente, o iluminador entra no processo de ensaios de uma peça pouco tempo antes da estreia e poder acompanhar o processo desde o inicio é muito interessante.
Hoje além de ser integrante da Cia. Vigor Mortis e colaborador assiduo da Cia. Silenciosa, desenvolvo trabalhos para várias outras cias. de Curitiba, dentre elas a Cia. Ator Comico, Cia Portátil e Pip Pesquisa em Dança.
Iluminar antes de qualquer coisa é uma imensa responsabilidade. Mas, o prazer que se sente ao exercer essa função é tão ou mais imenso. Iluminar é mostrar, esconder, disfarçar, derreter, distanciar, sensibilizar, endurecer, emocionar, colorir, trovejar, distorcer, sombrear, siluetar, contar, iludir, preencher, acender, apagar, movimentar, intensificar...
O prazer que sinto ao acender um refletor e ver a luz produzida por ele cortar o espaço até chegar ao seu destino, com a intensidade, o desenho e a cor que imagino é indescritivel.
Vivo um processo constante de busca pelo novo e isso é ao mesmo tempo penoso e instigante. Além de sempre buscar o dialogo com o diretor e demais criadores de uma obra e do estudo de referências, sinto a necessidade de pesquisar fontes alternativas de luz, novos angulos e temperaturas.
Comecei a trabalhar nessa area num momento em que elaborávamos os mapas a mão e operavamos manualmente a luz, hoje temos a disposição sistemas completamente digitais, podemos gravar a luz de cenas para um espetáculo e, se quisermos, operar apertando um único botão. Não consigo me adaptar a isso, gosto de gravar as cenas em submasters, gosto de sentir que a luz está em minhas mãos, opero em sintonia com os atores e bailarinos, isso faz com que me sinta dentro do espetáculo. A tecnologia é muito importante para a iluminação cênica e aprender a se utilizar dela também é. Mas, confesso que sinto dificuldade em utilizar certos softwares de visualização em 3D, por exemplo. Normalmente, só consigo desenhar meus mapas após a estreia dos trabalhos, a luz está em minha cabeça.
Na medida em que o tempo vai passando e vão se acumulando as experiências na criação, adaptação e resoluções técnicas chega a ser angustiante criar. Creio que por vezes sou detalhista e perfeccionista, isso é bom e ruim. Bom porque prezo pela qualidade e ruim porque nem sempre tenho a disposição estrutura fisica e financeira pra chegar onde quero, então sofro.Mas, de qualquer forma, tal sofrimento vale a pena. Pretendo continuar iluminando por muitos e muitos anos. Tenho orgulho de fazer o que faço e de pertencer a este grupo de profissionais da luz, somos unidos, admiramos o trabalho uns dos outros, ajudamo-nos muito e compartilhamos do mesmo prazer, o de pintar com a luz e direcionar o olhar dos apreciadores / espectadores. "
Na década de 90 me especializei em fotojornalismo; trabalhei para vários jornais de Montevideo e para a Unicef.
Neste tipo de fotografia a luz é um fator importante, como a composição, o momento decisivo, mas não é uma iluminação controlada. O documento fotográfico mais puro é aquele que reúne esses fatores em uma tomada única.
No ano de 1992 alguns amigos de teatro me pediram para fazer umas fotos de divulgação; foi o início de uma relação que dura até hoje.
Controlar a luz para a fotografia e para o teatro é uma ideia que vem de longe. Pintores como Rembrandt e Caravaggio regulavam as janelas de seus ateliês para controlar a entrada da luz do sol.
Com o tempo deixei o fotojornalismo e passei a me dedicar ao teatro.
Quando assisto aos ensaios das peças, chego desprovido de ideias, de conceitos e preconceitos Sou um iluminador lento. Preciso escutar várias vezes o texto, a música, ou ver várias vezes uma coreografia, para chegar à mesma pergunta de sempre: o que me agradaria ver neste instante? Esta pergunta leva todos os conceitos técnicos da fotografia; composição, ritmo, destaques, figuras, momentos únicos, fundo, clima, ambiente, época. Fotografias que no geral duram uma cena, uma coreografia, uma frase, uma palavra ou um gesto.
Depois de imaginar essa possível fotografia, busco nos recursos técnicos disponiveis os elementos necessarios. Não me sujeito a nenhuma regra, podendo ser uma vela, a luz da rua em uma janela ou ainda o mais sofisticado dos aparelhos robotizados, o objetivo é o mesmo, estar em sintonia visual com o que acontece na cena.
Complementar, colaborar com o espectador a sentir o que quer transmitir o ator, a bailarina ou o músico.
A luz é a influência mais importante em nossa percepção visual do mundo; vemos muito mais do que podemos tocar ou cheirar.
Iluminar espetáculos é uma tarefa que requer concentração e paciência. Assistir aos ensaios possibilita exercitar a imaginação e discutir possibilidades estéticas.
As novas ferramentas virtuais acabaram por derrocar a tirania dos iluminadores. A iluminação nos espetáculos era até pouco tempo a única coisa que não se podia mostrar antes de executada. Hoje, todos os integrantes do grupo tem a possibilidade de vê-la simulada, enriquecendo e afirmando suas ideias.
Não tenho regras para iluminar; uma iluminação de balé pode ficar fantástica em uma peça de teatro, e uma luz de cinema pode ser impactante em um monólogo. Entre as milhares de opções que se apresentam não pode haver apenas uma única forma de iluminar.
Dificilmente um espectador se lembra de uma frase de uma peça que assistiu, mas é provável que se lembre de uma imagem. Minha tarefa é realizar essa imagem dentro de qualquer espetáculo.
Faço iluminação em todo tipo de cenários, circulares, italianos, também nas ruas, nas tendas de circo, em prédios desativados, em estações de trem, museus, todo tipo de espetáculo, teatro, música, circo, balé, ópera, dança. Em todos me guio pelo instinto da excelência da imagem.
Algumas fotos de meus trabalhos podem ser vistas em: http://waldocesarleon.blogspot.com/ "
sábado, 3 de outubro de 2009
UM NÓ NA GARGANTA
Aponta um novo momento no novo espetáculo do Grupo Obragem, dirigido por Olga Nenevê. Quem acompanha o trabalho do grupo e viu os espetáculos anteriores saberá do que eu estou falando.
A peça é a segunda parte de uma trilogia sobre o luto escrita pela Olga. A primeira foi PASSOS. No INVENTÁRIO DE NADA BENJAMIN, uma mãe e dois filhos se encontram, após o falecimento do Pai para dividir os bens não materiais, tudo o que Nada, o pai, deixou para ser herdado pela família. Os três se encontram para depois partirem. É um drama contemporâneo, onde a narrativa mistura o presente e o passado, por meio do deslocamento das ações no tempo, o que faz os personagens re-avaliarem suas visões de mundo. Uma relação conflituosa que me gerou um nó na garganta e que só se desatou depois dos muitos minutos que carreguei comigo aquela sensação de que tudo não terminava assim tão facilmente.
Falar mais sobre o trabalho é tentar justificar com palavras o que só é compreendido através das sensações. Não pretendo domesticar minha porção mais indomável daquilo que percebo e que, como público, sempre me faz muito bem.
Sempre me faz muito bem ver o resultado do árduo trabalho do Grupo Obragem. Sempre me faz muito bem ver os queridos amigos Eduardo, Fernando e Olga em cena. Sempre me faz muito bem indicar o que gosto para os leitores do meu blog. Sempre.
O espetáculo fica em cartaz até o dia 18 deste mês de Outubro no Novelas Curitibanas. As sessões são de quarta a sábado as 21h e aos domingos as 19h. A entrada é uma lata de leite em pó. Vale a pena!
FICHA TÉCNICA: Elenco: Eduardo Giacomini, Fernando de Proença e Olga Nenevê. Texto e direção: Olga Nenevê. Assistência de direção: Elenize Dezgeniski. Cenário e figurino: Eduardo Giacomini. Iluminação: Waldo Léon. Música original e sonoplastia: Vadeco.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
CIASENHAS faz 10 anos e comemora com a nova temporada do espetáculo BICHO CORRE HOJE
Fiquei ensaiando durante o mês todo e só consegui rever o espetáculo neste último domingo.
Durante os anos que se seguiram desde a sua estréia, a companhia, dirigida por Sueli Araujo, mergulhou profundamente na realização de vários espetáculos, o que solidificou a pesquisa de criação cênica e fez amadurecer muito o trabalho do elenco e de toda a equipe.
Em BICHO CORRE HOJE vemos Greice Barros e Patrícia Saravy super donas da cena, inteiras. O espetáculo, além do lindo desenho de luz criado pela iluminadora Fábia Regina, tem pouquíssimos recursos visuais. Tudo acontece grandiosamente apenas pelo jogo das duas atrizes sobre a dramaturgia genial de Sueli Araujo.
Acompanho o trabalho da companhia desde 2004 e estar na platéia, curtindo e admirando o rico e autoral trabalho, sempre foi para mim um prazeroso compromisso com uma das mais importantes companhias da cena contemporânea. O prazer ainda é dobrado ao me encontrar com os amigos queridos da equipe CIASENHAS.
0
Vale a pena.
A Ciasenhas de teatro foi fundada em 1999 e, de lá para cá, vem desenvolvendo um contínuo trabalho de investigação cênica. O foco principal do trabalho da companhia é o trabalho do ator-criador no desenvolvimento da dramaturgia.
Nesses dez anos de trabalho foram realizados dez espetáculos: ALENCAR (1999), A FARÇA DE MARY HELP (2000), DEVORATEME (2001), TARTUFO (2002), JOÃO AND MARIA (2003), BICHO CORRE HOJE (2004), VÁCUO (2005), NÃO ME DEIXE MENTIR (2005), ANTÍGONA – REDUZIDA E AMPLIADA (2006) e DELICADAS EMBALAGENS (2008).
Desde 2005 a companhia realiza também, anualmente, a mostra CENAS BREVES em parceria com a Caixa Cultural. O objetivo da mostra é divulgar e fortalecer o trabalhos dos grupos que desenvolvem uma pesquisa continuada.
A dramaturgia e a direção artística da Ciasenhas é de Sueli Araujo e a produtora responsável é a Márcia Moraes. Maiores informações sobre a companhia no site: http://www.ciasenhas.art.br/
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
TEATRO DE BREQUE: A obra de Caio Fernando Abreu é o ponto de partida para a construção de CHICLETE & SOM
O texto abaixo fala um pouco sobre o nosso encontro e o nosso contato mais profundo com a obra de Caio.
Certa vez falávamos sobre a vontade de que o elemento do contraste pudesse estar presente como um possível fio condutor na criação de algumas das cenas do espetáculo. Começamos a desenvolver algumas possibilidades de criação cênica, contaminados pelas referências selecionadas na obra de Caio Fernando Abreu. Percebemos então, que a própria literatura produzida pelo escritor era um específico exemplo do contraste. Confesso que, ao mesmo tempo em que Caio escreveu textos profundamente ricos e ímpares, por outro lado, ele também escreveu alguns textos que consideramos como menos importantes e por isso não entraram na lista dos preferidos. Entre cartas, contos, crônicas, novelas, poesias, dramaturgias e romances pesquisamos muito da importante obra produzida nas décadas de 70, 80 e 90 pelo escritor.
Caio lutou muito para que a sua obra fosse reconhecida.
O escritor foi profundamente influenciado pela obra de Clarice Lispector, escritora que ele admirava muito e que chegou a conhecer e a se relacionar em vida.
De todo o material pesquisado, selecionamos contos, cartas, fragmentos, diálogos e citações para servir de roteiro na dramaturgia de CHICLETE & SOM. Além da obra deixada pelo autor, nos debruçamos também sobre dissertações e teses escritas por pesquisadores que se dedicaram ao estudo de Caio.
No processo de criação, outros artistas são responsáveis pelo desenvolvimento dos demais signos do espetáculo. Maureem Miranda assinará os figurinos, Fábio Allon as interferências em vídeo, Adriana Madeira o cenário e Nadia Naira a luz. No treinamento físico dos atores temos a preparadora corporal Mariana Gomes e o treinamento vocal de Márcia Kaiser. A programação visual está a cargo do também designer Pablito Kucarz.
Antes da estréia publicarei aqui novas informações sobre o andamento de CHICLETE & SOM, contando também como estamos conseguindo nos reinventar a partir do mergulho no universo de Caio Fernando Abreu, sua produção biográfica, ficcional e o quanto dele está em nós. E, como o próprio Caio nos ensinou, "que seja doce! "
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
OBRAGEM EM DOSE DUPLA
O espetáculo para crianças MMM – A MONTANHA DO MEIO DO MUNDO foi selecionado para o 13º. Fenatib (Festival nacional de Teatro Infantil) e fará três apresentações na cidade de Blumenau/ SC. A data de estréia é no dia 12 de Setembro.
MMM teve sua pré-estréia no dia 03 de julho de 2009 no teatro da Caixa em Curitiba e provavelmente ainda voltará em cartaz nos palcos da cidade até o final de 2009. Trata-se de um espetáculo composto por situações da vida de uma menina chamada MMM, uma aventura repleta de descobertas acompanhada por seus amigos MÓ, MI e MU. Juntos, eles encontram no símbolo da montanha uma maneira de vencer os obstáculos. Basicamente, quase todo o roteiro é construído por ações físicas e pouquíssimo texto. Uma narrativa onde a dramaturgia ganha maior expressão a partir da combinação de animações 2D e seqüências coreográficas dos quatro atores que construíram personagens inspirados na linguagem do universo infantil e nas obras do artista Fernando Botero.
Como ator pude acompanhar todo o processo criativo do espetáculo e, além de indicar, posso também dizer que o espetáculo é uma deliciosa aventura recheada de pura poesia visual e sonora.
A animação da abertura do espetáculo pode ser vista no endereço http://www.youtube.com/watch?v=0EgepccEDMs
O espetáculo ficará em cartaz até o dia 18 de Outubro com sessões de quinta à sábado às 21h e aos domingos às 19h. Como fã e seguidor da Obragem desde 2004, aguardo ansioso pela estréia e chamo a atenção para todos que também gostam de teatro contemporâneo e apreciam grupos que desenvolvem uma pesquisa séria de linguagem cênica.
A gente se encontra lá.
A EFÊMERA ARTE INDOCUMENTÁVEL *
Fico pensando no sentido efêmero de um espetáculo, na sua duração enquanto obra de arte e de qual o melhor registro que dele fazemos para documentar a sua existência. Ao contrário da literatura que é eternizada nos livros e que estará disponível enquanto durar suas edições, de um filme que pode ser exibido milhares de vezes ou de um objeto, escultura ou pintura, que poderá ser visto nas inúmeras galerias e museus, um espetáculo é sempre passageiro e por mais que filmemos, fotografemos ou relatemos todo o seu processo de criação e de construção, nenhuma dessas linguagens dá conta de traduzir o que realmente foi o evento teatral, pois, essencialmente o teatro só existe no aqui e agora, ou seja, enquanto dura um espetáculo.
Uma filmagem não traduz uma pausa dramática, por exemplo, não relata o volume e a atmosfera criados pela luz, não diz quase nada a respeito do som das palavras. Por isso, prefiro a fotografia que, apesar de estática e de captar apenas um instante da cena, a meu ver, reflete mais o tempo e o espaço teatral do que o vídeo.
É verdade também que muitas vezes uma fotografia pode pintar uma cena melhor ou pior do que ela foi - tudo depende da técnica e do olhar treinado do fotógrafo. Por sua vez, os melhores fotógrafos são aqueles já acostumados com o fazer teatral, porque são íntimos do tempo e do espaço da cena, são acostumados com o efeito da luz, com o corpo do ator.
Como artistas, sabemos também que nenhuma apresentação é igual à outra e que sempre há a melhor dentro de uma temporada. Essa só é válida para quem esteve presente nessa sessão. Pensando nisso, é uma pena que a emoção e a vibração sentidas no corpo do espectador ao assistir um espetáculo sejam perecíveis e, por mais duradora que seja nossa memória, a exteriorização dessa emoção também não nos vale de um arquivo.
Ainda assim, vale a pena tanto esforço e paixão. Ainda assim, vale a pena todos os dias e noites de preparação e construção de um espetáculo. Afinal, qual registro documental poderia ser mais significativo que o espaço temporal correspondente entre o terceiro sinal e os aplausos do público?
* Texto especialmente escrito para a revista Luz & Cena - Ano XI - julho de 2009 - No. 120
quarta-feira, 29 de julho de 2009
NERVO CRANIANO ZERO: Depois da estreia no Teatro da Caixa, a Companhia Vigor Mortis apresenta no ACT uma nova temporada do espetáculo.
Estou aqui para contar um pouco deste processo e também para divulgar a nova temporada que acontece entre os dias 06/08 e 30/08 no ACT – Atelier de Criação Teatral em Curitiba. Se você quiser realmente ver um espetáculo de qualidade, após ler este texto, não perca a oportunidade e reserve com antecedência seu ingresso para a próxima temporada. Depois disso, tenho a certeza de que vão concordar comigo e saber que eu não estou exagerando.
MINHA PRIMEIRA DIVERSÃO
A primeira vez que li o texto de NERVO CRANIANO ZERO, escrito pelo também diretor da Vigor Mortis Paulo Biscaia, foi a minha primeira grande diversão no processo. O texto é ótimo, uma bela história de ficção que se desenrola sobre dados científicos e nos apresenta personagens tão bem construídas e tão bem localizadas num tempo e lugar determinados a nos prender por todo momento dentro da trama. Pode virar livro, só basta o Paulo querer.
Na sinopse, divulgada no site da companhia, lemos; “A Dra. Barbara Bava perdeu sua licença médica após um acidente durante pesquisas com sua nova criação. O chip Melpomene. Um indutor de dopamina instalado no nervo craniano zero. O objetivo do chip era estimular a criatividade em seus pacientes: No entanto, Bava é surpreendida por uma reação inesperada do chip: seus usuários não mais tinham circulação de sangue, nem fome ou sono. Ainda assim, o chip era capaz de regular todas as funções mantendo o corpo ativo e com uma capacidade infinita de criatividade sempre que a dopamina é estimulada. Bruna Bloch é uma escritora de sucesso que, temendo não ter mais inspiração para escrever novos best sellers, contrata a Dra. Bava para continuar suas experiências e posteriormente instalar o chip em Bruna. Antes de fazer isso porém, é preciso ter certeza do funcionamento do chip em seres humanos. Bruna então publica um anúncio em jornal contratando uma cobaia para o experimento. A única a responder é Cristi Costa, uma simplória garota do interior com sonhos de ser uma grande cantora. Seus sonhos são quebrados após ser nacionalmente humilhada em um programa de calouros na TV. Não há outra saída para Cristi senão aceitar ser uma cobaia com o chip Melpomone em seu Nervo Craniano Zero. A peça marca a volta da Vigor Mortis ao estilo tradicional do Grand Guignol, mas com uma roupagem que rende homenagem a filmes de David Cronenberg e a obras de terror italianas da década de 70 e 80 como os filmes de Dario Argento e Lucio Fulci.”
SOBRE O PROCESSO E A EQUIPE
Criar a partir do texto que já estava escrito, a partir das especificações do Paulo Biscaia sobre a estética do espetáculo, poder contribuir para o desenvolvimento do processo e me adequar aos demais profissionais que compunham a equipe técnica foi um grande e afinado prazer.
Paulo Biscaia sabe muito bem o que quer e também sabe preparar sua equipe. Ele trabalha rápido. Sabe linkar uma área na outra e faz o processo andar. Apesar de toda essa habilidade em comandar, ele sabe também atribuir uma grande margem para os artistas que compõem a equipe criar. Foi assim comigo, com o iluminador Wagner Correa, com o elenco e demais artistas da equipe. Sempre me senti muito presente no processo. A Vigor Mortis é uma companhia que sabe trabalhar em equipe, todos respeitam muito o trabalho de cada profissional envolvido. A produção foi, o tempo todo, acompanhada e coordenada pela produtora Tânia Araujo, uma profissional prática, competente e, sobretudo, muito querida.
O desenvolvimento do cenário foi também acompanhado pelo iluminador Wagner Corrêa. A luz de Wagner valoriza a cenografia, pontua e desenha os diferentes momentos da trama. É também ponto determinante para a resolução plástica do espetáculo.
Os vídeos e projeções, criados e desenvolvidos pelo próprio Biscaia, continuam sendo alguns dos elementos mais brilhantes da linguagem cênica proposta pela Vigor. Como já disse certa vez aqui no blog, Paulo Biscaia faz isso melhor do que ninguém. As projeções dão um show e costuram brilhantemente as cenas. Como sempre, não estão gratuitamente no espetáculo, são também elementos de desenvolvimento da dramaturgia. Tudo muito sofisticado e preciso.
As personagens ganham forma e conteúdo através das atrizes Michelle Pucci (Bruna Bloch), Rafaela Marques (Cristi Costa) e Simone Martins (Barbara Bava). São bem construídas e estão totalmente presentes na cena. Nas projeções, outros atores contracenam com o elenco principal: Leandro Daniel Colombo, Karla Fragoso, Wagner Corrêa e Carolina Fauquemont.
NOVA TEMPORADA
Quem não conseguiu ver as apresentações no Teatro da Caixa, tem agora uma nova oportunidade. O espetáculo entra em cartaz no próximo dia 06 de Agosto no ACT. Para o novo espaço, algumas reformulações serão necessárias. Tanto o cenário quanto a luz ganharão novos cuidados porque o espetáculo dialogará de forma diferente com o novo espaço cênico. A platéia também assumirá um lugar mais próximo da cena, o que, com certeza, propiciará um novo olhar sobre o espetáculo. É também uma boa oportunidade de rever para quem já viu. No mês de Setembro, a Vigor Mortis estará no Rio de Janeiro fazendo também uma curta temporada de apresentações do espetáculo no Teatro da Caixa.
SERVIÇO: De 06 a 30 de Agosto no ACT – Atelier de Criação Teatral (Rua Paulo Graeser Sobrinho 305 - Curitiba). Quinta a sábado as 21h e domingos as 19h. Reserve seu ingresso antecipado pelo e-mail: nc0@vigormortis.com.br
Veja um trailer do espetáculo e maiores informações em: http://www.vigormortis.com.br/
FICHA TÉCNICA:
Texto e Direção: Paulo Biscaia Filho – Diretor assistente: Leandro Daniel Colombo – Elenco: Michelle Pucci, Rafaela Marques e Simone Martins – Coordenação de produção: Tânia Araujo – Sonoplastia e fotos: Marco Novack – Cenografia: Paulo Vinícius – Iluminação: Wagner Corrêa – Figurino: Karla Fragoso e André Azevedo – Maquiagem: Marcelino de Miranda – Adereços e FX: Thiago Di Giovanni – Confecção de peruca: Sergio Carminatti – Cenotécnicos: Sergio Richter, Anderson Quinsler, Fábio Dombrosk e Gentil Paris – Costureira: Rose Matias
segunda-feira, 27 de julho de 2009
GOL A GOL: Equipe do longa metragem filmado em Curitiba lança blog para divulgar o processo de filmagens
Estamos nos últimos dias de filmagens do longa metragem Gol a Gol, uma produção da Processo Filmes em parceria com a Evolução Filmes. O longa tem roteiro de Adriano Esturilho e é inspirado no livro [Cancha 2] - Cantigas para perverter juvenis. A direção é também do Esturilho em parceria com Fábio Allon. As filmagens terminam no próximo dia 30 de julho e o filme só será finalizado no primeiro semestre de 2010.
Sou o responsável pelo figurino do filme e conto com a preciosa assistência de Andrea Tristão.
Para divulgar o todo o processo de filmagens a equipe de produção e direção criou um blog fotográfico onde, além das imagens captadas pela lente do still de Rosano Mauro, integrantes da equipe também relatam experiências, acontecimentos e alguns depoimentos sobre a produção. Vale a pena fazer uma visita ao blog e conferir principalmente as belas imagens que são postadas diariamente. O endereço do blog é: http://golagolfilme.blogspot.com/
SOBRE A TRAMA
Num futuro imaginário, PEDRO vive solitário e estafado com seu trabalho na SEGURADORA SOL[AR]IS – que vende apólices por danos ambientais. Em saltos para um passado nostálgico e para um futuro pouco promissor do ponto de vista sócio-ambiental, onde fatos históricos se misturam a fantasias, o personagem revisita memórias e desejos reprimidos de sua infância e juventude, num clima onírico marcado por simbolismos. Num tom de fábula, PEDRO acerta as contas com o passado numa partida de GOL A GOL contra si mesmo ainda criança. Atormentado, mata a VELHA TIA que vendia doces na escola e que, para sua desgraça, também é avó de CINDY - seu amor de infância - com quem não teve coragem de seguir.
FICHA TÉCNICA:
Produtora: PROCESSO FILMES e EVOLUÇÃO FILMES – Produtora associada: GRAFO AUDIVISUAL – Direção: Adriano Esturilho e Fábio Allon – Assistência de direção: Bruno de Oliveira e Diego Florentino – Produção executiva: Diego Stavitzki e Aly Mutitiba – Direção de produção: Antonio Junior e Marisa Merlo – Coordenação de produção: Andrew Knoll – Direção de arte: Guilherme Santana – Assistência de arte: Felipe Potenza e Juliana Yumi Moriya - Cenotécnico: Tio Abel – Figurinista: Paulo Vinícius – Assistência de figurino: Andrea Tristão – Maquagem e cabelos: Marcelino de Miranda – Direção de fotografia: Xanxe – Asistência de fotografia: Eli Dalsin e Andre Santana – Eletrecista: Pirola – Maquinista: Coqueiro – Assistência de elétrica: Maikon – Motorista: Rafaela – Still: Rosano Mauro – Storyboard: Mauricio Marques – Making Of: Evandro Scorsin – Técnico de son: Vadeco – Montagem: Henrique Faria – Designer: Pablito Kucarz – Elenco: Giuly Biancato, Luciana Dal Ri, Tiago Luz, Pedro Albigo, Mauro Znatta, Leandro Daniel Colombo, Thereza Postui, Andrew Knoll, Juliana Biancato, Luiz Bertazzo, entre outros.
domingo, 5 de julho de 2009
TEATRO UNIVERSITÁRIO: Espetáculo anual da FAP torna-se evento obrigatório na agenda do público curitibano.
Por um lado, isoladamente do histórico de montagens da Faculdade, Elizaveta Bam vale a pena porque é uma aventura teatral de qualidade, onde a platéia insere-se e acomoda-se livremente por todo o espaço cênico ocupado pelo espetáculo. De outro lado, analisando os trabalhos dos anos anteriores na Faculdade, descobrimos que a montagem do quarto ano, dirigida pelo professor de interpretação, tem se tornado um evento obrigatório para o público realmente interessado por teatro em Curitiba. Quem ainda não viu está perdendo muito.
ELIZAVETA BAM
Principal obra dramática de Daniil Charms e do Grupo Oberiu, foi escrita em 1927. Tida hoje como precursora do teatro do absurdo e da obra de Eugene Ionesco, a peça gira em torno de uma mulher, Elizaveta, acusada de ter assassinado o homem que está vindo prendê-la. Para tanto, lança mão de uma estrutura inusitada: cada uma das dezenove cenas se desenvolve em um gênero dramático distinto. Daniil Charms (Daniil Ivanovich Yuvachov), poeta, contista e dramaturgo russo, foi o nome central do Grupo Oberiu, movimento de vanguarda artística da antiga União soviética. Perseguido ferozmente pelo regime stalinista, morreu de fome em uma prisão, em 1942. Sua obra foi salva do regime por amigos e veio a ser conhecida apenas nos anos sessenta.
O ESPETÁCULO
Reunir um elenco de 22 alunos/atores com desejos e repertórios diferentes, inseri-los no processo de criação e administrar a produção artística deste espetáculo, não é uma missão muito simples. Marcio Mattana faz isso melhor do que ninguém. Muito sensível e criativo, o diretor paranaense não mede esforços quando está à frente de um processo tão dispendioso quanto este.
A encenação, muito diferente da apresenta no ano anterior, ocupa todos os lugares do teatro/barracão Cleon Jaques em Curitiba. Tudo vira espaço cênico ou moldura para as cenas. Os atores interpretam, cantam e dançam durante a sequência de cenas surpreendendo a platéia de até 60 pessoas que, ao mesmo tempo em que caminham livremente pelo espaço, tentam descobrir qual o melhor ângulo para se posicionarem diante das cenas.
Para alguém como eu, que já acompanhou um processo de criação e montagem do professor Marcio Mattana, sabe que competência, criatividade e comprometimento com a educação são ingredientes básicos na receita infalível do diretor. Antes de escolher o projeto, ele sempre dedica-se ao conhecimento da turma que irá trabalhar. Márcio, ao lado de outros grandes nomes do elenco de professores da FAP, é um dos principais responsáveis pelo crescimento qualitativo do teatro universitário curitibano e da produção Fapiana.
Parabéns a Faculdade de Artes do Paraná. Parabéns ao querido Marcio e a todos os alunos envolvidos em Elizaveta Bam.
Para quem ainda não viu, o espetáculo terá mais duas apresentações nos dias 08/07 (quarta) e 09/07 (quinta) no teatro Cleon Jaques – Parque São Lourenço em Curitiba. As sessões são sempre as 21:00h. Entrada franca para a lotação máxima de 60 pessoas.
terça-feira, 23 de junho de 2009
O SENTIDO DA CRÍTICA
Este texto tem como finalidade apresentar uma reflexão sobre o lugar da critica literária no cenário atual.
A critica é produto de uma visão particular. Isso é indiscutível. O critico é o grande responsável pelas informações alí contidas, uma vez que tais considerações foram resultantes das referências e interpretações daquele que a escreveu.
O conteúdo da critica foi contaminado pelo olhar do seu autor e, não nos enganemos, outra fórmula não nos seria possível, pois a imparcialidade e a neutralidade são características que podem pertencer a qualquer outro gênero literário que não à critica. O próprio termo que batiza esse gênero já nos diz que o texto virá acompanhado das impressões pessoas daquele que o publicou.
Uma grande questão que tange o papel do critico é, possivelmente, referida à questão ética. Ser ético implica, nesse caso, em ser sincero, pois o leitor exigirá e reconhecerá isso. Por outro lado, ser ético também significa reconhecer que o seu ponto de vista não é, nem nunca será, uma verdade absoluta. É apenas o seu ponto de vista, mas que poderá influenciar o sucesso ou o fracasso do objeto criticado. Em última instância, ser ético também é se utilizar de uma linguagem cordial e bem focada ou colocada.
O fato de levar o título de critico não confere ao jornalista nenhum critério de valor. Existem ótimos críticos enquanto também existem péssimos críticos, cabe ao leitor atribuir e efetivar esse critério.
O LEITOR COMO MEDIADOR DA RELAÇÃO CRÍTICA X OBRA DE ARTE
Se pudéssemos atribuir a alguém a função de dar um sentido realmente concreto às críticas, esse alguém seria apenas o leitor. Potencialmente o leitor, como possível espectador, leitor ou observador da obra de arte é quem realmente determinará o sentido da crítica. Cabe a ele o papel de concordar ou discordar da argumentação do crítico. Ele, por ter também suas impressões pessoais, é quem determinará a qualidade do texto publicado.
Em contrapartida, ainda não temos no Brasil uma prática efetiva de discussão entre público e críticos. Muitos centros ainda não deram a importância necessária para o papel da crítica como formadora de opiniões entre espectadores e artistas. Muitos críticos ainda não são especializados e muitos dos espectadores nunca leram sequer uma única crítica artística na vida.
Apesar da constituição brasileira, no artigo V, garantir ao artista o seu direito de resposta, no final das apurações, é somente o leitor/espectador que funcionará como o juiz dessa relação onde, por um lado trabalhos são extremamente elogiados e valorizados e, por outro, muitas obras são prejudicadas pelo inconseqüente poder atribuído a críticos menores. Como artista, publico e, numa outra instância, crítico, devo afirmar que, independente das polêmicas comumente instauradas, a produção crítica depende da existência dos artistas, suas obras e a divulgação, assim como a valorização da produção cultural necessita também da existências dos críticos que retornam ao artista e que efetivam suas interpretações por meio das suas publicações. Uma relação bipolar. De ida e volta.
terça-feira, 2 de junho de 2009
REGISTROS POÉTICOS: A fotografia de espetáculos
O que é captado pode ser um instante poético, um olhar peculiar do fotógrafo sobre a cena. Quando aberto, nos conta muito sobre a atmosfera do espetáculo. Quando fechado pode nos revelar muito sobre a interpretação do ator, sua intenção secreta, seu mistério e sua sedução.
Além da função documental, a fotografia é também uma obra de arte independente. Ao mesmo tempo em que ela depende do objeto fotografado para existir, do fenômeno, depois de revelada e exibida, ela se torna algo além da cena e do ator. É uma outra estética, fruto da técnica e arte do fotógrafo. Dessa maneira, cada profissional tem suas próprias ferramentas que também independem da técnica. É pura poesia visual.
Nesse sentido uma fotografia pode dizer muito mais sobre um espetáculo do que ele realmente foi, pode inclusive valorizá-lo ou o contrário, pode limitar o seu entendimento pelo observador. De qualquer forma, nós, operários dessa arte efêmera que é o teatro, temos muito a agradecer o talento e a dedicação desses maravilhosos artistas que vem se dedicando à arte de fotografar espetáculos. Graças a eles, podemos guardar para sempre, mesmo que na memória, o prazer e a emoção que vivenciamos durante a cena, e que somente quem esteve presente pode compartilhar.
Convidei alguns dos melhores profissionais que tem desenvolvido um maravilhoso trabalho de documentação e poesia sobre as companhias e os artistas de Curitiba. A cada um foi dado o direito de depor sobre o que bem entendessem da relação da fotografia com o teatro. São
Luz, tonalidade de cenário e figurino, movimentação cênica... diversas podem ser as adversidades que impedem a liberdade completa de escolhas fotográficas. O fotógrafo precisa se adequar. Para mim, a decisão do clique é o ponto de maior liberdade.
A compreensão e o grau de envolvimento com o que está diante da lente é o que determina a escolha do instante certo para clicar. Compreender o conceito e o clima do espetáculo é de fundamental importância. Do ponto de vista do fotógrafo, as cenas do espetáculo estão em constante mudança plástica. Tudo se organiza, se desorganiza e se reorganiza, de forma diferente e cíclica.
Bresson chamou de instante decisivo o momento exato em que todos os elementos se alinham perfeitamente para dar significado fotográfico à situação. A exata fração de segundo, o ápice do movimento corporal do ator, a intenção que não está explícita, são alguns dos elementos que fazem diferença e tornam esse tipo de fotografia autoral. Outros aspectos, a serem considerados, são a escolha e a composição do quadro. A escolha do enquadramento e da composição da imagem acontece de acordo com as referências e subjetividades de cada um. Como trabalho com fotografia e cinema há 13 anos, a influência da estética audiovisual em minhas fotos é clara: procuro mostrar a dinâmica de movimento da peça. Meu objetivo não é registrar cenas paradas, o movimento de todos os elementos cênicos é importante. O auge do movimento do ator é o instante que busco. Assim, consigo registrar o movimento por meio de uma representação estática."
Bem, nunca tive dúvida que iria me dedicar à fotografia de espetáculo paralelamente à carreira de ator. Sempre apreciei o trabalho de Jack Pires, o cara que fez a maioria
daquelas fotos que estão expostas lá no Teatro Paiol, e de Orlando Kissner, na época trabalhando no jornal O Estado do Paraná e que se tornou um grande amigo e mentor.
Pois foi Orlando, profissional de primeira, que me sanou muitas dúvidas técnicas e que chamei para me acompanhar à loja quando consegui juntar uma graninha para a primeira câmera.
Nessa época, também, manjava um pouco de laboratório de PB, pois meu irmão mais velho, entusiasta da fotografia, já tinha me ensinado alguma coisa sobre o assunto.
Pois bem, naquele longínquo 1978, eu começava a ensaiar um espetáculo chamado URUBU, texto do Manoel Carlos Karam e com um elenco supimpa.
Foi aí mesmo, então, que comecei a dar os primeiros cliques. Muitos filmes depois, muitos espetáculos depois, eis que, um dia, sem mais nem menos, Dedé Urban, que trabalhava no MIS,
viajou com nosso grupo teatral a Jacarezinho (se não estou enganado!) e viu algumas imagens que eu carregava pra cima e pra baixo. Perguntou-me, assim, de chofre, se eu nunca tinha pensado
em expor o meu trabalho... Isso foi em 1986. Muitas exposições se seguiram a essa do Museu da Imagem e do Som (Livrarias Curitiba, Casa Romário Martins, Solar do Barão, Goethe-Institut, etc.),
além de participações em alguns livros de memórias teatrais (AdemarGuerra, Paulo Autran, Sutil Cia de Teatro).
Embora muita gente me cobre um livro só meu e coisa e tal, acho que já não tenho muito saco pra isso. Prefiro que minhas fotos estejam rolando pela internet (orkut e facebook).
Não sei se dá pra entender isso, mas é uma espécie de agrado que faço a todos aqueles que, de uma forma ou de outra, acabaram fazendo parte da minha carreira e, por extensão, da minha vida!!! Evoé!!!!!!"
(A vida de Galileu - Espetáculo de Paulo Autran - Foto de Chico Nogueira)
Elenize Dezgeniski
"A câmera fotográfica é uma máquina de congelar instantes, às vezes instantes com movimentos. Enquanto miro pelo visor sinto também o meu coração bater no ritmo do movimento do artista, no meu ritmo, atenta sempre às coisas do mundo “real” do qual fazem parte os bastidores; o som, a luz e as disciplinas.
Mas não posso acreditar que uma fotografia seja somente congelamento, ela é muito mais que isso, é “Start” para novas possibilidades da arte que a ela se apresenta.
Sinto meu coração bater enquanto aguardo o momento que estou buscando. Prendo minha respiração, apoio bem os cotovelos nos braços da poltrona e disparo, e às vezes o disparo volta “brilhando” no visor da câmera. Faço com carinho, com inspiração. Acho que o estudo mais aprofundado da fotografia no âmbito da arte tem influenciado o meu trabalho, não posso esquecer de citar aqui a querida Milla Jung que me deu aulas incríveis no ano passado e Luana Navarro, que sem palavras, problematiza o meu trabalho sempre que parece haver nenhum e pessoas assim são fundamentais em nossas vidas. Também sou atriz e faço parte da Obragem teatro e Cia., lugar onde costumamos refletir bastante sobre o teatro no hoje. Minha primeira formação artística foi na música, minha segunda e paralela na fotografia, sou filha de fotógrafo e meu pai também me ensinou muitas coisas.
Hoje vivo e trabalho neste lugar do “dar a ver” essa coisa a qual às vezes chamamos de arte."
(Espetáculo Um dia fora do Tempo da Cia G2 de Dança - foto de Elenize Dezgeniski)
“Eu entro no espetáculo como seu fizesse parte dele , me imagino ali e tento expressar minha emoção na imagem.
Eu gosto da expressão, do close-up, do bastidor e do movimento. Eu gosto de pessoas na minha lente.”
(Melan&Colia, espetáculo da Emcompanhiade2 - foto de Marco Novack)
É... é um trabalho que não depende só do fotógrafo e de sua criatividade. Procuro sempre saber o mínimo sobre cada espetáculo, se possível assistir a uma apresentação antes de ir fotografar.... pra usar uma linguagem que ajude o clima criado pelo espetáculo.. que passa a usar o suporte da fotografia que dispõe de outras ferramentas para mostrar uma imagem e.. por isso não me preocupo muito em querer contar a história.
Acredito nessa intervenção ao documentar as atitudes e linguagem das produções, e cada fotógrafo tem uma forma de recortar o espetáculo, de sentir as vibrações da cena.
Presto muita atenção nos detalhes e quando é uma montagem muito ágil, tenho que ser sagaz pra conseguir o click que contraia expressão do ator, composição do quadro, tempo de exposição e abertura correta para a iluminação ditada na cena(ufa!). Cada espetáculo tem um viés que me leva a pensar e enquadrar de uma forma, o conteúdo estético da cena é de extrema importância, suas cores e elementos (me delicio com muitos objetos e muita mise-en-scène) enaltecem o meu quadro.
Outro fator que colabora para o resultado final é o trabalho de “pós” com as imagens, “cropo” umas fotos, corrijo temperatura de cor, também uns ajustes de pele... para conseguir o melhor resultado visual de acordo com cada espetáculo. A fotografia digital dinamiza o uso dessas ferramentas.
Consigo encontrar semelhanças de linguagem estética e conceitual nos meus trabalhos, descobertas pelas possibilidades que cada produção oferece."
(Espetáculo Instantâneos de Tempo em Tempo da Cia provisória - foto de Rosano Mauro)